sábado, 14 de junho de 2008

Paralisação dos Transportes, uma síntese

Ao longo dos últimos dias fui registando as minhas reflexões e sentimentos acerca da paralisação dos transportadores de mercadorias:

Á Pedrada!

Sangue no Asfalto

Uma Luta Exemplar

O aumento do preço do Petróleo, que daqui para a frente irá continuar de forma inexorável, a par com o aumento do custo de muitos outros recursos e matérias-primas implicará mudanças radicais no nosso quotidiano, modo de produção e por consequência de toda a super-estrutura, instituições, ideologias, etc…
O caderno reivindicativo dos transportadores era corporativo e não dá resposta aos problemas, não só do longo, mas mesmo do curto prazo. Para começar a solução não é baixar os impostos, mas nacionalizar este sector estratégico e orientá-lo para servir a sociedade e não acontecer ele a servir-se dela. E os impostos deverão ser utilizados para reconverter a nossa indústria e não manipulados para manter a curto prazo uma realidade insustentável.
Mas no actual contexto político-social não são essas as lições essenciais, ou digamos, mais urgentes…

Popular

Confesso ser impressionante a diferença de ambiente que senti quando lia a opinião publicada e quando ouvia os comentários no dia-à-dia.
Trabalho numa indústria e o meu trabalho foi profundamente afectado por este acontecimento. Lidei ao vivo e a cores com inúmeras empresas, pessoas cujo trabalho e os lucros, foram bloqueados por este protesto, no entanto não ouvi um único grito de revolta contra os piquetes, nunca ouvi (apesar dos custos) ideias de se formarem para-milícias para romper o bloqueio. Antes pelo contrário, só ouvi apoio e compreensão por este protesto. Aliás cada vez mais vou ouvindo que com o aumento do petróleo cada vez se ganha menos… Que qualquer coisa tem de mudar… De facto, este protesto só atingiu esta magnitude pela passividade cúmplice do conjunto do tecido empresarial…
Por isso mesmo soou-me algo desprendido da realidade os uivos histéricos que povoaram a blogosfera. Chego à conclusão que só quem não tem relação quotidiana com a realidade do tecido produtivo nacional pode ter lançado essas postas de pescada.
Aumento dos custos de produção, diminuição dos preços de venda, falta de liquidez (essa é uma queixa constante, ninguém está a pagar produtos a tempo e horas, acorda-se a 60 ou 90 dias mas as empresas só recebem seis meses depois…), cada vez mais a única solução (tal como fazem os trabalhadores em número crescente) é ir para o estrangeiro… Todos sabem que alguma coisa tem de mudar…
O cidadão comum também simpatizou com o protesto foi bom ver o governo impotente e encostado contra a parede…

Impacto

O país parou… Todos vimos, sentimos e ouvimos… A situação tornou-se de tal forma insustentável que o governo teve de ceder e foi completamente desautorizado. Já se viu, que a inflexibilidade é só para com os que não têm capacidade de reposta, ou que pior, que auto-impõe restrições aos seus movimentos de resistência. Também se percebeu que para obter resultados é preciso mais do que desfiles… É preciso demonstrar força, capacidade de sacrifício, confiança e não aceitar as regras de um jogo viciado à partida.

Organização na Acção

Outro ponto tem haver com o facto de este ter sido uma acção à margem, até contra, a associação “representativa” (afinal não representava grande coisa…) do sector, o protesto foi sendo conduzido pelos piquetes de activistas no terreno, quando a associação ad hoc tentou desmobilizar o protesto após uma reunião com o ministro foi ultrapassada pelos homens do terreno teve que dar o dito pelo não dito. Após 1 morto, vários incidentes, e à beira do caos, numa assembleia foi decidido o fim do protesto. Muitos sentiram-se traídos, talvez com razão, fizeram os sacrifícios pagaram um elevado preço e não obtiveram tudo o que queriam. Mas sempre arrancaram várias concessões e foram protagonistas de uma explosão que deixou marcas e um importante exemplo.
É verdade, o patronato organiza-se muito mais facilmente que o trabalho e tem à sua disposição meios mais poderosos, mas ser para o trabalho mais difícil não é desculpa. É preciso mais organização, inteligência e até mais altos sacrifícios mas um impacto ainda maior é possível.

Exemplo

Alguns tabus quebraram-se, o mais provável é assistirmos a um multiplicar de lutas de vários sectores e que essas lutas assumam um carácter mais radical.
A situação é explosiva, um aumentar da instabilidade da já frágil situação internacional, um incidente em tempos “normais” sem relevância, pode criar ondas de choque profundas… O país precisa de esperança e soluções.

A Resposta

O status quo está em descrédito, numa curva apertada, a sua única saída é aumentar a parada, mas ainda não têm força para isso! Este é o seu momento mais frágil, se não aproveitarmos agora para ganhar pontos, em breve, perante um pântano politico-social, instável, conflituoso e sem respostas, para além de um constante não, a Direita vai se reagrupar e atacar em força.
Antes disso temos nós de agir e agarrar o momento! Sobre isso já tenho falado e gaurdo mais para um próximo post.

The heat is on!

PS – Nem todos na blogosfera seguiram o Nacional-Totosismo, ou a Reacção pura e simples, este post do WeHaveKaosInTheGarden resume muito do que penso.

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