Os resultados das eleições italianas são uma das maiores catástrofes da história recente da esquerda. Não só Berlusconi voltou ao poder com maioria absoluta mas o Partido da Refundação Comunista foi totalmente varrido do parlamento e do senado italianos.
Na forma da nova coligação Arco-Íris a Refundação surgiu em conjunto com os Comunistas Italianos e os Verdes. Em 2006 o conjunto destes três partidos teve quase quatro milhões de votos e elegeu um total de 72 deputados para o parlamento. Com menos de um terço dos votos de 2006 a coligação não elegeu um único deputado. Para o Senado a história repete-se.
O resultado no entanto não é de estranhar. Bertinotti juntou-se ao governo Prodi com o argumento de que era necessário deter Berlusconi e evitar que a direita se apoderasse do governo do país. O resultado foi a Refundação a aplicar a política neoliberal. Ataques aos direitos dos trabalhadores e o envio de tropas para o Afeganistão e o Líbano (uma nova forma de pacifismo, dizia Bertinotti) foram apenas a face mais visível da decadência da Refundação.
Os eleitores da esquerda simplesmente abandonaram Bertinoti. Muitos certamente abstiveram-se, outros terão votado em Veltroni numa perspectiva de mal menor. Mas em sectores mais amplos do centro-esquerda muitos terão votado em Berlusconi. É que à falta de alternativa a maior parte das pessoas prefere o original à fotocópia. O ilustre camarada parece não ter percebido que o papel da esquerda alternativa é precisamente esse, o de ser a alternativa social à selvajaria neoliberal. Se a esquerda alternativa começa a ver-se como muleta do social-liberalismo o resultado é a catástrofe. Bertinoti já tinha debandado o movimento anti-guerra italiano com a sua entrada no governo. Agora acabou por tirar todas as vozes dissidentes do parlamento italiano. O poderoso movimento social italiano não tem hoje qualquer representação política ao nível institucional.
A história infelizmente não é nova. O Partido Comunista Francês entrou também num governo de "esquerda plural" com o PS de Jospin. O resultado é que hoje o PCF é uma sombra do que era há uns anos atrás.
Por infeliz que seja, o exemplo italiano deve ser uma lição a estudar por todos os que estão empenhados na constução de uma esquerda combativa e alternativa.
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