quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O Bloco, as Massas e o Maximilien...


O Bloco está a bombar, e bem. Os cartazes estão pura e simplesmente brilhantes (mesmo o do Fazenda pa Lisboa! Sem falar nos outros...) e apesar de estarmos no auge do verão há inúmeros comícios marcados e várias iniciativas têm se sucedido. O facto de (a par do PS) ser o único partido a lançar um programa de governo tem amealhado pontos, o lançamento em livro desse programa foi uma oportunidade de ganhar mais uns minutos de tempo de antena e dizer mais umas quantas verdades ao país. Pelo que disseram já houve mais de 50 000 downloads do programa no Esquerda, não é pouca coisa...

Aliás, n o li todo, mas pelo que vi da sua apresentação à +- um mês axo que, grosso modo, ou melhor, do ponto de vista estratégico (se bem que ao nível do detalhe mt coisa pudesse ser alterada/refinada) é exactamente aquilo que o país e o movimento popular necessita. O próprio Louçã tem tado mt, mt bom nas entrevistas que tem prestado (esta à RTP é apenas um exemplo).

Aliás, é a partir de uma dessas entrevistas a Louçã que retirarei os motes, as questões chave, que quero abordar neste post.

Foi há coisa de uma semana ou duas que o BE organizou uma "Blog Conferência" (na foto vê-se o Pedro Viera do arrastão a fazer um dos seus fantásticos bonecos, o que abre este Post é da sua autoria), o Bloco convidou vários Blogs para que os autores destes, em directo (n como a palhaçada formal feita pelo PS), conduzissem uma entrevista ao líder do BE. Cada Blog teve +- 10 minutos, foram 10 blogues, ou seja, Louçã teve mais de 2h non stop a responder a mais de 10 entrevistadores diferentes. Deu o q se chama um verdadeiro baile! Aliás estas iniciativas são mt frutuosas, a começar pq se alguns destes bloggers são aparatchiks que dificilmente mudam de campo (como o Louçã com toda a lata, e bem, "desmascarou"), muitos outros são apenas semi-analfabetos políticos equivocados... ora sobretudo com estes últimos, mm que se aparentemente de direita, vale a pena manter o diálogo!

Convém sempre ter algumas ligações, pontes com o "inimigo" (é uma das lições de Macnamara...). Mesmo que n se tornem Bloquistas, pelo menos as críticas que daqui pá frente fizerem ao Bloco vão ser bem mais informadas e contextualizadas... e lá está sempre se criam alguns laços que impedem (ou inibem até certo ponto) as críticas do tipo desumanizantes, rasteiras, falsas cujo objectivo é o puro e simples afastamento do BE do espaço considerado "aceitável" para partidos que queiram exercer o poder.

Para além disso nunca devemos partir do princípio que n vale a pena tentar convencer ou discutir com um(a) indivíduo (n organizações!), por aparentemente mais reaccionário(a) que seja, o nosso projecto emancipatório tem como objectivo impedir a catástrofe (ponto1) e erguer uma sociedade mais próspera, livre, justa e igual para tod@s, logo tod@s são bem vindos na execução desta tarefa!

Grande Parêntesis__________________________________________________
Portanto, irritava-me sempre qd a malta axava q n valia a pena ir a Santos distribuir panfletos (nas campanhas eleitorais e outras...) e acabávamos quase sempre invariavelmente por ir ao Bairro... Claro que há q estabelecer prioridades ao nível dos espaços sociais onde escolhemos intervir, mas custa-me sempre que em nome disso (embora seja mais mm em nome da preguiça e desmazelo...) se excluam certos territórios. É que o exemplo das distribuições para Jovens na "Noite" são apenas um entre muitos!________________________________________

O ideal seria até convencer quem goza de privilégios extraordinários a abdicar deles, pois passaria a viver num mundo bem melhor! E muitos até abdicam ou lutam contra privilégios que eles próprios usufruem... Mas a história diz-nos que essas são excepções...

Até porque há mais coisas para além dos indivíduos, as leis, instituições, as relações entre estas e os indivíduos... Este conjunto forma um sistema, e é no "framework", é no contexto, desse sistema que os indivíduos operam. Ora por mais "bonzinhos" que sejam os indivíduos as suas acções são moldadas e restringidas pelo papel que desempenham no sistema e as instituições de que fazem parte (que podem ser várias e contraditórias), e sobretudo se muito poderosas, o objectivo das instituições/organizações é sobreviver e crescer, nunca se auto-dissolverem (a n ser q a isso sejam forçadas)... Por isso é q o progresso é tão difícil, alterar o status quo, mesmo que em pequenas coisas tem o risco de por em causa muitas das leis e tipo de relações existentes entre diversos agentes da sociedade, ora ao mudarmos isso tira-se a sustentação de muitas instituições e altera-se o próprio modo de vida de muita gente... O que implica sempre elevados níveis de "atrito social".

