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quarta-feira, 14 de abril de 2010

Tempos Extraordinários requerem Convenções Extraordinárias





Há pouco tempo atrás um grupo de militantes do Bloco de Esquerda lançou uma petição para convocar uma Convenção Extraordinária do movimento, sob o pretexto de reabrir a discussão acerca da escolha do candidato presidencial que o Bloco deve apoiar. 
Quando vieram falar comigo senti um profundo alívio... ainda há um mínimo de esperança... Assinei a petição e mesmo que a dita convenção não se realize espero que isto agite as águas.

Quem segue este blog não há de se surpreender. Logo após as autárquicas escrevi sobre a necessidade de uma profunda discussão. Recentemente referi-me àquilo que considero a desorientação estratégica em que vive o bloco. Entretanto a Direcção foge de qualquer discussão mais profunda como Maomé do toucinho, isto com o receio que a coesão do Bloco se estilhá-se assim que se discutam as grandes opções a tomar pelo Bloco de uma forma consequente (ou seja, que das discussões de facto se retirem decisões práticas a implementar no terreno) ou assuntos que vão para lá da banalidade. O problema é que a realidade é impiedosa e adiar as discussões significa apenas que serão tidas sob muito maior pressão e num ambiente bem mais agreste no futuro...

Mas abaixo seguem uma explicação mais explícita do porquê acho tão importante a realização desta Convenção Extraordinária e porque apelo a tod@s @s militantes do BE a assinarem a petição.

Mas antes, um pequeno interlúdio músical, estes SSSC são muita bons...


«O marxismo busca o seu caminho através das brechas da crise desta sociedade, mas parte de uma posição muito minoritária. Rejeita a estratégia das alianças antifascistas para defender uma democracia novembrista, síndroma da Bela Adormecida que continua a imperar em alguma esquerda portuguesa e que paralisa o seu pensamento estratégico»
Herança Tricolor, Francisco Louça

É exactamente porque o Bloco começa a demonstrar fortes sintomas do “síndroma da Bela Adormecida” que uma convenção neste momento faz todo o sentido.
Quando o Bloco surgiu, à mais de dez anos, tinha um grande objectivo a atingir, refazer o mapa da esquerda portuguesa. 
Assumia-se como um misto de movimento/partido que se batia por várias causas, por mais e melhores direitos, contra as mais variadas injustiças. Seria como uma espécie de ponto de encontro para tod@s que se quisessem juntar por esses combates. Mas aqui o plural é importante, é que são combates, não é um combate, ou seja, nunca o Bloco quis apresentar uma espécie de esboço do que seria um regime alternativo à dita “Democracia Novembrista” que cada vez mais se afunda no pântano… A sua escolha foi ir coleccionando propostas e combates singulares.
O tipo de organização e de militância que o Bloco tem (ou não) hoje em dia também foi fruto das escolhas que foram sendo feitas. Dizem que o Bloco tem cerca de 8000 militantes, mas em alguma iniciativa, mesmo comícios, conseguiu o Bloco alguma vez ultrapassar as 3000 pessoas?

O objectivo de refazer o mapa da Esquerda Portuguesa já foi em grande medida atingido, a progredir e não definhar o Bloco precisa de definir novos horizontes. 
Ter apenas uma colecção de causas, algumas propostas e uns quantos discursos irados "do contra" é pouco para apresentar ao Povo, é insuficiente e, de facto, não responde aos problemas do país. É preciso mais. É necessária uma nova República, este regime e a classe dirigente que nos governa e se governa (sobretudo) têm de ser removidos. Isso implica ter uma proposta alternativa, qual é a que temos?
A crise veio para ficar e com ela as tensões sociais não podem se não aumentar, os tempos que se avizinham serão duros. Sem uma organização com o mínimo de enraizamento popular e estrutura o Bloco será facilmente cooptado ou aniquilado.

Em 2006, o timming era ideal, a Direcção do Bloco lançou o que se pretendia ser uma discussão de fundo em que todo o movimento/partido se envolvesse. O que estava em debate era exactamente o “Rumo Estratégico” do Bloco. Era uma fase relativamente calma da vida política nacional e sem eleições à vista. Mas pouco depois do começo promissor esse processo foi rapidamente congelado… Logo após as eleições autárquicas de 2009 algumas vozes dentro do Bloco sugeriram que era tempo de se fazer um bom balanço e se discutirem algumas coisas… Os resultados obtidos nas autárquicas e o facto do CDS-PP ter ficado acima do BE nas legislativas deveriam ter sido sinais de aviso, mas pelos vistos não… 
Parece-me óbvio que quanto mais se adiar a discussão sobre os Rumos Estratégicos que deve o Bloco tomar, piores serão as consequências para o BE e para o mais vasto movimento popular. 
É que não me parece fazer sentido algum apoiar fulano ou sicrano sem antes percebermos bem o que queremos para o País. Vejo a candidatura e a eleição Presidencial como parte de um processo de luta mais vasto, é sobre esse pano de fundo que se deveria tomar a decisão de qual o candidato a apoiar. 
Tenho dúvidas que Alegre seja a melhor escolha se o que desejamos é construir um movimento e um programa (que necessariamente terão de ir para lá do Bloco) capaz de derrubar o regime e substituir a “democracia novembrista” por uma nova República que responda aos problemas da Crise de forma Democrática. A certeza que tenho é que os actuais equilíbrios sociais e políticos são cada vez mais precários e a parte de Abril que ainda há na tal “democracia novembrista” será varrida se não construirmos nós a tal nova República. 
Tenho a certeza também que, neste momento, há uma falta imensa de criatividade e imaginação para encontrar novas soluções e caminhos. É que é exactamente quando as actuais instituições de poder estão mais desacreditadas perante as massas populares, que mais o Bloco, no seu funcionamento e atitude, está mais “institucionalizado”. 
Em cerca de 4 a 5 milhões de Portugueses elegíveis só quem está muito fossilizado é que acha que o BE só tem duas escolhas a fazer...

Por tudo isto considero uma decisão acertada e corajosa lançar este pedido de uma Convenção Extraordinária, não só faz sentido, como é uma discussão adiada à muito e mais do que necessária.

Francisco Furtado, aderente nº 391

PS – Não resisto a um pequeno comentário final, algumas considerações que ouvi acerca desta petição, nomeadamente a sua proveniência, só me fazem lembrar a imagem de um indivíduo super preocupado em afastar uma mosca que zurze à sua volta e que não vê a manada de elefantes que está a vir contra si a toda a velocidade…

PS2- Por falar em "elefantes", já viram estes?


São um caso extremado de "elefantes", a Magyar Gárda, grupo muito semelhante às SA, o partido que apoiam obteve 16,71% dos votos nas eleições para o Parlamento Húngaro...

quinta-feira, 11 de março de 2010

Grécia e Europa - ecos do passado, tempestades futuras!

