quinta-feira, 9 de julho de 2009

Amin Malouf na Gulbenkian, Aviso à Navegação


Pois é, ontem Amin Malouf deu uma grande conferência na Gulbenkian. Grande pela multidão que lá esteve e pelo que disse. Aliás muitas das preocupações que sublinhou face ao presente e futuro da humanidade, sobretudo no início do debate, foram as mesmas que eu com outras palavras e tom transmiti na minha intervenção na VI convenção do BE (quem tem dúvidas pode ter o prazer de revê-la aqui).

Só duas notas, primeiro, foi muito uma perspectiva a partir da discussão da questão Cultural (no seu sentido mais lato), das migrações e do Choque-Encontro de civilizações... Também raspou na questão Ambiental, mas sendo estas dimensões determinantes para a construção de um outro mundo a verdade é que: a economia, sustentabilidade, a produção/distribuição de bens e serviços são áreas incontornáveis e sobre isso a reflexão de Malouf é limitada. De qq das formas subscrevo praticamente tudo o que disse... Sobretudo a tese dele que o mundo nos últimos 20 anos mudou profundamente e a humanidade ainda não criou "regras" e instituições" que permitam, no limite, a sobrevivência da espécie humana neste novo mundo, ainda, sem regras.

Bem ele regras tem, só que não são explicitas e são de tal forma moldadas ao serviço dos interesses do Império e do grande Capital que acabam por ser um autêntico garrote ao desenvolvimento e progresso da humanidade...

A segunda nota é relativa às quatro fontes de esperança que Malouf enunciou, a saber:
- Progresso Científico;
- Emergência do Sul, nomeadamente India e China;
- A União Europeia como modelo/utopia para o governo mundial;
- Obama o Símbolo e o Homem.

Bem, isto dava uma tese de doutoramento pa cada um dos tópicos, com várias nuances subscrevo estes "pilares de esperança", EXCEPTO A PARTE DA UNIÃO EUROPEIA, aí o homem atirou completa e redondamente ao lado, até quando começou por dizer que a UE tinha-se formado como uma associação voluntária de estados livres que pretendiam viver em paz e cooperarem uns com os outros... Vamos ver, um processo voluntário? Quer dizer, depois das duas mais bárbaras e brutais guerras que a humanidade alguma vez assistiu, que foram acima de tudo guerras civis europeias, depois das potências continentais terem sido todas elas derrotadas, estando confrontadas com o novo Império Americano a Oeste e o misto de "perigo Vermelho/imperialismo Russo" a leste, o que é que a França, Alemanha e Itália iriam fazer???
Já aqui lancei várias reflexões sobre a Europa e a União Europeia, , , .

Acrescento apenas isto, a Europa é muita coisa, mas é também o Continente que protagonizou os maiores Massacres, Barbáries, foi palco da maior Violência e das mais devastadoras Guerras. A Europa foi forjada a ferro e fogo, e foi assim que também praticamente subjugou o resto do mundo. E isto são coisas que vêm muito de trás e, muito importante, estão sempre latentes mesmo que achemos que isso "são tempos que já lá vão"... Portanto cuidado, muito cuidado em relação ao futuro e a olharmos para a Europa como modelo quase perfeito de sã convivência entre os povos... Se há coisa que a Europa não é, é ser uma espécie de região idílica, em que a Paz e a Integração Social são valores primordiais...
Aliás se esses valores estão presentes, isso deve-se ao movimento Operário/Popular-Comunista/Socialista/Anarquista que aqui na Europa se desenvolveu e floresceu como em nenhum outro continente.

PS - Também curti a respostas que Malouf deu a algumas Barbaridades ditas pelo António Vitorino (que foi uma espécie de anfitrião da conversa), o Eduardo Lourenço também falou, ou melhor discorreu, pó que ele disse podia ter gasto um quarto do tempo que gastou...

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