Por exemplo, quando nos anos 70 do século XVIII os habitantes de 13 colónias Britânicas começaram a refilar com a metrópole a sua reivindicação estava longe de ser a independência. Existiam laços enormes e poderosos entre as colónias e a metrópole e a maior parte dos colonos considerava-se Inglesa. Aliás por isso mm é que não admitiam que a Coroa quisesse começar a cobrar impostos sem que eles, colonos, tivessem representantes no parlamento Inglês. Pois mas se tivessem deixavam de ser colónias para explorar, para se tornarem numa parte integrante do Reino Unido...Ora n era esse o interesse da Coroa... Portanto, das duas uma, ou a relação das colónias era de tal forma dependente que tentando algumas concessões uma separação nunca seria de considerar ou então, as imposições da coroa eram de tal forma restritivas, que, apesar de tudo, seria melhor tentar o futuro enquanto nação independente. E entre os colonos havia toda a palete possível de posições... No final aqueles que preferiram um futuro livre e independente acabaram por reunir mais força social que os seus adversários, mas foi um processo duro e longe do linear...
Logo, pelo que a história nos ensina e reflectindo acerca dos processos de transformação social, é fácil perceber que sem confrontos sérios e inclusive a eliminação física de algumas instituições actualmente existentes é impossível, até um programa cauteloso como o do BE, ser implementado.
Portanto a primeira questão fulcral é da relação Massas - Bloco.


Na Blogoconferência às páginas tantas (+- aos 4 minutos) João Gomes do Risco Contínuo lembra a Louçã que no acampamento de jovens de 2005 (e no deste ano tb, já agora LOL) existia um workshop de desobediência civil, pergunta o João como pode o Bloco querer ser governo e ter tais iniciativas ao mesmo tempo? Uma pergunta que José Santos do Loja de Ideias volta a fazer...
Bem, mais do que nunca, será quando o Bloco for (ou fizer parte de um) Governo que irá necessitar de apoio e mobilização de massas. Indo para o centro do Poder de Estado com o compromisso de aplicar o seu programa (ou até um com menos detalhes, mas com os mesmos objectivos fulcrais), nunca conseguirá o BE e o seu Governo implementar o esse programa se n tiver força social, militância, influência em associações e redes diversas, etc... suficiente para fazer cumprir a democracia. Perante a campanha, essa sim negra, mediática-social-económica que se irá desencadear contra um governo deste tipo só com muitas manifes, ocupações, greves, piquetes e mobilizações de todo o tipo se poderão ultrapassar os obstáculos erguidos pela reação (estão a seguir o debate sobre a "Health Care Reform" nos EUA? é um bom exemplo actual). Mas n é só qd for governo, mesmo antes! A mera ameaça de uma alternativa popular consistente com hipóteses de triunfar sobre o actual centrão apodrecido irá levantar uma fronda! Só um movimento amplo com raízes profundas no tecido social pode aspirar a ganhar esta batalha.


Agora há aqui duas coisas, duas prespectivas... uma coisa é a "dinâmica inata" da sociedade e movimento popular, outra coisa é a relação e influência do BE no movimento, ou melhor, a capacidade do BE ser factor de polarização, a capacidade de ser instrumento eficaz ao serviço de um povo minimamente organizado e consciente.

Ora para isso é preciso da parte do Bloco não só vontade de desempenhar esse papel (que até é uma espécie de minímo denominador comum, isso do BE ser porta voz do caleidoscópio de reivindicações, associações e movimentos da "sociedade") mas mais, a vontade (que n é unânime nem vista da mesma maneira) e capacidade de intervir directamente no terreno de forma a fomentar uma dinâmica popular de alternativa-protesto, que encontre no BE a sua natural expressão no campo político partidário.

