quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Que se passa na Venezuela? (III)

continuação do texto "Revolução? Bolivariana?... O Fenómeno Chavista e o socialismo do século XXI"

Populismo

Yo no juego con el pueblo venezolano, sus sentimientos o con su emoción, ¡yo vivo com ese sentimiento!, ¡soy parte de ese sentimiento!, y junto a todos ustedes lucho para hacer realidad la esperanza nacida y el optimismo que ahora nos baña.[1]

É talvez o que mais se ouve quando se fala de Hugo Chavéz, contudo para saber até que ponto o fenómeno aqui em causa é populista e sendo, até que ponto isso limita/condena a Revolução ao insucesso é necessário discutir-se, mesmo que de forma breve, o que se entende por populismo.
Antes de mais direi que as organizações, lideres, de natureza populista têm um discurso fortemente emocional, na procura da empatia e identificação com os sectores mais desfavorecidos da população, ou que numa dada conjuntura, não sendo os mais desafortunados, são alvo de uma regressão acentuada do seu nível de vida, esses discurso demagógico traduz-se no concreto em políticas do tipo paternalistas/caritativas que podendo, nos melhores dos casos, atenuar o sofrimento dos “pobrezinhos”, ou do “homem comum”, ou das “pessoas simples”, não ataca os mecanismos que perpetuam essa situação, até porque o objectivo, consciente ou não, não é o da emancipação popular, antes a manutenção do movimento popular num estado de fidelidade canina ao “grande protector”, ou “campeão do homem comum”.
Péron e o Peronismo é um destes casos, mesmo assim Péron quando no poder ainda tomou algumas das tais medidas atenuadoras, um dos seus sucessores, Carlos Ménem, apenas utilizou o discurso para chegar ao poder, uma vez lá seguiu a cartilha neo-liberal sem tirar nem por… O fenómeno Fátima Felgueiras, Valentim Loureiro e Isaltino são também casos de estudo. Não saindo do nosso rectângulo, Sócrates quando cortou alguns dos privilégios à classe política, como forma de legitimar a sua política de ataque total ao estado social deu-nos um bom cheirinho do que é o populismo.
Portanto para se definir como populista esta ou aquela medida, ou a natureza de uma dado movimento, tem de se ir para além do tom do discurso… Porque é inegável que para um intelectual europeu de classe média, como é o caso da maioria dos que lerem este texto, a postura, algumas das referências, o tom do discurso e até o background profissional de Hugo Chavéz remete para uma certa mitologia de coronel tapioca à sombra da bananeira. Contudo, é fácil de concordar, que essa é uma imagem, no mínimo superficial. Para além do discurso há que, acima disso, descobrir o sentido das medidas implementadas e da estratégia seguida pelo movimento em estudo.
Ora, as políticas implementadas e o seu sentido é claramente emancipatório, não se pretende um povo agradecido e subserviente, reforça-se a sua capacidade de actuação autónoma e auto-confiança, a prioridade dada à educação e alfabetização demonstram-no tal como tudo o que acima já foi exposto. Outro bom sinal é a concordância que existe entre o discurso e a práctica, as promessas e compromissos tomados são respeitados e mesmo que os mais ambiciosos sejam impossíveis de atingir no curto prazo (como o da criação de um bloco político Latino Americano semelhante ao sonhado por Bolívar), vêem se passos dados no sentido de alcançar esses objectivos.
Voltando à linguagem, tod@s sabemos que para a nossa mensagem chegar às mentes da população e provocar reflexão, identificação, acção, ou pura e simplesmente, discussão, no fundo, para que ela conte, é necessário antes de mais que seja perceptível e que sejam estabelecidos pontos em comum entre as várias partes em diálogo. Assim sendo, no país das Miss Universo e das famosas telenovelas (aquelas mal dobradas do início da TVI) à que adequar o discurso e para objectivos semelhantes ele não tomará a mesma forma em Paris, Caracas ou Lisboa. Isto não significa termos de limitar o discurso e referências ao mínimo denominador comum, desta forma não seria possível evoluir, a mestria de comunicação de Chavéz está em conseguir captar a atenção e empatia, não deixando de introduzir sementes de reflexão. É interessante analisar a evolução dos termos e conceitos utilizados ao longo destes anos, o socialismo, embora referido, não ocupava o lugar central que tem vindo a ocupar no léxico Bolivariano dos últimos tempos, veja-se o desafio lançado para a construção do Socialismo do século XXI.
A evolução do discurso, sustentado pela realidade vivida no terreno, revela o que tem sido o progresso deste processo. Como se vai conquistando espaço para romper cada vez mais barreiras, como são sustentados os passos dados, como cada avanço da revolução serve de apoio a outros novos avanços.

Se queremos salvar o nosso povo da pobreza, da miséria, da exploração e contribuir para a salvação do mundo da destruição da vida no planeta, descartemos o capitalismo. Não há outro caminho. Tem-se tentado caminhos mistos, intermédios, como o capitalismo humano. Essa é uma grande farsa: capitalismo humano não há, é como dizer do diabo que há um diabo santo ou um santo diabo. O único caminho que o nosso povo tem para sair do buraco onde há séculos fomos enterrados, é o caminho do socialismo, que devemos inventar nós próprios aqui: o socialismo à venezuelana, um socialismo adequado ao tempo em que vivemos.[2]

[1] Aló Presidente Nro. 249, Elorza, estado Apure; 19 de marzo de 2006
[2] Hugo Chavéz

1 comentário:

rack disse...

http://arepublicano.blogspot.com/

a proposito da nossa conversa sobre o fevereiro de 1908 envio-te este blog.