Há cerca de um ano a juventude Grega ergueu-se em revolta, contra tudo? contra nada? contra o estado a que isto chegou... passado um ano não há dúvidas que, TINHAM TODA A RAZÃO! Podem não se ter sabido exprimir da melhor maneira, mas estavam cobertos de razão ao expressarem a sua revolta pelas ruas de Atenas e por toda a Grécia, basicamente opondo-se a um sistema que não lhes dá perspectivas de um futuro minimamente digno.
Houve quem lhes chama-se Vândalos, se o são, o que chamar aos governantes que enganaram o mundo e o seu povo mascarando as contas públicas? Se o são, que chamar às elites dirigentes Gregas corruptas e em favor do qual se governou nestes últimos anos? Se o são, que chamar aos restantes governos da União Europeia a começar pelos descendentes dos verdadeiros Vândalos, que aplaudem um plano que implica o empobrecimento geral da população Grega, um plano que (tal como aqui!) irá resultar na:
- Diminuição brutal dos recursos disponíveis para o grosso da população, redução drástica do poder de compra e qualidade de vida da generalidade das pessoas;
- Estratificação ainda mais acentuada das nossas sociedades, com uma elite rica e com acesso a bens e serviços de primeira e a restante populaça atirada para uma insegurança e precaridade, não só laboral, mas total (habitação, saúde, alimentação decente, cultura, etc...)!
- Espiral recessiva e de downsizing a vários níveis, mesmo do output industrial... ou seja, pura e simplesmente a procura de vários bens vai se contrair, logo várias indústrias e empresas prestadoras de serviços irão à vida... Dá me ideia que a indústria de massas (fora alguns produtos mais essenciais) vai sofrer um grande recuo, apostando-se cada vez mais em nichos de mercado e produtos especializados para a élite.

Estas últimas conclusões dizem respeito não apenas à Grécia, mas a toda a Europa, porque na própria Germânia existem planos nesse sentido.



O homem que está a levar com gás pimenta nesta manifestação na  Grécia (foi a 5 de Março) tem 88 anos, chama-se  Manolis Glezos, com 19 anos, em 1941, subiu à Acrópole e derrubou a Bandeira Nazi que lá estava... E este homem que foi torturado e preso por ter desafiado a ocupação Alemã, é agora gazeado por combater o "Programa de Estabilidade" apoiado pela Chancelaria Teutónica, passados 60 anos a história não se repete, mas Evoca-se!

Sim porque a Grécia foi invadida e ocupada pelos Nazis de 1941 a 1944...



E não foi uma ocupação qualquer, simplesmente a ocupação Nazi provocou a última grande fome de que há registo no continente Europeu!!!!!!!!!!!!!!!!
Bem, tendo isto em conta ver deputados e membros do governo Alemão sugerirem à Grécia que venda umas ilhas ou a Acrópole para pagar o Déficit é INACREDITÁVEL... e perigoso, com grande potencial para explodir na cara dos arrogantes que proferiram essas palavras... Não será amanhã, mas estas coisas são de tal formas graves e profundas que não se apagam facilmente, sobretudo quando as coisas daqui para diante vão apenas ficar mais complicadas e difíceis... É que lá está, a malta pode não ter consciência completa e ter uma visão bem articulada do que se está a passar, mas afirmações dessas são grãos de tempestade que se vão semeando (pelo menos se houver uma réstia de dignidade no povo Grego... e tenho ideia que sim).

A Europa está, toda ela, numa encruzilhada, o caminho que as classes dominantes querem trilhar (e foi o que sempre fizeram quando tiveram rédea livre para isso) é o do retrocesso civilizacional, sintetizando, pretendem retirar poder económico, político e social:
- às classes intermédias, reduzindo drasticamente o seu contingente e subjugando as classes profissionais com alguma independência, os sectores da Saúde e Justiça são bons exemplos. A Ideia é que se tornem, ainda mais do que hoje, uma espécie de servos de luxo e capatazes da elite, claro que terão direitos especiais e ficarão acima da populaça, mas o objectivo estratégico é através da sua redução e subjugação torná-la numa espécie de força mercenária ao serviço da reacção;
- o empobrecimento, não só financeiro, mas mesmo cultural em sentido lato, das massas populares (por exemplo quais os resultados que terão o desmantelamento da escola pública e do serviço nacional de saúde?), a destruição das suas organizações (a começar pelos sindicatos, que embora não defendam o conjunto total das massas ainda são um bastião directo para importantes sectores e indirecto para o restante) e basicamente o retorno à condição completamente precária prevalecente no início da Revolução Industrial.

Mesmo que não sejam objectivos explícitos, estas serão as consequências das políticas que estão a ser tomadas. Claro, que como referi, isto não tem apenas consequências económicas, as instituições e a forma de fazer política vão se alterar drasticamente. Nestas circunstâncias as Democracias "well fare state" do pós guerra vão ser estilhaçadas...


Para concluir, deixo uma lembrança e uma conclusão acerca da Europa.
Europa é no senso comum de hoje em dia sinónimo de paz (quase pacifismo) e civilização, aliás aquando da Invasão Norte-Americana do Iraque foi um assunto que veio muito à baila face aos belicosos gringos... E ao vermos aquelas imagens familiares de massacres à catanada em África, bombistas suicidas no médio Oriente, das favelas na América Latina ou das horríveis condições de trabalho na Ásia, essa ideia de Europa como espécie de paraíso civilizacional tende a reforçar-se... Mas será mesmo assim? Bem a verdade é que na história da humanidade nenhum outro continente assistiu a tamanhas barbaridades, crimes, guerras, massacres como a Europa, é que os últimos 60 anos são ímpares na História!!! Desde o século III (fim da Pax Romana com o início das invasões bárbaras) até 1945 a Europa esteve em estado de Guerra intermitente, sendo que em todos esses séculos houve pelo menos uma Guerra de extrema ferocidade (sem contar com os outros conflitos menores, ou entre potências menos importantes), alguns, como o XX, até tiveram duas...
Apesar disso, ou também por isso (agora seria uma longa conversa), a Europa foi, de facto, o Continente onde a massa da população conquistou maior poder e retém grandes tradições de luta e auto-confiança. Por isso mesmo, creio que as próximas grandes revoluções terão como palco a Europa. É que as revoluções não acontecem, ou melhor, não são despoletadas, pelo desejo de conquistar melhorias, as revoluções têm sempre como origem a defesa de direitos que os povos tinham como garantidos... As Revoluções dão-se exactamente quando os povos se apercebem que o mínimo que julgavam que teriam garantido é posto em causa, é aí que as grandes massas se põe em movimento... Ora, é isso mesmo que se vai passar de forma cada vez mais nítida e sem grande margem de manobra na Europa. Mas claro, essa não é condição única para uma Revolução, para um motim sim, mas não para uma Revolução... Para uma Revolução, para além da perda flagrante de posições que motive as massas a lutarem pelo que é seu por direito (o que na Europa é bem mais do que em qualquer outro lado) é preciso um projecto Utópico (é mesmo essa a palavra) que sirva de inspiração para construir um mundo novo sobre as ruínas do velho que já não dá as tais mínimas garantias... Em 1789 o projecto utópico não estava já definido, mas um século de difusão dos ideias do Iluminismo havia deixado uma base sólida, em 1917 os escritos de Marx estavam frescos e existiam grandes movimentos socialistas portadores de uma enorme esperança para grandes sectores da sociedade... E agora?

A ver vamos, não nos esqueçamos que nos anos 30 o resultado da crise foi uma guinada geral para a Direita mais dura, para já direi que o referendo realizado na Islândia teve um óptimo resultado e que depois de uma greve geral muito participada no dia 5 de Março, hoje dia 11, a Grécia prepara-se para nova greve geral que também promete... Neste site há alguma informação sobre o que se passa na Grécia.

Uma coisa é certa...