Bem, a verdade é que o BE tem desenvolvido know-how e uma máquina relativamente bem oleada de campanha, de realização de eventos. Isso é preciso, mas é muito pouco para o que o futuro exige.
Nestes últimos 10 anos o Bloco teve um papel importante em muitas mobilizações, a questão de Timor, logo em 99, as manifes anti-guerra de 2003, ou a campanha do Aborto em 2007. No movimento estudantil, ou nos sindicatos tem e teve presenças pontualmente importantes. Mas tanto a estrutura e militância do Bloco sempre foi muito estreita, como a capacidade do BE convocar protestos de massas é nula quando nesses protestos não existem outras grandes organizações (O PS no Aborto, o PCP e muita esquerda na Guerra, uma enorme dor na consciência colectiva no caso de Timor).

Mesmo no caso dos Professores, sector onde o Bloco, até "sociológicamente", tem um peso muito grande, sector que esteve em luta por um longo período, neste sector (terreno mais fértil no Portugal de hoje n vejo) o Bloco parece-me ter construído muito, muito pouco... Pelo menos nunca vi surgir liderança alternativa, ou uma linha não necessariamente em oposição à direcção sindical do PC, mas um verdadeiro movimento democrático, combativo e inteligente. Lá está até surgiram muitos movimentos de professores, mas daí nunca se passou mais longe e o facto é que o "Centro" do BE não me parece que tenha estado muito interessado nisso.

Bem claro que a capacidade de construir alianças e amplos movimentos é fulcral, o que estou a dizer é que quanto mais o Bloco tiver capacidade de convocação de protesto mais condições há de criar ainda mais amplos e mais radicais protestos originários do próprio movimento popular. Até porque se há coisa necessária neste momento é que o movimento popular consiga ganhar massa crítica suficiente para realizar acções de massas (por exemplo uma manife de 50 000 pessoas) não tutelada por CGTPs, PCPs ou outras organizações existentes... Pq se isso for possível então muito mais facilmente se arrastarão os "hesitantes" e "vagamente confusos" que é normal e saudável sempre existirem.

Não estou a dizer que o Bloco deve ser uma nova corrente transmissora, sejamos claros, mas deve e tem de n apenas assistir e depois dar conferências acerca dos movimentos sociais. Tem de estar neles, dinamizá-los e tentar por tudo que eles se desenvolvam o mais possível. Claro que os militantes do BE e muitos grupos do BE e de militantes fazem isso mesmo, mas não é essa a prioridade do BE, do "Centro" que partilha a hegemononia e dirige o BE.

Mas lá está, por tudo o que acima exposto, digo que o Bloco deve ter como sua máxima prioridade pós eleitoral:

1 - Criação de Núcleos sectoriais (empresas, escolas, etc..) e regionais do BE no máximo de espaços possíveis, com alguma autonomia e auto-determinação sobre si próprios, bem como com real influência na definição das grandes linhas estratégicas do movimento. Dinamização da luta social popular.

Já agora, isto juntamente com estas duas coisas q tb são fundamentais:

- Elaboração em conjunto com o máximo possível de outras organizações/pessoas de um "Programa de Salvação da República";
- A par, construção da plataforma política que irá implementar o programa caso seja aceite pela maioria da nação;

A questão aqui é que o "Centro" nunca teve o ponto 1 como prioridade e em grande medida discorda com a formulação acima feita. O problema é que se o BE n revir muito bem a sua abordagem à questão ou será comprado pelo sistema ou será esmagado. Para cumprir o seu programa o BE terá de crescer, é necessário mais luta social e, sobretudo (pq depende mais de nós), o "Centro" do Bloco terá de ter estes eixos como prioridades reais. O problema é que isso implica custos.

Um movimento de massas não é controlável como o BE é neste momento, n é que o BE seja assim tão anti-democrático em termos formais (como algumas tendências dizem, claro que há um caso ou outro de abuso, mas nada de dramático...), e é verdade que nem tem centralismo democrático... Mas tb n precisa pois não tem vida própria fora do "Centro" que justifique esse tipo de regras, pode abdicar delas, o controlo é exercido pela absorção ou exclusão por parte do "Centro" de toda actividade do BE, e o que n está no "Centro" não conta lá muito... Mas lá está o Bloco n pode ser só "Centro" se quiser cumprir a sua tarefa histórica.

Como disse o Miguel Portas no encerramento de um congresso do PSR, "O Bloco precisa de mais articulação e menos dirigismo"

E é neste momento que n resisto colocar esta imagem do Clube Jacobino.


Jacobinismo uma faca de dois gumes

É que os Jacobinios tb n tinham centralismo democrático! Mas foi isso (e pior) que Trotsky chamou a Lenine quando este apresentou a sua proposta de um partido de quadros. Trotsky criticou, e bem na minha opinião, a desconfiança latente das massas e da democracia que prepassava nas propostas de Lenine (isto foi em 1903 na altura em que o PSDOR se cindiu em Mensheviques e Bolsheviques). Ora bem essa desconfiança está tb aqui latente, nesta resposta que Louçã (a única parte da entrevista em que diz algo com o qual n concordo) dá ao José Santos do Loja das Ideias acerca das directas.

