sexta-feira, 28 de março de 2008

Uma tragédia americana


As eleições americanas estão a despertar uma onda de entusiasmo que ultrapassa em muito as fronteiras do país. A perspectiva de pôr fim a 8 anos de cruzada neoconservadora e a real possibilidade de pela primeira vez uma mulher ou um negro chegarem à presidência são certamente ingredientes importantes.


Mas a questão central destas eleições, dentro e fora dos EUA, é a questão do Iraque e da política externa americana. Obama tem captado as atenções com o seu discurso de oposição à guerra do Iraque. No entanto as suas propostas não são completamente originais.


A revista Foreign Affairs convidou os candidatos a escrever sobre as suas propostas para política externa, o que quer Obama (ver aqui) quer Hillary Clinton (ver aqui) fizeram em longos textos que estão a servir de base para os seus programas eleitorais. Quem tiver paciência siga os links e leia os textos. Pode também dedicar-se à interessante tarefa de descobrir as diferenças entre os dois programas. Caso não tenha fica aqui o resumo: um regresso a um multilateralismo musculado que inclui o estabelecimento de conversações com Irão e a Síria para estabilizar o Iraque, a retirada "responsável" das tropas do Iraque mas salvaguardando a manutenção de uma força na região que permita atacar a Al-Qaeda sempre que necessário, e last but not least concentrar o esforço de guerra no Afeganistão para derrotar a Al-Qaeda. Este é o programa de AMBOS os candidatos.



De notar que as propostas dos candidatos democratas são tributárias das conclusões do Iraq Study Group que em Dezembro de 2006 causou algum embaraço a Bush. Este relatório começou a cimentar um consenso de oposição ao projecto neoconservador que foi agarrado com entusiasmo pelos democratas. Não é no entanto um consenso pacifista mas sim de tentar salvar o imperialismo americano de uma derrota calamitosa no Iraque. Obama faz parte deste consenso e ninguém deve alimentar ilusões sobre as suas supostas vacilações. A sua política está bem definida (como resumi acima) e o homem não se cansa de a propagandear por todo o lado. Os democratas vão mesmo tentar sair do Iraque, o que não significa de forma alguma uma política de paz.



Perguntarão: mas então preferes o John McCain? Bom, se fosse afegão talvez sim, pois saberia que McCain iria concentrar os seus esforços numa guerra perdida no Iraque. Se fosse iraquiano talvez preferisse um dos democratas que tentaria abandonar o meu país para ir massacrar os afegãos. Se fosse americano e tivesse participado na revolta de Seattle e nas manifs antiguerra sentiria certamente a angústia de ter que escolher entre candidatos que propõem continuar a matar iraquianos ou passar a matar afegãos. Uma angústia reforçada pelo facto de o voto nos democratas ir mais uma vez adiar aquele que é um problema americano velho de gerações: a criação de uma organização política que represente realmente as aspirações do movimento popular. Como português posso apenas agarrar-me a este ponto e fazer uso da lição da criação do Bloco de Esquerda que quebrou o monopólio da representação do movimento popular pelo estalinismo do PC e o neoliberalismo do PS. É mesmo isto que vale a pena.

1 comentário:

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