Marte anuncia a Guerra (ganda som), a questão é qual? Ao menos que seja para fazer avançar o mundo e conquistar maior Liberdade, Igualdade e Fraternidade...


terça-feira, 9 de março de 2010

A Ordem 66 e o Massacre de Xangai

Uma dos episódios centrais da saga "Star Wars" é a Marcha sobre o templo Jedi e a execução da ordem 66... É o momento em que os Jedis são apanhados de surpresa por quem pensavam ser seus aliados e são praticamente exterminados, este vídeo contém uma das cenas mais impressionantes da série, o momento em que Anakin sob a escadaria do templo à frente das tropas Imperiais e dá início à matança dos jovens aprendizes de Jedis... Aqui está o clip do filme.


Há vários episódios na História semelhantes, o mais próximo que me lembro é o "Massacre de Xangai", que marca o início da longa guerra civil entre o Koumitang e o Partido Comunista Chinês...  A verdade é que Nacionalistas do Koumitang e Comunistas começaram por ser aliados!!!! Estavam, de início, juntos e comungavam dois objectivos centrais:
- Reestabelecer um governo central que tivesse autoridade em todo o país, à data vários "Senhores da Guerra", dominavam diferentes partes da China, uma situação quase feudal;
- Acabar com o domínio estrangeiro sobre o país, não só diferentes países europeus controlavam vários territórios na China, como tinham um peso decisivo na economia e governo dessa nação milenar...

O Koumitang era uma força Nacionalista, mas com inspiração Republicana e até  progressista, fundada por Sun Ya Tsen, recebeu apoio da Internacional Comunista e vários membros do Partido Comunista integravam a sua direcção. Na Academia Militar de Whampoa, em que muitos dos professores eram conselheiros Soviéticos, treinou-se um novo exército que haveria de regenerar a China, unificá-la e expulsar os Imperialistas estrangeiros... pelo menos era essa a ideia...
Em 1926 esse novo exército parte na "Expedição do Norte", das ideias aos actos. Esse exército é acolhido pela população como uma força de libertação do domínio feudal-mafioso dos senhores da guerra, os Comunistas são parte essencial desse esforço não só no nível militar, mas também através de agitação de massas. A apoteose seria a chegada a Xangai (na altura centro Industrial e Comercial da China). Pouco antes da chegada do exército Nacionalista os trabalhadores de Xangai fazem uma insurreição, tomam conta das ruas e aguardam a chegada da força que no seu caminho havia derrotado já 3 dos mais importantes senhores da Guerra...

É nesse momento que é lançada a "Ordem 66", Chiang Kai-sheck, líder do Koumitang (havia uns anos afastado Sun Ya Tsen) temendo a influência crescente dos Comunistas no Koumitang e em toda a China, ordena aquilo que chamou "a purga do partido"... À chegada a Xangai, longe de se unirem aos trabalhadores sublevados, o exército nacionalista começa uma brutal repressão, apoiando-se nas máfias Chinesas inclusive! Mas não é só em Xangai que se dá o massacre, por toda a China Comunistas em postos importantes são eliminados...

Mas nem todos são eliminados... algumas unidades do Exército ficam do lado do PC Chinês, ainda são tentadas várias insurreições em cidades com base nessas unidades militares fiéis aos comunistas e nos trabalhadores urbanos. Noutra zona, a estratégia seguida pelos comunistas foi da insurreição camponesa. Esses primeiros esforços são derrotados... Unidades do exército comunistas, quadros do partido, camponeses, todos convergem para uma remota zona rural... aí resistem por vários anos, até que são forçados à "Longa Marcha"... Uma marcha que só terminou verdadeiramente em 1949, quando as forças vitoriosas do Exército de Libertação Popular chegam a Pequim!!! Finalmente estava a China Unificada e o domínio Imperialista derrotado! Estava aberto o caminho que levou a China a ser o que é hoje...


O documentário que abaixo coloco está extraordinário, a China desde 1911 (queda do último Imperador) até ao início do processo de reformas dos anos 80 liderado por Deng Xiaoping...



Bem, isto nem chega a ser um resumo do que foi a Revolução Chinesa, da qual já havia falado um pouco aqui também, mas creio que dá pa dar ideia de quantas voltas dá o mundo e de como a realidade acaba por ser bem mais rica que a própria ficção.
Já agora para terminar aconselho este texto recente, com uma espécie de análise comparada, da Revolução Russa e Chinesa, assim como dos destinos dos regimes que foram fruto dessas Revoluções. Two Revolutions de Perry Anderson. (é engraçado, este é um artigo da New Left Review, mas no site da revista só pagando, no entanto, na página do PT do Brasil está disponível à pala! Fixe LOL)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Boys, Boys, Boys... Fim de Regime e Alternativa



Há 10 anos quando fiz parte da Direcção da Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico, tive o privilégio de assistir às manobras e enfrentar a Boysada do PS e PSD (eram e são iguais). Eram oportunistas, sem referências (a não ser ligeiramente para efeitos de marketing e facilmente cambiáveis), o seu objectivo era a auto-promoção pessoal o seu principal método a subserviência face ao poder instalado (nas Universidades, no Estado e nas Empresas das quais esperavam vir a obter favores).
Lembro-me de falar com um colega que também tava na direcção da AEIST que tinha alguma simpatia pelo PS e lhe dizer:

"As figuras mais antigas do PS tinham referências, passaram pelo combate à ditadura, exílio, viveram o PREC, não estou nesse lado na luta mas reconheço que têm alguma profundidade e raízes... Mas estes agora que conhecemos, esta nova geração, não tem nada, só está aqui para se encher à custa de tudo e todos"

Passados 10 anos vemos o que é esta nova geração sem princípios ou referências algumas a chegar ao topo do poder ...  Gente que desde que chegou à Universidade (e alguns já vinham do secundário com essa escola...) e desde aí foi só safar-se à base de esquemas!!! Falsificar eleições, marcar datas de eventos eleitorais de forma a impedir concorrentes de participarem, desviar fundos das associações para empresas paralelas, difamar os adversários com as mais vis mentiras e sobretudo, nunca assumir nada, nenhuma crítica... Quando alguma coisa se aponta a defesa é sempre o ataque, uma lata descomunal! E claro a constante procura de artifícios para-legais para lixarem os outros... Esses meninos, agora já a passar dos trinta já não "brincam" com as AEs, agora é com o próprio Estado!!! A República está a saque! E se esta gente não for parada só vai continuar e aumentar!


Mas continuar, desta forma, a médio prazo parece-me insustentável, a questão é qual será a alternativa a este regime semi-mafioso e esta elite chico-esperta de vão de escada. O PP e Paulo Portas não dormem (estou farto de avisar), têm sido a oposição mais consequente e estão a facturar com este caso. A boca que o Paulinho mandou acerca de um Boy que ganha mais de um milhão de euros pa fazer recados ao Poder foi muito bem metida e aproveitam para fazer campanha ideológica contra o Estado, ou seja, o problema não é isto tar entregue a mafiosos e o Estado estar ao serviço de uma elite da tanga, segundo o PP o problema é a existência do próprio Estado em vários sectores da economia nacional... se ninguém rebater isto (coisa que ainda não vi)  é um argumento que vai fazer caminho.
Para além disso na geração dos 30 e abaixo não há só Boys (& Girls), há muita gente com capacidade, muitos executivos e quadros intermédios de empresas, gente que nunca se meteu muito na política, mas que se for mobilizada (e o PP começa a fazer isso um pouco, basta ver as suas últimas listas à AR) para o combate política serão uma força temível a ter em conta.

