sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Política e Partidos nas Faculdades e Quotidiano

Há um dia ou dois decidi juntar a este blog uma série de links para grupos de activistas de várias Escolas do Ensino Superior.... Lembrei-me dos tempos em que me envolvi no movimento estudantil, abaixo deixo dois legados dessa altura(talvez venha a publicar mais coisas...).

Um texto escrito por um camarada (não é meu) para o "17-68-74", jornal do núcleo de estudantes do bloco do técnico, que lançámos ao mesmo tempo em que estávamos na Direcção da Associação, olhando para trás tenho sérias dúvidas que tenha sido a mais sábia estratégia a seguir... Mas o texto vale por si, aborda um problema que sentíamos muito na pele e que hoje em dia tende a estar cada vez mais presente, a tentativa de excluir da escola tudo o que cheire a actividade partidária assumida. Mais, às vezes até a discussão política promovida por grupos de estudantes não necessariamente ligados a partidos, mas preocupados com o muito mundo que há à sua volta para além das sebentas das cadeiras que frequentam...
Publico também algumas fotos da que foi a das maiores mobilizações estudantis no Técnico, em Abril de 2000 quando paralisámos a escola e fizemos um plenário com mil pessoas seguido de manifestação.


Os Partidos e a Política na Faculdade

Nos últimos tempos assiste-se a uma crescente pressão a qualquer forma de organização partidária que actue numa faculdade, o trazer a política para a escola é cada vez visto com mais desconfiança, como uma intromissão num espaço que nada tem a ver com ela. A política dos “partidos tudo bem mas desde que seja fora da faculdade” ganha cada vez mais força. Este facto sugere uma reflexão aprofundada. Não são poucas as vezes que responsáveis políticos apelam a uma participação cívica na sociedade, o fomento a formas de organizações desportivas, culturais, associativas em geral, e no entanto, o que se passa é que todos os dias encontramos barreiras quando nos organizamos, quando queremos transmitir ideias, realizar debates, etc.

Queixam-se que a política está a afastar-se progressivamente dos cidadãos, mas o que vemos são políticas que efectivamente tendem a afastá-la dos cidadãos, o trabalho de base, no local de trabalho, na faculdade, tem sido cada vez mais dificultado. Mas será que queremos continuar a caminhar para um mundo onde a política tome progressivamente a forma de conteúdos de telejornal, de um conjunto de frases soltas na televisão e nos jornais? Uma questão de ligar ou desligar a televisão?


O que se passa realmente é que, tal como tudo o resto na sociedade, a política está a ser transformada em algo que se consome, mais um produto com o seu público alvo, no qual nós somos isso mesmo, o público, os espectadores e nunca os actores. Formam-se opiniões, criam-se consensos ou controvérsias nos media, e a nossa função está sempre em saber se concordamos mais com A ou com B ou nenhum dos 2. E isto não se passa apenas na política, no desporto e em muitas outras áreas é a mesma coisa.

É mais importante uma aposta num Euro2004 no qual não vamos ser mais que espectadores de uns jogos durante um curto espaço de tempo mas onde entram milhões de contos em publicidade, que apostar o mesmo dinheiro numa política de desporto escolar no qual fomentamos a participação de milhares de jovens nas escolas para a prática do desporto. É a diferença entre políticas que promovem o consumo duma actividade e políticas que promovem a participação na mesma.
Mas afinal o que é fazer política? A política não pode nem deve cair no erro de ser o palco apenas de algumas pessoas nas quais delegamos a responsabilidade de resolver os nosso problemas. A resolução dos mesmos passa por muito mais que uma participação nas urnas, passa pela nossa participação contínua nos locais onde trabalhamos, estudamos, vivemos. E é por isso que encaramos com estranheza o repúdio de algumas pessoas em relação ao facto da política estar presente na faculdade. Algo vai mal quando o pretender transmitir ideias que afectam a globalidade dos cidadãos é mal encarado por ser supostamente no espaço impróprio, fora do calendário eleitoral, fora do espaço-tempo correcto.

Trazer os partidos para a faculdade é descentralizar o monopólio de uma política que cada vez vive mais de uma imagem criada nos media, a qual é o paraíso perfeito para directores de marketing e de imagem, afinal o que interessa é vender um produto, arranjar a melhor embalagem.

Trazer os partidos para as faculdades por intermédio de pessoas que estudam lá é dar a conhecer à pessoas as ideias que as diferentes correntes partidárias têm, é esclarecer aquilo que não se consegue fazer em 5 minutos na televisão, que muitas vezes não é mais que um espaço de tempo, que por ser curto, serve apenas para usar frases feitas e que caiam bem na opinião pública.

No fundo, a presença dos partidos nas faculdades, nos locais de trabalho, nos bairros, a presença de militantes em todos esses locais e o seu pronunciamento sobre as questões locais é a forma mais próxima de fazer política, a forma que estabelece o contacto mais directo com as pessoas. Esta forma de fazer política tem de ser muito mais que uma correia transmissora da política dos partidos. Deve ser, acima de tudo, parte da base da construção do programa de qualquer partido, indo contra a lógica da militância do agitar bandeiras e colar cartazes e passando à militância baseada na participação no espaço onde cada um de nós passa o seu tempo.

O programa de qualquer partido deve acima de tudo ter como base a sensibilidade de todas a pessoas que participam no mesmo e isso implica recolher as sensibilidades dos vários locais onde existam militantes, da aprendizagem do contacto dos mesmos com a sociedade, de um diálogo que se deve estabelecer continuamente entre as organizações partidárias e o seu objecto de acção, isto é, o mundo que pretendem transformar (infelizmente nem todos os partidos o praticam, muitos não fazem mais do que recrutar tecnocratas e boys na altura das eleições).

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