Ora, existe da parte de alguns sectores do Bloco tb uma espécie de excesso de zelo Jacobino pelo controlo e centralismo, com medo de se perder a virtude... Aliás a resposta do Louçã é um espelho disso, "já viram o que era se houvesse directas? acabavam-se as mulheres na política e era só Valentins Loureiros a polular", pouca confiança no povo e na democracia... Isto comé tudo uma espécie de cavernícolas meio envernizados, o melhor é haver um "Centro de Iluminados" que com a legitimação formal faça as escolhas decisivas, assim depois a ralé pode fazer a escolha dentro do que a "Virtude" impõe.

Bem, n só de princípio sou contra essa postura, pois a Democracia, custe o que custar é para manter e mil vezes o tumulto democrático ao silencio virtuoso dos cemitérios... Mas mais, axo que esta postura, neste momento, é um empecilho que impede o Bloco de se desenvolver...

É preciso lidar melhor com os conflitos e aceitá-los como inevitáveis, é preferível que exista menos dirigismo e mais movimento, mesmo que isso implique aceitar que o número de erros que serão cometidos aumente... È bem melhor que actividade do movimento aumente 200%, mesmo que isso custe um aumento dos erros de 20%... N sei se tão a ver...

Numa reunião, Louçã respondeu a uma questão que tinha a ver exactamente com os delegados para a convenção serem eleitos por núcleos(de fábrica, escola, etc...), ou seja, por "unidades de acção política real" e não por mera divisão geográfica administrativa, a sua resposta foi a seguinte: "o Bloco n é uma federação de núcleos, a direcção é eleita com base num programa político e a disputa é feita nesse plano, o bloco n é uma soma de particularidades".

Eu concordo com esse princípio Jacobino, agora nada impede que seja exactamente ao nível dos núcleos, onde se executa política real, que se discutam os programas globais e emanem os delegados que vão discutir as prioridades gerais à Convenção... E aliás, n é q hoje em dia n exista e até tenha alguma vivacidade, mas muito mais importante seria que esses documentos e princípios fossem discutidos pelos militantes nos espaços e organizações do BE onde, de facto, praticam a política e activismo... O problema é que a discussão iria gerar muito mais variantes e claro mais particularismos viriam à superfície e muita asneira, mas tb muitos contributos determinantes que hoje nem têm espaço para emergir!

Eu até gosto mt dos Jacobinos, e na minha lista tão perto do Nº1 dos que mais deram um contributo positivo para a evolução da humanidade, agora, aprendamos alguma coisa com a história... um pouco menos de obesseção com a virtude e um pouco mais de confiança no povo e democracia são necessários neste momento. Neste momento... Qd chegarmos, se chegarmos, a fases do processo mais avançadas logo teremos de reavaliar a situação...

No fundo o que estou a dizer é que a Hegemonia Partilhada (entre PSR e UDP) em que o Bloco se formou e floresceu tem de acabar definitivamente e n apenas pela injecção de personalidades relevantes (como quem diz...) da vida social nacional no BE (que tb acaba mais por ser ao nível da visibilidade q outra coisa...). Tem de haver um novo folêgo, um reorganizar menos centralista e mais radical do movimento... Claro que com mais vida e democracia novas regras serão necessárias e alguma espécie de disciplina e unidade na acção é indispensável.

Bem a sede estar quase arranjada! Isso é muito positivo e é um exemplo como uma centralidade pode ajudar a dinamizar um movimento... O facto do BE estar espartilhado por Lisboa em n sedezinhas n tem ajudado nada...


Já agora e pq acima falei da Revolução Americana, cá vai uma imagem icónica dessa revolução publicada num jornal de Benjamin Franklin, é num estilo mt Jacobino... N é exactamente a mensagem de baixo, mas n é assim tão distante tb...


Abaixo outro símbolo da Revolução. Esta era das bandeiras mais comuns entre os Patriotas e o novo Exército Continental. Já n é tanto Jacobina, revela mm uma Punk Atitude LOL

1 comentário:

Jorge Ramiro disse...

Eu estava lá, eu encontrei alguns excelentes exposições. Eu acho que vi um dos membros quando ele estava em um dos restaurantes em vila madalena.