Face a isto, a Esquerda (e quem me disser que o PS, instituição, é Esquerda é porque ou é burro ou tem interesses escondidos... isto tá a ficar demasiado óbvio para se tolerar abébias) anda a dormir... O Bloco fez bem em propor uma comissão de inquérito para esclarecer esta embrulhada, aliás a melhor jogada do BE desde o início desta legislatura, mas é pouco.

É preciso perceber que estamos numa fase de fim de regime, o pântano que já dura 10 anos é insustentável, haverá mudanças drásticas quer queiramos quer não! E antes sejam mudanças que queremos do que as que nos forem impostas. O Caso Alegre vs Nobre é paradigmático das consequências de se fazer política sem estratégia, apenas navegando à vista. O Bloco tem de saber para que é que anda aqui?
- Para construir uma alternativa de regime?
- Para salvar o regime e reabilitá-lo?
- Para combater o PS ou influenciá-lo?
- Quer chegar sozinho ao poder, ou aliado a outras forças? Quais?
- Que compromissos está disposto a fazer?
- É para ser apenas força de resistência e protesto ou mais?
- Quer se construir como força com real implantação orgânica no terreno, ou ter uma política de intervenção social mais difusa?

É preciso dar respostas consequentes a estas questões e assumir os custos que qualquer delas têm. As respostas não são simples, nem lineares, mas tem de se defini-las.
O mínimo que se exige é a construção de um "Programa de salvação da República" com 5 a 10 pontos e o lançamento de uma convenção de regeneração da República que sirva de base a um programa de um Governo Popular de Salvação da Pátria, que leve a cabo mudanças estruturais na nossa economia-sociedade e que seja exemplo para aqueles que no resto da Europa também se movem neste campo.

Aliás já se fala por aí de "Pactos de Regime", em Espanha essa é a discussão do momento e cá também virá a ser. Que resposta daremos? "Não, porque é mau", sinceramente é preciso mais! Já está claro que golpadas à toa para obter alguns ganhos imediatos, tipo apoiar Alegre a um ano e meio das eleições, não vai dar em nada...

É com quase incredulidade que assisto ao facto da Esquerda (BE, PC e outros afins) ainda não se começarem a mover no sentido de construírem uma Alternativa de Regime... Parece que tá tudo a dormir... Não sei a que ponto será preciso chegar, mas, camaradas o espírito da coisa terá de ser este:


As Jornadas de 10 de Julho de 1792, evento decisivo da Revolução Francesa e da Modernidade


7 de Novembro de 1917, O Assalto do Palácio de Inverno, o evento mais marcante do século XX!


«Por muito menos rolou no cadafalso a cabeça de Luís XVI» Afonso Costa em discurso nas Cortes nos anos finais e decadentes do regime monárquico.


E olhem esta malta, Jacobinos e Bolsheviques, soube construir amplas alianças e fazer todo o tipo de compromissos, mas, lá está, tinham um rumo e estavam dispostos a TUDO para derrotar as trevas e fazer triunfar a Liberdade, Igualdade e Fraternidade! Para construir um mundo justo sem Senhores e Servos...

E nós? Há muito quem tenha uma certa filosofia que apelido de Nacional-Tótó, um cinismo misturado com senso comum básico e com horror ao sacrifício e a sujar as mãos, há uma música dos Beatles "You say you want a Revolution" que sintetiza bem essa postura. Este post que escrevi dá uma boa resposta, mas aconselho vivamente a visualização deste excerto de uma entrevista ao Zizeck sobre Robspierre e o Terror.



E para acabar aqui vos deixo com uma gravura da Revolução Francesa, a Liberdade lançando raios de Luz sobre o fanatismo e a ignorância.


sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Revolução em Lisboa - 1383

«Se outros per ventuira em esta cronica buscam fremosura e novidade de palavras, e nom a certidom das estorias, desprazer-lhe-á de nosso razoado, muito ligeiro a eles d'ouvir e nom sem gram trabalho a nós de ordenar. Mas nós, nom curando de seu juizo, leixados os compostos e afeitados razoamentos, que muito deleitom aqueles que ouvem, ante poemos a simprez verdade que a afremosentada falsidade.»
Fernão Lopes




Já antes havia falado de como um Bastardo foi nomeado pela alvoraçada populaça Lisboeta em Defensor do Reino, impondo a sua vontade à grande Nobreza e Clero, mas também à hesitante burguesia... Não resisto a aqui colocar o relato de Fernão Lopes...  Cá vai com sublinhados meus...


Então o comum povo livre e não sujeito a alguns que o contrário disto sentissem lhe pediu por mercê que se chamasse Regedor e Defensor dos reinos, e ele vendo este seu grande desejo, e tendo ademais presente o conselho de frei João e dos outros que sobre isto lhe haviam falado, outorgou de o fazer contanto que eles se juntassem todos naquele dia, no mosteiro de São Domingos, para lhes haver de falar do que sobre isto entendia fazer em razão da sua ficada, pela qual tanto o requeriam, e eles disseram que tal lhes prazia muito. Junto nesse dia muito povo da cidade naquele mosteiro, expôs o Mestre como se entendia de partir do reino e as razões porquê, que já dissemos, depois, como lhe fora muitas vezes requerido por eles que todavia ficasse por seu defensor, e que ele se escusara disso por certas razões que logo lhes indicou, mas pois que eles tanto se afincavam a que todavia não partisse e ficasse na cidade, ele, para serviço e honra do reino, determinava em sua vontade de ficar, contanto que eles tivessem maneira de o servir e suportar naquela honra e estado que cumpria para defensão do reino.

E eles a uma voz, não esperando que falasse um por todos, mas quantos aí eram juntos, altamente disseram que lhes prazia muito de o servir e ajudar com os corpos e haveres até morrerem todos diante dele. E o Mestre respondeu então, que pois eles assim diziam e o queriam servir, que a ele prazia de tomar carrego de ser seu defensor e pôr o corpo a qualquer aventura por honra do reino e sua defensão e deles.

Quando o Mestre outorgou desta guisa de ter cuidado e regimento do reino, toda a tristeza foi fora das gentes e seus corações não deram mais lugar a nenhum passado medo, mas todos ledos sob boa esperança, fundada em bem-aventurada conclusão, se animaram para levar seu feito adiante, tendo grande fé em que Deus os havia de ajudar. E disseram logo ao Mestre que porquanto na cidade havia muitos honrados cidadãos que ali não estavam presentes, que estes fossem chamados à Câmara do Conselho e lhes fosse razoado e proposto tudo quanto ali fora dito, de guisa que outorgassem todos o que eles disseram e queriam fazer.

O Mestre disse que era muito bem, e foram ao outro dia todos chamados. E sendo assim juntos naquela Câmara da cidade, foi razoado por parte do Mestre como todo o povo miúdo o recebia por seu regedor e defensor, e que agora era a eles requerido se lhes prazia de outorgar aquilo que todo aquele povo tinha outorgado.




