quarta-feira, 20 de junho de 2007

Não há Vazios Políticos, os Donos do Dinheiro Tomam as Rédeas do Debate

Enquanto existirem sociedades humanas a questão do Poder estará sempre presente. É necessário um conjunto de regras, convenções e decisões têm de ser tomadas para que as comunidades resolvam os seus problemas e possam sobreviver. Na melhor das hipóteses, para que possam progredir.

Neste momento é claro que em Portugal estamos a atravessar um momento de aparente vazio político... O governo aparenta ter perdido muito do seu vigor, dito, reformista e a confiança que o povo nele deposita está a afundar-se a cada dia que passa.

Mas nesta última semana os verdadeiros donos do país mostram a cara, ainda um pouco a medo, afinal há um certo pudor e esta gente prefere navegar na penumbra e escuridão do que na luz e clareza...
Primeiro foi acerca da OTA, é impressionante, depois de tantas diatribes do governo, na pessoa do ministro das obras públicas e mais tarde com o Almeida Santos a ajudar à festa, bastou uma intervenção do mundo dos negócios para que o governo se pusesse em sentido e o governo desse o dito pelo não dito. Hoje o Belmiro veio por mais uma acha para a fogueira... Mais do que nunca é claro quem manda neste país... No entanto, o mais interessante é o mundo dos negócios estar a intervir e a tomar decisões políticas que afectam o destino de toda a comunidade não através dos meios clássicos: de testas de ferro, corrompendo e seduzindo políticos e partidos, mas sim directamente através das suas associações a CIP e agora o Norte através da Associação de empresários dessa região e do Belmiro.

Ainda mais politizados e intervenientes são os jovens turcos[1] do movimento “Compromisso Portugal”. Lançam agora um livro com um título fulminante “Revolucionários”. Querem mudar o país, a sociedade e o estado. Para eles é preciso vencer o medo da mudança e remover os obstáculos à transformação. Hoje ouvi, em entrevista à RTP2, o seu porta-voz. Acabarem-se os “patrões”, dizia ele, cada um é o patrão de si próprio… No fundo cada um é uma empresa prestadora de serviços, ou seja, não tem horário, qualquer desconto para saúde ou segurança social, ou hipótese de ter sindicatos… É uma revolução completa nas relações de produção a imperar este conceito (e ele cada vez mais ganha terreno). Daqui para a frente sindicatos, ou qualquer forma de união dos trabalhadores não fará sentido… O que desejam estes senhores é a atomização completa da classe trabalhadora, dos trabalhadores por conta doutrem… O que estes senhores propõe é a sujeição total do trabalho face ao capital!!!

O problema é que este aparente vazio já está a ser ocupado… Com o governo debilitado, com os partidos da direita institucional destroçados e em processo de autofagia os empresários, sem pudor, chegam-se à frente. Mais, como o caso do estudo da CIP sobre a OTA demonstra até têm quem lhes dê uma áurea de legitimidade democrato-institucional, o nosso mui nobre Professor Cavaco Silva. Com a primeira linha ferida, o general manda avançar a reserva! Cavaco is Back in Town e os Patrões, impacientes com os resultados dos capatazes, chegam-se à frente.

Eles têm dinheiro, não são parvos e o que não é de somenos importância, têm uma visão e um projecto para o país. E nós? Temos???

O bloco tem sido uma voz de resistência, com capacidade de inovar nas lutas e no combate político-ideológico. Em certos sectores e sob certos temas, ao contrário do PC que se limita a defender o forte, temos tido capacidade ofensiva, mas não basta…
Se não lançarmos uma estratégia alternativa para o país, se não começarmos a fazer uma síntese da nossa visão do futuro e a ter um programa de “Urgência Nacional”, “Salvação Nacional”, ou de “refundação democrática” sei lá… um nome que dê ideia de um programa coerente e abrangente que responda à Crise… Não apresentar uma coisa dessas à sociedade è perder o combate à partida. E camaradas o momento é este, por agora ainda há uma certa desaceleração e confusão… Estão a descansar depois do esforço…

Por enquanto o projecto político do Bloco é uma colecção desgarrada de propostas sobre saúde, educação, fiscalidade, lei laboral, etc… Sendo a ofensiva global e de conjunto, também a nossa resposta terá de ser ou ficaremos sempre a perder…
Quando um barco é todo ele feito de aço não podemos querer remendá-lo com uma peça de madeira, por melhor que ela seja, quem apresentar uma solução de remendo também em aço ficará sempre em vantagem…

Bom convido-vos a visitar o seguinte link:

http://www.compromissoportugal.pt/?id_categoria=56&id_item=700

Eles Vêm aí!


[1] Conjunto de jovens oficias turcos que dirigidos por Kemal Ataturk transformaram o decadente e derrotado Império Otomano na moderna Turquia

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