sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Gás Incendiário, Motins na Letónia e Bulgária

Este texto é para falar da crise do Gás e dos motins que nesta 4ªfeira, dia 14 de Janeiro, abalaram quer Riga (na Letónia), quer Sófia (na Bulgária).
Mas antes disso não resisto a fazer uma breve contextualização, ou melhor, digo antes o seguinte, esta crise vem trazer ao de cima o completo beco sem saída em que está a União Europeia e o completo descrédito entorno do “Projecto Europeu”, da ideia que Europa era sinónimo de progresso, de abundância… A Arte é um reflexo do seu tempos, há obras que condensam as várias camadas da realidade, dão nos uma visão mais vasta do momento (uma espécie de “zoom out”, ou in de certos pormenores), como que conseguem fazer uma brilhante síntese de todas as contradições que povoam o nosso tempo, é isso. A imagem acima é uma dessas…
Pelo que dizem é de tradição o início de cada presidência da União Europeia conter a inauguração, apresentação, de uma escultura, obra de arte plásticas, uma cena nesse género… Este início de ano coube à República Checa as honras da casa, e vai de contratar um artista, assim tipo “Cheko Irreverente”, bem conseguiram, leiam que vale a pena… A peça em si e a história de opereta por trás dela, é o mais cristalino retrato da actual União Europeia! É uma manta de retalhos, esquizofrénica, fossilizada, impotente, ridícula, grotesca, decadente… e a completa estupefacção, e incapacidade de resposta por parte da “Presidência” Checa é apenas a cereja no topo do Bolo…


Isto só não é para rir às gargalhadas porque, na Letónia, o PIB decresceu 4,6 % neste trimestre em comparação com o mesmo trimestre em 2007. O Governo quer impor um plano de austeridade (congelamento de salários, redução drástica da despesa pública) e a juntar à festa temos um Inverno frio, mas sem Gás… Não sei se porque tiveram inveja dos gregos (aí a situação ainda está efervescente), ou mesmo porque isto está muito complicado, em Riga houve manifestação, com tentativa de assalto ao parlamento e confronto violento com a polícia.
Na Bulgária, também pela falta de Gás, mas também “porque não queremos continuar a ser os mais pobres e mais corruptos da União Europeia”, vá de manifestar em Sofia, e de novo confrontos… Aí também há pouco tempo um estudante foi morto, aliás aqui também, não foi um estudante, foi um jovem negro dos subúrbios. O caso veio ao de cima mas depois desapareceu do ar… Mas este sábado à manifestação/concentração em frente à esquadra da zona…
Quando ouvi o Durão a dizer, que se a Rússia e a Ucrânia não se portassem bem, levava o caso a tribunal fiquei de boca aberta, levar a tribunal? Sinceramente, foi a isto que chegamos… antes a União ERA o tribunal… A mim só me faz lembrar a Liga das Nações nos anos 30… Pela primeira vez é claro que pertencer à União Europeia não significa entrar num espaço imune a ameaças de terceiros, não é uma rede de segurança que impeça um país de cair no abismo. A União demonstrou ser vulnerável num sector estratégico chave, a energia. Que a Europa era impotente nas questões internacionais mais globais como o médio-oriente, conflito Israel-Palestina, etc, já sabíamos, agora sabemos que, mesmo quando interesses vitais de vários estados membros estão em jogo, a União Europeia é incapaz de sanar o problema.

A União já não tem saídas, atingiu os limites da expansão geográfica com a Turquia a sudeste e a Ucrânia-Georgia a leste a servirem de tampão. O desenvolvimento interno institucional está bloqueado graças aos Não Francês, Holandês e Irlandês. Veremos de que forma esta UE responde à magna crise económico-financeira que já estamos a viver, será um teste decisivo, quiçá fatal…
Se há altura oportuna para uma reformulação completa do “Projecto Europeu” e para afinar os seus objectivos é agora!
- Como garantir direitos políticos e sociais mínimos a tod@s os cidadãos da EU?
- Em que áreas é mais fundamental concentrar esforços, e cooperar a nível europeu, para ganhar economias de escala e de rede (Transportes, energia, telecomunicações…)?
- Que postura ter na cena Internacional? Que nível de coordenação e de poder sobre as políticas externas de cada estado?
- Até que ponto é necessário um processo de integração global? Será desejável avançar apenas em alguns sectores (estilo carvão e Aço, mas com update para as necessidades de hoje), sem necessidade de construir um pseudo-super estado?

Parece-me necessário um projecto político forte, e não apenas irmos pelo caminho exposto no último ponto, mas como conseguir um projecto forte, que dê liderança, um rumo e que seja partilhado pelos 25 países? Um projecto mobilizador para os 25 povos Europeus era disso que precisávamos… Será possível? Não sei mas por agora é o caminho a trilhar.

Grécia, revolta contra a corrupção, delapidação das condições de vida e aos desvios autoritários do estado. Letónia, revolta contra um pacote de austeridade. Bulgária, mais ao menos o mesmo mas com o sentimento de serem os piores dos piores… E vão se suceder as crises… Não sei porque começa a fazer a lembrar a América Latina nos anos 80-90… Por cá até já há rumores da remoção do cordão sanitário que impedia o acesso de Alberto João à política nacional

E é verdade ainda à Gaza (este post tá muito bom)…

Este ano promete!

1 comentário:

um anarco-ciclista disse...

O Bloco de Esquerda resolveu publicar uma notícia sobre Hugo Chavez e a aprovação pelo parlamento bolivariano duma emenda constitucional que permita a reeleição sem limite de mandatos não apenas para a Presidência da República Bolivariana, mas de vários titulares de cargos políticos como alcaides ou governadores, emenda essa que ainda terá de ser refendada pelo povo.
Pode ser consultada AQUI: http://www.esquerda.net/index.php?option=com_content&task=view&id=10395&Itemid=26

A notícia que o Bloco de Esquerda produz, é tendenciosamente anti-Chavez, defindo o processo bolivariano com a expressão revolução socialista metida entre aspas, isto é: "revolução socialista". Está claro, porque da língua portuguesa, também percebo um pouco, como as aspas servem para perjorativamente darem a entender que, de socialista e de revolução, não há nada na venezuela. Se achassem que existisse, já não lhe punham "aspas", escreviam apenas revolução socialista.

Mal entendido ou teoria da conspiração? Infelizmente, a comprovar o mau juízo bloquista sobre a revolução bolivariana na Venezuela, está o eloquente facto de que, enquanto comentários pro-chavista à notícia foram censurados e excluídos, o Bloco de Esquerda, permite que um reaccionário comente:

"Que palhaçada! Oxalá o povo da Venezuela consiga correr com esse tirano!"...

Muito preocupado com a possível "reeleição ilimitada de Hugo Chavez" - como escrevem -cabe lembrar ao Bloco de Esquerda, que Francisco Louçã, Fernando Rosas, Miguel Portas ou Luís Fazenda (entre outros) têm concorrido ininterruptamente aos lugares de deputados desde 1999, exercendo os cargos e, provavelmente, virão ainda (e pelo menos) a concorrer em 2009 para se manterem reeleitos até 2013. É pena que, progressivamente, o BE esteja a saltar para a barricada daqueles que se opõem a Chavez e ao processo bolivariano.