Não respondia ninguém, calando-se todos, e alguns falavam muito baixo à orelha dos que se sentavam à beira deles, além de que não dava nenhum resposta que mostrasse que consentia em coisa que os outros dissessem, não por a eles não lhes aprazer de a cidade e o reino serem defesos dos inimigos, mas porque todos estes duvidavam muito de tal coisa poder ir adiante e haver depois bom fim, e no entanto já a vontade do povo miúdo era muito pelo contrário. Depois tinham grande receio da Rainha lhes acoimar isto com grandes tormentos, como fora feito no tempo delRei dom Fernando quando lhe contradisseram o casamento dela com ele.

E duvidando estes que foram chamados, e não respondendo ao que lhes diziam, era ali muito povo junto, entre o qual estava um tanoeiro que chamavam Afonso Anes Penedo, que estivera presente com todos os outros quando se juntaram em São Domingos outorgando de receber o Mestre por senhor, e vendo que não falava nenhum dos mais honrados da cidade que eram presentes, começou de andar passeando-se, e pôs a mão numa espada que tinha cinta e disse:

Que estais vós outros assim cuidando? E porque não outorgais o que outorgaram quantos aqui estão? E como! Ainda vós duvidais de tomar o Mestre por regedor destes reinos, e que tome carrego de defender esta cidade e nós outros todos? Parece que não sois vós outros verdadeiros portugueses. Digo-vos que, quanto a por essa guisa, buscai-nos vós que sejamos todos cedo em poder de castelhanos.

Entretanto trocavam-se entre eles algumas razões sobre isto, mas nenhuma resposta se dava qual cumpria, porquanto esses maiores se receavam muito das razões que já ouvistes.

Então aquele tanoeiro acima nomeado pôs outra vez a mão na espada e disse contra aqueles a quem se fazia tal requerimento: 
Vós outros que estais assim fazendo? Quereis vós outorgar o que vos dizem? Ou dizei que não quereis, pois eu nesta coisa não tenho mais aventurado que esta garganta, e quem isto não quiser outorgar logo é forçoso que o pague com a sua antes que daqui saia. 
E todos os que aí estavam do povo miúdo aquela mesma razão disseram.

Vendo os que foram chamados o alvoroço que todos faziam e que lhes não convinha ter nisto outro jeito em contrário, outorgaram então quanto os outros tinham prometido, e foi assim escrito e assinado por suas mãos. E desta guisa foi o Mestre tomado por Regedor e Defensor do reino, na qual regência e defensão que fez bem se mostrou depois sua virtuosa ardideza, como adiante podereis ver.


Má Nada!!!

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Boas Entradas e 2010, Viva a República!


Pois é, 2010 já bate à Porta! A década dos anos “o” (como chamar esta década ??) já lá vai, a dos anos 10 avizinha-se!
A única certeza que tenho é que vai ser ainda mais “emocionante” de que os primeiros 10 anos deste século.
Mas não vou teorizar muito, para celebrar a entrada no novo ano escolho partilhar um pouco de uma prenda de anos/natal que recebi… Uma agenda e calendário para 2010 alusivos ao centenário da República!



É um verdadeiro festival de iconografia Republicana! E ehehehe, é uma edição limitadíssima, 500 exemplares! Atão não era de mandar isto, no mínimo, a todas as escolas primárias???
Enfim… a verdade é que enquanto virem a República como pertencendo a uma elitezinha, o seu destino está condenado a repetir-se… à poix é bebé…

De qualquer das formas, aqui vos deixo, com desejo de boas entradas, o ícone que mais me fascinou, é a figura do mês de Dezembro, ehehehe…



É caso para dizer, bom 2010 e Viva a República!
Tem 100 anos, mas tá cheia de bom aspecto e com ar mais moderno que muitas que prái vão…


sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Soldados do Reino dos Céus, case study, the New Model Army (aviso inicial à população)

Camaradas, sou e continuo a ser Ateu e profundamente anti-clerical (ver posts sobre o tema). Só para ilustrar conto aqui uma pequena estória. O ano passado estudei com um colega dos EUA, ele era Mormón e foi um “Elder” na Rússia em 1999, uma vez a almoçar na cantina disse-me com ar sério e triste “In Russia Comunism Killed God…”, nem imaginem o prazer que tive em ouvir isto, foi das coisas que mais gostei de ouvir em toda a minha vida. À gandas Bolcheviques!

Bom é que eu já sei o que é que a casa gasta, basta fugir um pouco à norma e sair do quadrado pá malta começar a ficar logo à nora e tirar conclusões precipitadas… E, pela última vez repito:
Reino dos Céus não é sinónimo de Cristianismo, nem Cristianismo de Catolicismo, nem do resto das ideologias/organizações que se reivindicam seguidoras de Cristo (Palavra e conceito Grego introduzido por Saulo de Tarso aka São Paulo e não por Jesus de Nazaré). Quem tiver dúvidas reveja com olhos de ver este post…

Outro mal entendido, e este é o sumo do post, tem a ver com a relação entre os ensinamentos do “Reino dos Céus” e o pacifismo. Muita da confusão tem por base esta passagem dos evangelhos:

«Digo-vos, porém, a vós que me escutais: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam, rezai pelos que vos caluniam. A quem te bater numa das faces, oferece-lhe também a outra; e a quem te levar a capa, não impeças de levar também a túnica. Dá a todo aquele que te pede e, a quem se apoderar do que é teu, não lho reclames. O que quiserdes que os outros vos façam, fazei-lho vós também.
Se amais os que vos amam, que agradecimento mereceis? Os pecadores também amam aqueles que os amam. Se fazeis bem aos que vos fazem bem, que agradecimento mereceis? Também os pecadores fazem o mesmo. E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, que agradecimento mereceis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, a fim de receberem outro tanto. Vós, porém, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem nada esperar em troca.»
Lucas 6, 27-35 (também em Mateus 5, 38-48)

DAR A OUTRA FACE?
Mas camaradas, claro que sim, em determinadas circunstâncias, como tudo na vida… Quantas vezes somos ofendidos e atacados e a mais sábia estratégia não é exactamente dar a outra face? Lá porque alguns acham que dei em “fanático religioso” irei me zangar? Não, há é que esclarecer… Muitos conflitos (não todos…) têm por base mal entendidos e equívocos, será lúcido partir logo pá guerra só por causa de um equívoco? Claro que não, há que dar a outra face e esclarecer a situação. Mesmo que por vezes tenhamos de perdoar 70 vezes 7…

AMAR OS INIMIGOS?
Ok, amar pode ser uma palavra forte de mais, isto há que sempre reter um forte sentido crítico em relação a tudo… mas vejamos, antes de mais quem são os nossos inimigos? É que isto é importante, para começar, muita gente sente ódio, inveja e a ataca quem julga ser seu inimigo e na verdade não é. E mesmo que saibamos que estamos perante inimigos, quem objectivamente nos quer mal, não será importante, até decisivo perceber porquê? Perceber se todos os que estão no campo inimigo têm as mesmas motivações, perceber porque escolheram um caminho que os mete em rota de colisão connosco? Sem o mínimo de empatia com o “inimigo”, sem compreendermos que, em última análise, toda a humanidade partilha um importante conjunto de anseios e desejos, torna-se muito difícil metermo-nos “na pele do inimigo”. Pois eu vos digo, para não perdermos a nossa própria humanidade e para conseguirmos triunfar sobre os adversários, o “amor” (vá lá, alguma empatia) pelos nossos inimigos é fundamental.

