domingo, 23 de novembro de 2008

Em directo desde Caracas

Como prometido, em directo de Caracas, Pedro Bala, descreve este momento histórico da Revolução Bolivariana!

Muitos consideram estas eleições como fundamentais. Um dos membros da Coordenadora Simon Bolívar (CSB), organização política e social do bairro 23 de Enero, avançou com a possibilidade de distúrbios: “Se a oposição ganha no máximo dois Estados, reclamara fraude eleitoral e tentara destabilizar o país. Se ganha quatro Estados, lançara o caos lá para Fevereiro”. Para lá de qualquer especulação, estas são as primeiras eleições depois da derrota dos defensores do processo bolivariano no referendo que se realizou em 2006. A quem diga que aqui se joga muita coisa.

Por volta das oito da noite chegou Aristobolo, o candidato à governação do Distrito Capital, onde se encontra Caracas. Cerca de uma centena de pessoas esperava-o para uma breve reunião. No pátio da sede da CSB, Aristobolo explicou o objectivo do breve encontro. No dia seguinte, Chavez ia votar no 23 de Enero e convinha organizar uma recepção ao presidente venezuelano.

Por aqui, e apesar da lei seca que proíbe a venda de bebidas alcoólicas no dia das eleições e no dia anterior, o ambiente é de festa. Jovens cantam. Ouve-se o rebentamento de algum foguete isolado. A muita expectativa na rua em relação ao que se pode vir a passar. Contudo, o ambiente que se vive aqui também se repete noutros pontos de Caracas.

As três da madrugada começam a rebentar foguetes por todo o bairro. Dezenas de pessoas lançam-nos dos telhados dos blocos. Uma hora depois, a cena repete-se e uma camioneta de caixa aberta com dezenas de pessoas faz soar o toque de alvorada com cornetas. Dos amplificadores da CCB, soa o hino das FARC e, pouco depois, o hino do Exército de Libertação Nacional. O silêncio é derrotado e as luzes começam a acender-se nas janelas dos edifícios.

As cinco, já se acumulam dezenas de pessoas à entrada das secções de voto. Em frente à Praça Manuel Marulhando, cerca de 60 pessoas esperam a abertura dos portões da escola primária. A maioria das pessoas explica que quer votar cedo para dar tempo a outras de votarem depois. Num canto, uma mulher fala para as câmaras da Catia TV. “Apelo a todos os venezuelanos para que venham votar. Vamos defender o socialismo”, afirma. Em frente, os jornalistas desta estação televisiva de bairro estão vestidos com uniformes guerrilheiros. Ao lado, no chão, um jovem encostado a um muro tenta escapar ao sono mas vai cambaleando até fechar os olhos. Um idoso explica a importância das eleições para a Venezuela e para o mundo: “Porque esta revolução vai estender-se a toda a América Latina”.

Ali ao pé, numa outra instituição de ensino, mais de uma centena acotovela-se para votar. Nos amplificadores da CCB soa Sílvio Rodriguez: “Mi amor no es amor de mercado”. A gente que traz bancos para não se cansar na fila. Um rapaz com o equipamento da selecção venezuelana e com um boné do PSUV mostra o seu apoio incondicional à revolução bolivariana e explica que o 23 de Enero é um bairro revolucionário por ter sido oprimido por todos os governos da IV Republica.

O bairro 23 de Enero é uma das favelas mais emblemáticas de Caracas. A dezenas de blocos de prédios com mais de 180 apartamentos cada. Por todo o lado, a murais do Che Guevara, da Palestina, de Zapata, de Sandino, de Fidel Castro e, claro, de Simon Bolívar. Curiosamente, a um Cristo que empunha uma metralhadora. Por aqui, passaram gerações e gerações de homens e mulheres que combateram o capitalismo e o fascismo. E não é por acaso que se diz que este é o bastião da revolução bolivariana. No passado, as balas da polícia rasgavam o silêncio da noite e manchavam as ruas de sangue. Era a suja perseguição aos guerrilheiros que controlavam os becos e os telhados dos edifícios para defender a população.

Hoje, a situação é outra mas afirmam-se vigilantes. Não deixarão cair o processo revolucionário e mostram disposição para o defender com as armas, se necessário. Quando se deu o golpe de Estado em 2002, a população do 23 de Enero foi uma das primeiras vítimas. O fascismo venezuelano quis cobrar a fidelidade revolucionária com que os pobres das favelas defenderam Hugo Chavez.

Entretanto, as primeiras horas da manha desconhecidos dispararam contra jovens que se encontravam no camião do colectivo alternativo Tiuna El Fuerte. Os fascistas já iniciaram as suas tentativas de parar o inevitável. Na televisão, Ledezma, um dos principais candidatos da oposição, afirmava que não haviam deixado entrar alguns representantes seus nas secções de voto e que por isso a democracia e a liberdade esta ferida. Preparam-se, no caso de derrota, para não reconhecer os resultados.

Sem comentários: