segunda-feira, 2 de junho de 2008

Não era pela tradição?















Parece que afinal as touradas existem é pelo dinheiro.

A comprová-lo está o facto das associações tauromáquicas, que como norma não reagem às manifestações "anti-tourada" (leia-se "pelos touros"), terem começado a reagir fortemente apenas quando ocorreu recentemente o cancelamento do patrocínio de várias empresas/marcas a eventos tauromáquicos (Caixa Geral Dep, Ben & Jerry, Super Bock).

É agora mais claro do que nunca quais são os objectivos da tauromaquia. Não é o de manter a tradição portuguesa (apesar de muitas tradições cruéis e não éticas já terem acabado), nem a celebração de uma arte (apesar do sofrimento e morte do touro ser um factor bem mais relevante que uma expressão artística), nem dar uma festa ao povo (que não está nem nunca esteve limitado às touradas para poder socializar), nem "manter" o touro bravo (que é uma argumento biologicamente falacioso, já que o touro bravo foi seleccionado artificialmente e por isso não tem qualquer relevância ou papel num ecossistema natural, ao contrário de um panda ou lince ibérico, por exemplo).

Afinal é mesmo pelo dinheiro.

E estas associações tauromáquicas já se começaram a mexer.

Por exemplo, a Associação Nacional de Forcados deixa-nos uma pérola no seu site:

"Não vamos ameaçar boicotes, vamos sim, manifestar junto dessas empresas que, pelo facto de terem cedido a este tipo de pressão, vamos ponderar seriamente em adquiri os seus produtos e/ou serviços, trocado estes por outras marcas alternativas e que apoiam a tauromaquia ou as actividades a ela ligadas."
(http://angfportugal.org/noticias_detail.php?aID=57)

Resta saber o que é que os aficionados entendem por "boicote". Diz o dicionário que um boicote é "não comprar, propositadamente, mercadorias de certa origem". "Ameaçar" significa "manifestar intenção de fazer mal" ou "estar iminente".
Mas eles clarificam que não vão ameaçar boicote aos produtos. Vão sim manifestar às empresas que vão ponderar seriamente não comprar os produtos. Sobre isto estamos esclarecidos!


Deixando de lado a forma e passando ao conteúdo, deixo alguns dados sobre o dinheiro envolvido neste tipo de eventos:
- Os toureiros recebem em média cerca de 10.000 euros por corrida (SIC, Reportagem “Vermelho e Negro”Junho 2003).
- No total são vendidos 2600 touros (para Portugal, Espanha e França) pelas ganadarias portuguesas por ano, com lucro de ~2000 euros por animal (DN, Julho 2007).

Numa altura em que os lucros dos ganadeiros e dos toureiros são astronómicos e é raro as praças de touros estarem cheias, este tipo de eventos apenas subsiste pelos patrocínios que vai conseguindo e pelos apoios financeiros das Câmaras Municipais directamente para as festas ou para grupos de forcados e escolas de toureiros.

São estes os pilares de suporte deste negócio manchado pelo sangue daqueles que eles dizem "gostar" e "proteger".

Não é o apoio massivo do povo. Esse já percebeu há muito que nenhuma tradição justifica o desespero do touro quando este se asfixia no seu próprio sangue. Já percebeu também que nada justifica uma festa em torno da provocação e crueldade a um animal.

A comprová-lo está uma sondagem de opinião de 2007 que mostra que a maioria absoluta dos portugueses são efectivamente pelo fim das touradas.
A comprová-lo está também o cada vez maior desespero dos empresários tauromáquicos ao oferecer bilhetes e fazer descontos "generosos" aos mais assíduos.

Num momento que também nenhum partido político com representatividade dá a cara pelas touradas (apenas o movimento pela monarquia o faz abertamente) e em que as touradas estão a perder aficionados, resta saber quando será o funeral e quem ficará de luto.

Ao movimento pelos direitos dos animais cabe continuar o seu trabalho pela sensibilização e formação esclarecida e aberta de todos, pela criação de pontes e diálogo entre associações, pela promoção das alternativas à exploração animal e pelo respeito por todos os animais.

Hugo Evangelista

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