IMPLACÁVEIS PERANTE AS INJUSTIÇAS, a violência faz parte da vida…
Mas atenção, nada disto implica que sejamos uns tótós que se deixam constantemente humilhar. Aliás, crítico negativamente quem não levanta o braço para defender o seu irmão perante as injustiças e segue o caminho da passividade. Se queremos viver com generosidade e amor ao próximo (lembram-se da peça “Street Car named Desire”, há uma linha fabulosa: “A stranger is just a friend you haven´t met yet”) por vezes temos de ser implacáveis. Quando a tirania e a injustiça oprimem o próximo será sábio constantemente dar a outra face?
Dar a outra face quando se tornou claro que não há equívocos, mas apenas o desejo do controlo dos recursos e da conquista de poder?
E se os Tiranos, os Accionistas, não querem saber das regras minímas de convivência em sociedade; se os Tiranos, os Accionistas só estão interessados no lucro e no poder a qualquer custo; quando os Tiranos, os Accionistas não recuam perante as maiores barbaridades e condenam milhões à fome, ao cárcere, a uma vida de miséria, a dificuldades constantes e uma vida de Brutidão; quando os Tiranos, os Accionistas se banqueteiam no luxo e devassidão, enquanto esmagam os apelos dos que sofrem e por sua causa pouco têm… que deve um “justo” então fazer?

Há momentos na história em que não há perdão para os que por fraqueza, pouca inteligência ou mesquinhes inventam mansas desculpas para a inacção, ou o que vai dar ao mesmo, para se manter a acção, os métodos, que já se viu não darem em nada face á Tirania e ao reino dos Accionistas.

Retomando as citações do evangelho, eis que aqui está uma situação em que o próprio Jesus da Nazaré usa da violência.



Este é um quadro de Rembrant, “cristo expulsa os cambistas do templo”, na Arte há dezenas de diferentes obras que retratam este episódio.

"Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas nos seus postos. Então, fazendo um chicote de cordas, expulsou-os a todos do templo com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas pelo chão e derrubou-lhes as mesas; e aos que vendiam pombas, disse-lhes: «Tirai isso daqui. Não façais da Casa de meu Pai uma feira.»”
João 2, 13-16
"Depois, entrando no templo, começou a expulsar os vendedores. E dizia-lhes: «Está escrito: A minha casa será casa de oração; mas vós fizestes dela um covil de ladrões.» Ensinava todos os dias no templo, e os sumos sacerdotes e os doutores da Lei, assim como os chefes do povo, procuravam matá-lo. Não sabiam, porém, como proceder, pois todo o povo, ao ouvi-lo, ficava suspenso dos seus lábios."
Lucas 19, 45-48
(Já agora, não gosto muito do evangelho de João, é demasiado “religioso” para o meu gosto, é todo ele construído para justificar que Jesus é o filho de Deus, os outros 3 - Mateus, Marcos e Lucas - são numa onda muito mais “histórica”. )

Como vêm o profeta que aconselhou a “dar a outra face”, ele próprio usou da violência contra os cambistas e vendedores… Também lançou um sério aviso e critica às autoridades religiosas e políticas do seu povo , à classe dominante da altura na Judeia…

"Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque sois semelhantes a sepulcros caiados: formosos por fora, mas, por dentro, cheios de ossos de mortos e de toda a espécie de imundície! Assim também vós: por fora pareceis justos aos olhos dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade. Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, que edificais sepulcros aos profetas e adornais os túmulos dos justos, dizendo: 'Se tivéssemos vivido no tempo dos nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no sangue dos profetas!' Deste modo, confessais que sois filhos dos que assassinaram os profetas. Acabai, então, de encher a medida dos vossos pais! Serpentes! Raça de víboras! Como podereis fugir à condenação da Geena?
Por causa disto, envio-vos profetas, sábios e doutores da Lei. Matareis e crucificareis alguns deles, açoitareis outros nas vossas sinagogas e haveis de persegui-los, de cidade em cidade. Assim cairá sobre vós todo o sangue inocente que tem sido derramado sobre a terra, desde o sangue do justo Abel até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que matastes entre o santuário e o altar. Em verdade vos digo: TUDO ISTO CAIRÁ SOBRE ESTA GERAÇÃO!»
Mateus 23, 27-36
(não me vou alongar, é um tema de debate intenso, mas o que é facto é que caíu mesmo um castigo horrível sobre essa geração, no ano de 70 d.c. o Templo de Jerusalém foi destruído e Israel foi dominada a ferro e fogo pelas Legiões Romanas, Jesus foi cruxificado por volta de 33 d.c.)

Para verem o discurso completo que fez às massas vejam este link. É dos maiores discursos (se não o maior) que fez que estão registados nos evangelhos… para além disso é uma história que está presente nos quatro evangelhos (muitos dos episódios, até dos mais conhecidos, não figuram nos quatro).
Mais uma dica, chamá-los de “fariseus” era dos insultos mais usados por Trotsky e Lenine contra os seus adversários. Porque também eles foram, à sua maneira, Soldados do Reino dos Céus…

SOLDADOS DO REINO DOS CÉUS, houve vários movimentos que se inspiraram nesta mensagem para conduzirem lutas de libertação e de emancipação face à tirania. O Cristianismo primitivo era exactamente isso… Movimentos heréticos ao longo da idade média, a Teologia da Libertação mais recentemente na América Latina… mas o exemplo mais adequado, mais consequente e que ao mesmo tempo mais se ajusta à descrição de “Soldados do Reino dos Céus” são os Levellers e o “New Model Army” que lideraram uma das mais importantes e determinantes revoluções da história…
A Revolução Inglesa, 1640-49
Sabiam que os Ingleses julgaram e cortaram a cabeça ao Rei mais de 100 anos antes dos Franceses? Que durante cerca de 30 anos a Inglaterra foi uma República?
À poix é bébé… isto na história as coisas não aconteçem simplesmente por acaso…

O EXÉRCITO DE TIPO NOVO, em luta para construir o Reino dos Céus na Terra, vá lá… na Inglaterra

O “New Model Army”, que se pode traduzir como “Exército de Tipo Novo”, surgiu a meio da Revolução/Guerra Civil Inglesa. Para algum enquadramento sobre estes eventos determinantes na História Mundial remeto o leitor para este site (Marxista, pois claro, quem mais se daria ao trabalho de presevar esta memória?) e a visualização do documentário que abaixo coloco. O seu autor é uma espécie de “comediante marxista-revolucionário”, aborda a história numa prespectiva e de uma forma bastante diferente do comum, é autor de um livro “Vive La Revolution” sobre a revolução francesa. É espetacular e na mesma linha deste documentário (vejam a palestra sobre o  livro).



