terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Breves Notas sobre a ETA e o Estado Espanhol

Recentemente dois presumíveis operacionais da ETA foram presos em portugal, abaixo deixo o comunicado emitido pela Associação de Solidariedade com Euskal Herria (ASEH). Tem informação relevante de que pouco ouvimos falar, mas antes disso umas breves notas mais gerais:




- O Estado Espanhol, mais recentemente encabeçado por Zapatero, sempre impediu (a última tentativa foi acerca de dois anos...) a realização de um referendo no País Basco para que quem hoje lá vive possa livremente decidir se quer continuar, ou não, a fazer parte do Estado Espanhol (ou do Império Peninsular de Castela...). Os povos têm direito à sua auto-determinação, o que nem sempre implica independência, podem livremente associar-se em federações, mas a questão é que ao Povo Basco nunca foi dada a liberdade de livremente decidir do seu destino. Aliás, dado fundamental! O País Basco foi a única região de espanha que no final dos anos 70 não aprovou a constituição da "transição pacífica", do Estado Fascista de Franco para o "Democrático", enquanto em todas as outras regiões a nova constituição foi recebida de braços abertos, o povo basco rejeitou-a porque lhe negava o direito à auto-determinação.

- Não acho que neste momento fazer atentados seja uma grande estratégia (aliás muitos foram completa e totalmente contra-producentes e só serviram para prejudicar a luta independentista, objectivamente...), a única coisa que conseguem neste momento é provar que ainda existem... Penso que a aposta num referendo, mesmo que não autorizado, ou considerado legal por Castela, seria mais acertada e teria impacto local e internacional... Mas quando a ilegalização de partidos, jornais, manifestações, etc... mantém-se por parte do Império Castelhano é difícil seguir o caminho da PAz, sobretudo quando já há gente que leva muitos anos disto... de qq das formas, neste momento, parece-me que o "caminho da paz" seria o mais produtivo...

- Existem centenas de presos da ETA nas masmorras Castelhanas, existem evidências claras de tortura, aliás a luta suja contra a ETA já teve vários episódios tenebrosos, como os esquadrões da morte GAL! Neste momento, sem conhecer os pormenores da lei portuguesa, parece-me bem não repatriar estes dois Bascos, não tenho a certeza, mas creio que Portugal (e muito bem a ser verdade) não extradita presos para países onde sabe que serão torturados, este é exactamente um dos casos onde há essa certeza...

- Para além de um referendo, uma amnistia geral seria necessária, para os operacionais da ETA, dos GAL e torturadores das masmorras Castelhanas... Para tod@s... Porque há muitos que têm as mãos sujas de sangue, à poix é bébé...

Abaixo segue então o comunicado:


Comunicado da ASEH sobre a detenção de dois supostos membros da ETA

Perante a notícia da prisão, em Portugal, de dois supostos membros da organização independentista basca Euskadi Ta Askatasuna (Pátria Basca e Liberdade), a Associação de Solidariedade com Euskal Herria (ASEH) vem alertar para o facto de haver centenas de independentistas bascos nas prisões espanholas que foram submetidos a métodos brutais de tortura. Este facto foi comprovado pelo Relator da ONU Contra a Tortura, pela Amnistia Internacional e por muitas outras organizações de Direitos Humanos. A extradição destes dois cidadãos bascos configuraria um sério risco para a sua integridade física e psicológica. Com a possibilidade de violação de direitos humanos, esta opção não pode ser senão rejeitada.

Com factos ainda por confirmar, a ASEH espera que não se tenha permitido, como acontece no Sul de França e no País Basco sob administração francesa, a entrada de forças policiais espanholas. Isso configuraria uma grave violação da soberania nacional portuguesa e uma maior submissão à estratégia repressiva do Estado espanhol, depois do acordo entre os dois países para permitir o trabalho de dezenas de polícias espanhóis no nosso território.

A ASEH denuncia também o desaparecimento, há quase nove meses, de Jon Anza, no Estado francês, em circunstâncias ainda por esclarecer mas que fazem prever o regresso ao terrorismo do Estado espanhol sobre independentistas bascos. Durante os anos 80, sob o governo de Felipe González, dezenas de cidadãos bascos foram assassinados por paramilitares a soldo do Estado espanhol.

No passado dia 2 de Janeiro, apesar da ameaça de proibição, cerca de 50 mil pessoas manifestaram-se em Bilbau pelo fim da repressão contra os presos políticos bascos e pela democracia no País Basco. Nela participaram vários partidos e sindicatos. A situação que se vive é largamente ignorada pelos meios de comunicação social. A repressão não se abate apenas sobre militantes da ETA. O Estado espanhol ilegalizou dezenas de partidos, fechou jornais e rádios, proibiu organizações juvenis e proíbe manifestações.

Consideramos que deve ser reconhecido ao povo basco o direito à autodeterminação. Cada povo deve poder decidir o seu próprio futuro. Este é um direito reconhecido pelas Nações Unidas e ignorado pelos Estados espanhol e francês.

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Associação de Solidariedade com Euskal Herria

borrokabidebakarra@gmail.com
http://www.paisbasco.blogspot.com


1 comentário:

Pedro disse...

Há pouco tempo realizou-se um desses referendos "não oficiais" na Catalunha e não correu muito bem pela fraca participação cívica.... Porquê? Talvez por não ser "oficial", logo vinculativo de qualquer coisa.

É certo que, tal como dizes, muitos dos antentados da ETA mais não fizeram do que dificultar a luta abertazale, mas não esqueçamos que o poder está na ponta da espingarda e que, sobretudo, o Mad Max está à porta!

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