terça-feira, 21 de julho de 2009

Mais do que escravos... Mas o que lhes aconteceu?

Fui ver aquela exposição que está no Museu Nacional de Arte Antiga, Encompassing the Globe, Portugal e o Mundo Séculos XVI e XVII.

O quadro acima foi dos que mais me chamou a atenção, é de um Holândes, do Século XVI e retrata o Chafariz D´El Rei (que era junto ao campo das cebolas). É que o número de africanos representado é enorme! Pelo q vi noutro blog das 166 figuras, 66 são identificadas como africanos...
E não tão só a "acartar carga", em baixo à direita, há um "mui nobre" cavaleiro, trajado a rigor (inclusive na capa aparece uma cruz de Avis...), que é um preto retinto...
Também nos Biombos Nambam aparecem alguns, pelo menos umas figuras de pele bem mais escura, e mais uma vez não são apenas criados (embora alguns estejam identificados como tal por experts na matéria, que está longe de ser o meu caso...). Nos biombos que representam navios, estão sempre representadas umas figuras empoleiradas nos mastros, a "brincarem" nos cordames do navio (a fazer o pino e outros malabarismos), pois essas figuras tb têm um tom de pele bem escurinho, muito mais do que outros q se vê serem claramente "tugas".
Se calhar estes africanos que andavam nas velas e cordames eram escravos, mas mais uma vez, desempenhavam um papel nas navegações que ia bem mais além da clássica imagem de criados domésticos em Lisboa, ou cortadores de cana de açúcar no Brasil...


E este aqui abaixo, pintado por outro Holandês, tem mesmo ar de cativo despojado de dignidade...


Não sei se há estudos sérios sobre o contributo dos Africanos para aquilo que foi a primeira rede de comércio e trocas global... Dá me ideia que o que existe cai muito na onda do coitadinho que foi escravizado e mais não foi que um "burro de carga" ao serviço da expansão portuguesa. Claro que foi esse o papel principal, mas pelo que vi das imagens da altura, há muito mais nesta história que isso...
Também fica outra questão, nos séculos XVI-XVII, em Lisboa viviam "resmas" de Africanos, cerca de metade da população, já ouvi por aí... Hoje pouco resta da sua presença e os que cá estão agora provêm de migrações bem mais recentes...
O que lhes terá acontecido?
Parece-me uma muito boa questão e é uma coisa que já antes me havia perguntado...

E já repararam no número de pinturas que são elaboradas por Holandêses? Também eles andavam por Lisboa... e Italianos? Os mapas eram quase todos feitos por eles e os missionários mais especializados (primeira embaixada na China, o que montou uma oficína de relíquias no Japão, etc...) eram também Italianos (só pa falar no que estava mencionado na exposição...).
Ou seja, Portugal "dirigiu" esta rede global, mas só o conseguiu porque se tornou numa espécie de Hub técnico-cultural do século XV-XVI... É que não foi por sermos os "máiores" que a malta veio aqui toda parar... Foi pq desde cedo a malta já vinha cá toda parar e houve esforço de quem dirigia o empreendimento em fomentar isso, que nos tornámos, por algum tempo, os "máiores"!

Pistas pó futuro...
PS - Muito, muito, muito, muitíssimo importante, Isto tudo só se passou pq tivémos uma RE-VO-LU-ÇÃO em que Bispos foram atirados do topo de Igrejas e uma assembleia popular nomeou um "Defensor do Reino..."

3 comentários:

FeminineMystique disse...

ve aqui para mais detalhes sobre a vida dos escravos em portugal: http://adpa.no.sapo.pt/neponlin3.htm#SUBS%C3%8DDIOS_PARA_O_ESTUDO_DA_ESCRAVATURA_NO_CONCELHO_DE_ALC%C3%81CER_DO_SAL

ouvi em tempos que uma parte da populacao no concelho de alcacer do sal ainda aparenta tracos fisionomicos indicativos da ascendencia africana. estariam associados a producao do arroz tipica da regiao, e que ate aos anos 70 estava tambem associada a incidencia da malaria em Portugal (e que so foi erradicada em 1973, acho).

Francisco disse...

Obrigado pela dica!

Telmo Alcobia disse...

eu fiz um trabalho sobre os biombos nambam. as tripulações que chegavam mais longe já não eram compostas por portugueses, somente lideradas por um fidalgo ou dois. a tripulação era constituída por negros (com quem os japoneses ficaram fascinados) indianos e outras nacionalidades. O vice-rei, na India é que organizava o comércio com o japão. A tripulação tinha cada um direito a transportar um baú de mercadoria para si, ou seja, esse era o seu pagamento, uma espécie de "contrabando legal". como tal não eram escravos, mas só trabalhadores precários