É que pouco se fala destes eventos, e das poucas vezes que fala, regra geral, é para chamar fanáticos a estes homens… Como em todos os casos de revoluções triunfantes, desde os Parabolani (vejam o filme Ágora) até aos Bolsheviques, houve excessos um tanto folclóricos… Por exemplo, na altura em que Cromwell governou Inglaterra com o suporte do “Exército de Tipo Novo”, chegaram a proibir as celebrações de natal e as peças de teatro… Mas o que é isso comparado com o fim do absolutismo monárquico, do feudalismo e dos privilégios aristocráticos??? Mas lá está, como dizia o George Orwell, no seu livro 1989, que os Rage tomaram como letra para uma das suas canções: “Who Controls the Past, Controls the Future, Who Controls the Present, Controles the Past”, nem mais…

Fundamental para a criação deste novo exército e triunfo da Revolução foram movimentos como os Levellers, que como o próprio nome indica, pretendiam nivelar a sociedade… Torná-la mais Justa e Igualitária, propuseram até uma constituição altamente avançada para a Inglaterra (mesmo de acordo com padrões actuais). O programa máximo, dos Levellers, não triunfou de forma completa com a queda da monarquia e instauração da república (chamaram-lhe “comonwealth” e depois a Cromwell “Lord Protector”), mas deram um contributo decisivo para que a Ingleterra saí-se do obscurantismo feudal, esta Revolução foi um exemplo para os Patriotas americanos das 13 colónias que 100 anos depois protagonizaram a Revolução Americana… Aliás a declaração de independência e a constituição dos EUA, baseia-se muito no Agreement of the People proposto pelos Levellers… Claro que a Universal e grandiosa Revolução Francesa também foi buscar insparação à sua antecessora Inglesa e muito mais directamente à filha directa da revolução Inglesa, a revolução Americana.

O que mais diferenciou a Francesa das outras foi o seu carácter explicitamente Universalista, é para libertar toda a humanidade e não apenas os Francese, e Secular, a base ideológica da revolução vem dos Enciclopedistas e do Iluminismo laico e anti-clerical e já não na interpretação das mais “luminosas” passagens dos evanvelhos por parte de seitas semi-heréticas protestantes (como eram os Levellers, em grande medida). Por isso é que a Francesa (e não as anteriores) é aquela que quebra definitivamente com as amarras do passado e abre as portas à modernidade…

Para terminar deixo-vos com mais um documentário, é sobre a Batalha de Naseby, esta foi a estreia no terreno do “Exército de Tipo Novo” e foi a batalha decisiva da guerra civil Inglesa, em que finalmente as forças parlamentares partiram a espinha ao exército Realista. Dá a conhecer vários pormenores interessantes.


segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Por Sintra pensando nas Rainhas da 2ª Dinastia, uma história Épica de Revolução, Glória e Decadência



Este é o Palácio Nacional de Sintra, ultimamente passei por aqui umas quantas vezes, ao contemplá-lo, relembrei-me sempre da Dinastia de Avis, a segunda dinastia...
Foi durante esses 200 anos, 1385-1580, que Portugal se fez ao mar (e à terra...) e construiu a primeira rede que uniu os 5 continentes, fomos "nós" os primeiros a unir e por em contacto permanente e simultâneo Europa, África, América, Ásia e Oceânia... O que, obviamente, mudou completamente a história da humanidade... Não é, definitivamente, coisa pouca.



Bem, isto vem tudo a propósito de um livro que li à pouco tempo, "As Avis - As Grandes Rainhas que Partilharam o Trono de Portugal na Segunda Dinastia", fui  inclusivé, à sua apresentação (a autora é minha prima, tudo tem uma explicação...) e gostei do que lá se disse, que foi muito além das estórias das rainhas... Para começar eram 4 mulheres na mesa e discutiu-se o papel que as mulheres jogaram ao longo da história e nos dias de hoje...



Não farei uma crítica literária (mas já agora, aqui têm uma entrevista dada pela autora), mas o livro é riquíssimo em informação e dá uma visão panorâmica de 200 anos de história que moldaram o futuro da humanidade de uma perspectiva que não é a mais comum... Portanto o que me ocorre é...

Filhos da Revolução


Antes de mais convém não esquecer como começa esta história, D. João I, é um bastardo irmão de D. Fernando, o rei que deixou o Reino nas mãos da sua mulher (Dona Leonor), uma Castelhana que ia entregar o país a quem de direito, o Rei de Castela...
Só que o Povo de Lisboa tinha outros planos, parte da nobreza mais baixa também não estava lá muito satisfeita com o negócio e os mercadores também não... Vai daí e o poder caiu na rua! (e ainda bem!!!)

A coisa começa com  D. João I, à altura "O Mestre", pouco depois conhecido como "O Messias de Lisboa", a assassinar o Conde de Andeiro, depois disso a populaça entra em alvoroço e irrompe a fúria popular!!! Uma das vítimas é o Bispo de Lisboa que é atirado da torre da sé (um castelhano q n devia ser nada boa peça...)!!!
Pelo Alentejo e em muitas cidades acontecem estórias semelhantes... resumindo, depois disso, em Lisboa há uma assembleia popular e é nessa assembleia que o "Mestre" é nomeado pela populaça como "Defensor do Reino", no dia seguinte há uma assembleia de notáveis da cidade, estes hesitam em dar tão ousado passo, mas um tanoeiro avisa-lhes que ou nomeiam o "Mestre" defensor do reino ou pura e simplesmente não saem do edifício vivos... é um forte incentivo e assim começa a história que acaba connosco a "unificar" todo o mundo.

Avançando... o Bastardo tornado Rei pela populaça acaba por conquistar a sua legitimidade no campo de batalha e pelo respeito do povo. Escolhe para se casar uma princesa Inglesa, Filipa de Lencastre, dessa união nasce a "Ínclita Geração"



É um casamento saudável, que dá origem a gente saudável e é o início de uma epopeia de proporções épicas,  todo o Reino "frutifica". Há muitas dúvidas sobre os painéis de S. Vicente, mas é certo que muitas das personagens desta história estão lá retratadas, mesmo que não se saiba exactamente, quem é quem.
O que é certo, também, olhando para os painéis (estão no Museu de Arte Antiga) é que eles representam uma gente, como ei de dizer... vê se que é uma malta à altura do momento histórico que viviam, é malta com ar sábio, forte e generoso...

Aliás Filipa de Lencastre é a única Rainha que acaba por desempenhar um papel positivo nesta história, as restantes ou fizeram mal, ou muito, muito mal à Nação...

Consanguinidade, Traição e Inquisição
Depois de D. João e Dona Filipa, o "Dark Side" começa a exercer a sua influência e conjugam-se vários factores:

- A Castela Imperial aqui tão perto começa a exercer o seu efeito polarizador, é por estas alturas que a Península Ibérica finaliza o caminho para a unificação... Aragão e Castela unem-se por casamento (os famosos Reis Católicos), o reino Muçulmano de Granada cai finalmente... Portugal, em 1500, é a única parte da península que não está sob o jugo dos vitoriosos Reis Católicos... Portanto primeiro factor, a dinâmica fortíssima de unificação da península...
- Outro factor é o lento recuperar do poder dos grandes senhores Nobres... que sofreram um rude golpe com a Revolução de 1383-85 mas não foram eliminados...
- A nível de Casamentos Reais, após a nobre Inglesa o resto das Rainhas são todas Aragonesas, Castelhanas e Austro-Castelhanas (e uma ou duas da alta nobreza portuguesa)... o que no fundo é um sintoma dos factores que aqui enunciei, mas que por si só, vai exercendo uma pressão altamente perniciosa nos destinos do Reino de Portugal...

É que D.Duarte casa-se com uma Aragonesa, ao mesmo tempo Aragão e Castela já estão na rota da reunificação... Quando D. Duarte morre repete-se, um pouco, a história de 1383-85, a viúva é que supostamente deveria tornar-se a regente... Mas o Povo e as gentes da cidade, as saudáveis forças vivas da nação, não estão para "papar grupos" e quem se torna regente é D. Pedro, irmão de D. Duarte e um dos membros da Ínclita Geração. Mas a viúva não para de intrigar e conspirar... ela e claro, os grandes Nobres... Quando D. Afonso V já é homenzinho a reacção contra-ataca... Em 1448, apanhado quase à traição, as forças da grande Nobreza derrotam as forças do Infante D. Pedro na batalha de Alfarrobeira... O próprio D. Pedro é morto na batalha... é um rude golpe na causa popular... E as forças derrotadas em 1383-85 em parte são vingadas...



