Por falar em Performances... Por vezes há a sensação que as performances, o teatro, são instrumentos para fins meramente recreativos... A verdade é que as palavras, sobretudo se conjugadas com uma boa encenação, podem ter um poder tremendo.
Trago aqui um exemplo real disso mesmo, em 15 de Março de 44 AC Julio César é assassinado por um grupo de Senadores...
Pequeno parêntesis... É preciso dizer que César era do "partido" Populares, por oposição aos senadores conspiradores que eram Optimates... Ou seja, César foi assassinado não tanto por ser um "tirano" que queria destruir a "República", mas sobretudo porque estava a lançar um conjunto mais profundo de reformas em favor da Plebe e a levar acabo uma reforma administrativa capaz de dotar a República de instituições adequadas para governar um Império que na altura já abarcava quase todo o Mediterrâneo... Claro que César já se tinha assumido como "Ditador Perpétuo", mas tinha tb recusado a coroa que Marco António lhe havia oferecido numa cerimónia pública, ainda por cima, devido às suas vitórias militares e às reformas sociais em curso, César era venerado pelo povo... É assim que temendo pela sua posição social-política e económica, um conjunto de Senadores (que representavam a maioria do sentir do Senado) conspiram e cometem o assassinato de César...
Voltando à performance, Marco António, espécie de nº2 de César(se calhar mais conhecido pela estória de amor com Cleópatra), tb ele um dos Populares, tem de fugir do senado qd César é assassinado, os Conspiradores parecem que são donos da situação... Mas passados dois dias há o funeral de César, nesse funeral dois discursos ficaram para a história...
Brutus (dá a cara pelos conspiradores) faz o discurso contra o tirano em que justifica o seu acto perante a multidão. Marco António faz o elogio fúnebre a César, mas fez bem mais do que isso, este foi, literalmente, um discurso incendiário-populista! As suas palavras exactas não chegaram até nós, mas o tom, temas focados e as consequências estão documentados (inclusive os seus gestos mais teatrais).
No filme Julius Caesar, baseado na peça de Shakespeare, à uma performance brutal de Marlon Brando, que desempenha o papel de Marco António... A cena é exactamente o discurso no funeral de César e segue os relatos históricos...
O texto de Shakespeare é este. Não encontrei com legendas, mas há esta versão em Castelhano (LOL)...
Depois deste discurso o Povo em Fúria queimou o Senado e perseguiu os assassinos, não do Tirano... mas do "Amigo do Povo", líder do partido Populares.
Estas histórias e personagens andaram por aqui há mais de 2 000 anos...
Mas isto do líder popular-carismático, acusado de tirano pelas elites, mas que tem apoio da maioria do povo e até está a tomar umas quantas medidas "progressistas", faz me lembrar outras histórias bem mais recentes...
É também um exemplo longínquo do poder da palavra e das massas... António, na altura, não tinha o comando de nenhuma força armada, foi mesmo o povo em fúria que expulsou a elite da cidade. É verdade que o sentimento estava lá, mas foi a "actuação" de António que lançou a faísca que incendiou a pradaria. Foi um momento decisivo e precipitou a queda da velha República. Esta foi uma Performance que mudou Roma e o Mundo....
sexta-feira, 17 de julho de 2009
Importância da Performance, Marco António discursa no funeral de César
Posted by Francisco at 12:56
Labels: Análise Geral, arte, cinema, memória
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