Na passada terça, em Lisboa realizou-se uma concentração no Rossio contra o golpe de estado em curso. Aqui está o apelo...
Já há algum tempo que não escrevo sobre o assunto... a situação, na minha opinião, não é catastrófica, mas tb não é nada positiva... Todas as tentativas (a mais espectacular foi qd tentou chegar de avião... e estavam centenas de milhares de pessoas junto ao aeroporto para o receber) que Zelaya fez para regressar às Honduras foram bloqueadas pelos militares... Se bem que os protestos continuam, dá me ideia que com o passar do tempo mais hipóteses há de o putsh se oficializar.
O pior desfecho possível para esta situação seria a aceitação, de facto, das exigências do regime ditatorial... O congelamento do processo constituinte, o afastamento de Zelaya da vida política e o corte com as políticas sociais seguidas.
Mesmo que Zelaya regresse, de que vale a pena ele regressar se tudo o que andou a fazer vai pó caixote do lixo?
Se os responsáveis pelo golpe permanecerem nos seus postos que garantias é que isso dá há democracia (nem digo q todos tenham de ser julgados! mas removidos dos seus cargos...)? Dá a garantia que sempre que os interesses da oligarquia forem beliscados o exército será chamado para "reestabelecer" a ordem e a "democracia"(deles claro...).
Mais, uma solução desse tipo daria enorme alento a todas as elites para seguirem este tipo de métodos! Eles bem q têm tentado na Venezuela em 2002, na Bolívia o ano passado, mas até agora todas as tentativas de intimidação têm falhado... Se agora forem bem sucedido é um balde de água fria pra cima do movimento popular por toda a América Latina...
Assim sendo, uma solução à "Clinton-Obama", acaba por ser uma rectificação dos objectivos políticos do golpe... Para mais nas Honduras, muito mais que na Venezuela (e outros países com governos progressistas...), as instituições estão 100% nas mãos da oligarquia (Congresso, tribunais, exército...), numa situação destas é muito difícil avançar sem quebrar com essas próprias instituições. Enquanto na Venezuela grande parte do exército e mesmo sectores da Justiça, puderam ser usados como ponto de apoio de reformas e dissuasores de acções de sabotagem, nas Honduras o Presidente e o movimento popular estão completamente isolados...
Esta é o momento para se poder fazer uma limpeza geral nessas instituições, só assim poderá o processo prosseguir.
Não estou no terreno, nem tenho bem presente a exacta correlação de forças, logo não vou mandar bitaites sobre o tipo de métodos a usar para derrotar o golpe. Só digo que quem está no terreno deve pesar bem as alternativas e não ter pre-conceitos em relação a nenhuma. O pior que poderia acontecer em toda a América Latina seria a vitória, de facto, dos golpistas.
O governo Venezuelano está perante um desafio complicado, deverá dar todo o apoio necessário ao movimento popular hondurenho para reverter a situação. Não basta Chavez fazer discursos inflamados é preciso acção para reverter a situação e como disse, avaliando a correlação de forças no terreno, nenhuma alternativa deve ser descartada e "há muitas maneiras de esfolar um gato". Aliás, e eles têm consciência disso, nas Honduras joga-se o futuro da Revolução Bolivariana. É minha opinião, inclusivé, já de há +- um ano pa cá, que o futuro da Processo Bolivariano joga-se, neste momento, mais no palco latino-americano, do que dentro das fronteiras da Venezuela...
E o Obama? Até começou bem, mas vejam os comentários da Clinton à tentativa de regresso de Zelaya...
Para além da imagem projectada pelo topo, a verdade é que o governo dos EUA jogou um papel importante no golpe, a embaixada, os militares, a School of the Americas, etc... Basta perguntar se todas as contas nos EUA pertencentes a elementos envolvidos no golpe foram congeladas? Pois... O Império percebe que não pode usar força bruta em todos os teatros, por isso tenta de mansinho ir levando a água ao seu moinho...
Abaixo coloco a intervenção de Tariq Ali no Marxismo 2008, nela Tariq diz mt coisa... Algumas mt importantes são:
- Só há política progressista se houver pressão da base, do movimento social, nos anos 30 Roosevelt só teve força para aplicar o New Deal porque foi empurrado/apoiado pelos sindicatos e outros movimentos. Esta é uma grande diferença entre a crise de 29 e a actual, é que na altura havia uma URSS e a luta social estava em ascenso;
- Calígula foi bem diferente de Cláudio, Obama de Bush, mas todos são Imperadores e o "hábito faz o monge"...
Ao contrário do que disse para a Venezuela, o governo Obama será bem sucedido*, sobretudo, se no plano interno conseguir fazer passar algumas reformas, educação, saúde, segurança social e o "green new deal", por enquanto parece-me que estas propostas andam a circular mas ainda estão mt, mt longe de serem concretizadas...
Aliás, deixo-vos aqui uma excelente reportagem da AlJazeera
De qq das formas o facto de o movimento estar a crescer é positivo, espero que o mesmo comece a acontecer noutros sectores, aliás por isto mesmo é que disse que uma vitória de Obama seria mt importante... N por esperar que o Império mude de natureza apenas porque o novo Imperador é um "porreiro", mas porque a sua escolha pelo povo dá um sinal galvanizante para todo o movimento popular...
Ou seja, com ele as condições para a acção e crescimento do movimento popular são bem maiores do que se o outro fosse eleito, agora as políticas só mudaram se o movimento conseguir aproveitar o espaço e impor a sua agenda.
(pelo menos introduzir um pouco de racionalidade no processo de decisão, de forma a que não seja apenas o grande capital a ditar os seus termos, prioridades e necessidades)
*bem sucedido no sentido de não desmoralizar e desanimar completamente as pessoas que votaram nele... sim pq Bush será uma piada comparado com o q vem a seguir caso Obama claudique completamente, aliás vai ser cá uma confusão...
sexta-feira, 31 de julho de 2009
Obama, Honduras e Império
Posted by Francisco at 14:43
Labels: America Latina, EUA, Honduras, Obama, Sustentabilidade
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