D. João II, o príncipe perfeito,  é o último "herdeiro da Revolução", tenta fazer face à força dos "grandes" apoiando-se nos "pequenos" e no processo de centralização do estado... em grande medida é bem sucedido e o último e decisivo impulso na expansão maritimó-comercial portuguesa é dada por ele!
No entanto, perde a última batalha, a da sucessão, D. João II pretendia que fosse o seu filho bastardo D. Jorge a suceder-lhe no trono, mas a mulher, a grande Nobreza, tem outro candidato, o primo direito do Rei (e irmão da Rainha Leonor), D. Manuel...


Com D. Manuel temos o triunfo final do "Dark Side", mais uma vez casa-se com uma Castelhana-Aragonesa e sabem qual foi uma das cláusulas do contracto de casamento???
A INSTAURAÇÃO DA SANTA INQUISIÇÃO EM PORTUGAL!!!


Pois é, com a ascensão de D. Manuel ao trono a alta nobreza vê o seu poder reforçado e Castela ganha terreno... Desta vez não houve levantamentos populares que defendessem o Bastardo D. Jorge, as forças vivas da nação estavam fracas e a Santa Inquisição é mais uma estocada violenta, são milhares de cidadãos empreendedores que são caçados, queimados na fogueira e expulsos. Os Holandeses que os receberam agradeceram...


A História é ingrata e acaba por ser D. Manuel, o afortunado,  a colher os frutos mais maduros e suculentos semeados pelo Tio D. João II  e pela geração que fez a revolução de 1383... Mas D. Manuel renega exactamente o que lhe deu esses frutos, purifica o reino com a Inquisição, quando tinha sido exactamente a "Lisboa de muitas e desvairadas gentes" que tinha dado o impulso vigoroso e criativo à expansão Portuguesa pelo Atlântico fora... Casa-se com uma herdeira do Trono Castelhano... e o reforço do poder central acaba por ser orientado para dar "tachos" à nobreza parasitária...  No auge da riqueza e expansão além-mar, o futuro da nação já estava minado e hipotecado...


Uma coisa que ainda não referi é que tantos casamentos com Castelhanas, Aragonesas ou mulheres da alta nobreza Portuguesa acabam por ter outra implicação, é que isto tornou-se um ciclo vicioso e fechado em que primos casam-se sucessivamente uns com os outros... São filhos de primos, que são filhos de primos que se vão casando uns com os outros... a partir de certa altura a probabilidade do resultado destes casamentos ser minimamente sadio decresce vertiginosamente...
Decadência e Queda









Só para terem uma ideia, D. João III e D. Catarina de Áustria têm 9 filhos!!! 9... e vêem nos morrer a todos, alguns por acidentes, mas muitos eram autênticos débeis... O herdeiro do trono aparece in extremis filho de um desses 9 que ficaram pelo caminho... Depois do que foi a saudável "Ínclita Geração", filhos da Revolução, filhos de um Bastardo, os resultados que a "pureza" nobiliárquica tem para apresentar é um jovem cheio de problemas e enfezado, D. Sebastião de triste memória (o cognome é meu) ...
Este jovem enfermo, delirante, estéril, é o resultado da conjugação das forças que acima referi... o "Dark Side" cava a sua própria sepultura... Este é o resultado do somatório da obsessão pela "pureza", do predomínio da alta Nobreza, do abafamento e repressão sobre as forças populares e do progressivo ascendente Castelhano sobre o Reino... 


Gostava muito de assuntos de guerra e a expedição que lidera a Marrocos é o "Estado da Arte" da altura em termos de armamento, o exército que leva para o Norte de África é uma espécie de exército modelo... mas esqueceu-se do mais importante... Que a Guerra é a continuação da política por outros meios (ok, ainda Clausewitz não tinha aparecido, mas já tinha idade e dever de conhecer Maquiavel!!!)

o que conseguiu foi nada mais nada menos do que a unificação de Marrocos sob um único líder muçulmano e o seu exército modelo foi desbaratado em Alcácer Quibir pelas forças muçulmanas combinadas...







Como resultado desta aventura delirante o trono cai no colo de Filipe II de Espanha, I de Portugal... 
(Outro resultado muito negativo, talvez o mais negativo, é algo que ainda persiste na psique colectiva nacional, o "mito sebastianista", essa ideia altamente idealistó-reaccionária de um ente que vem não se sabe bem de onde envolto em névoa e que nos há de salvar a todos... enfim, o mito do paizinho que nos há se salvar a todos das nossas próprias fraquezas e defeitos...)


Mas vejam lá!!! Ainda há um bastardo que tenta salvar a honra do convento (benditos bastardos pá...), ainda há o mínimo de dignidade na nação! António, Prior do Crato, tenta montar a resistência à avalanche Castelhano-Austríaca-Habsburguiana, expulso do Continente é nos Açores que ainda consegue opor resistência e obter algumas vitórias!


Mas o Império, o Império... era irresistível e a verdade é que a corja Nobiliárquica estava rendida ao ouro Imperial e alguns mais ingénuos chegaram a pensar que a União Ibérica poderia ser um bem para os próprios interesses Portugueses, nomeadamente para a defesa das possessões Portuguesas espalhadas pelos 5 continentes... Estavam enganados, embora não seja assim tão simples, o que é facto é que foi o grande Império a sugar os nossos recursos, muito mais do que nós a servirmo-nos do grande Império para defendermos os nossos interesses...
Caso paradigmático é o da Armada Invencível... Para que raio é que interessava a Portugal participar na pretendida invasão do Inglaterra??? Mas parte significativa dos navios que compuseram a Armada Invencível eram  Portugueses, e de Invencível a Armada não teve nada... A nata da frota portuguesa perdida ao serviço do grande Império na sua ânsia de controlo total... no final tiveram o fim que mereciam!


Portanto, quando hoje em dia uns quantos lunáticos se lembram de propor a "União Ibérica" penso sempre na nossa história, é que já tivémos a União Ibérica e o que é que aconteceu??? Portugal transformado numa possessão periférica de um grande Império cujos recursos são sugados para defender interesses que não são os nossos. À poix é bébé...
Quem defende isso sabe pouco de história, quem defende isso devia prestar mais atenção a um sábio ditado popular, um sábio ditado que o meu falecido Avô por vezes mencionava,  um sábio ditado que é um corolário adequado para esta história:

"De Espanha nem bom vento, nem bom Casamento"


Mas ainda mais importante apelo e lição a tirar desta história toda tem a ver com aquela boca reaccionária, ou melhor, aquele bicho papão que a reacção costuma agitar "ai que o poder vai cair na rua!..." Meus amigos, Camaradas, nem havia Portugal se o Poder não tivesse caído na Rua! E os nossos melhores momentos são, exactamente, fruto do poder ter caído na rua! Em 1383, em 1820, em 1910, no 25 de Abril de 1974!!! 

No fundo a grande e maior conclusão desta história é tão simplesmente:

Viva o Poder Popular!!!