Abaixo está o texto que escrevi para a IV Conferência de Jovens do Bloco, ia fazer uma coisa com dicas para a malta que está agora a pegar na coisa, com alguns alertas à navegação e críticas qb... Mas comecei a escrever a introdução e em pouco tempo até tinha ultrapassado os 5 000 caracteres regulamentares... Bom também é preciso saber pq andamos a fazer o que fazemos... As críticas e alertas mais explicitos ficam para a Conferência...
Mudar o Mundo
O socialismo não é uma utopia inalcançável. Só é preciso organizar milhões de pessoas para uma nova política. Já não temos toda a vida para o fazer.
Francisco Louçã
Vivemos tempos conturbados… Guerra, catástrofes ambientais e alterações climáticas, retrocesso civilizacional em algumas partes do Globo, privatização de bens públicos como a Saúde, Educação, Água, Energia, Vias de Comunicação (estradas, caminhos de ferro, telefones…), destruição do Estado enquanto garante de um mínimo de equidade social com os cortes nos subsídios de Desemprego e Pensões, com o fim do crédito bonificado à habitação. As relações de trabalho são cada vez mais desequilibradas, cada vez mais, o Capital, o Patrão, pode mais frente ao trabalhador, por isso existe a precariedade, para isso são “modernizados” os códigos laborais.
Mas estes são também tempos de esperança e resistências, de construção de novas respostas a todos estes desafios, com toda a inteligência, criatividade, coragem e memória que só os movimentos populares organizados de massas podem ter.
Se olharmos em volta vemos alguns sinais… Em França, no coração da Europa, a população infligiu dois reveses ao Neo-liberalismo galopante. Primeiro com o Não ao tratado constitucional europeu e depois com a revogação do CPE (que pretendia liberalizar os despedimentos entre os trabalhadores mais jovens) conseguida através de manifestações gigantescas, ocupação de faculdades, greves e cortes de estradas.
Na América Latina surgem cada vez mais vozes a criticar os dictats do Império com sede em Washington, e mais do que isso, tendo como ponta-de-lança o processo revolucionário bolivariano na Venezuela. Ao nível do “poder de estado” muitas das receitas neoliberais aplicadas nos anos 90 e 80 estão a ser abandonadas. Estão em curso renacionalizações de vários sectores económicos, são adoptadas novas políticas de redistribuição da riqueza e o acesso à educação e saúde é universalizado. Criam-se novas Constituições, para romper com as instituições fantoche das oligarquias e promover formas de democracia directa.
Também no Médio-Oriente o Império é posto em cheque. Destaco a derrota histórica que Israel e os Estados Unidos sofreram na guerra do Líbano do ano passado, se o Irão ainda não foi atacado, em grande medida o deve ao efeito dissuasor que a vitória da resistência Libanesa (em que o Hezbollah não é o único actor) teve. No Iraque a retirada Norte-Americana está no horizonte… a acontecer (dependendo também da forma como ocorrer…) será um duro golpe para as ambições de controlo total da região por parte de Washington. O falhanço da invasão é em certa medida fruto do movimento anti guerra existente a nível mundial, mas acima de tudo da resistência, inclusive armada, do povo iraquiano face ao ocupante.
Os exemplos acima mencionados não fazem parte de um esforço único, coordenado, para reverter as políticas Imperiais e Neo-liberais, nem por si só são suficientes para alcançar esse objectivo. Refira-se ainda que no Médio-Oriente uma parte substancial da resistência à agressividade Norte-Americana é composta de movimentos de carácter profundamente conservador e até reaccionário.
Estes são novos tempos, com respostas inesperadas e até contraditórias ao rolo compressor do “Mercado” e do Império, é de qualquer das formas animador verificar que existem casos concretos de como não é inevitável termos de “apertar o cinto” e abdicar de direitos sociais para cumprir um mítico “défice” ou de como os planos para um New American Century estão prestes a colapsar.
Por cá, no chamado cantinho à beira mar plantado, os tempos de vacas gordas sob Cavaco numa primeira versão hard, e sob Guterres numa onda mais soft já passaram… Vivemos agora com o espectro da crise a assombrar todas as decisões… e que jeito que ela dá… Foi pretexto no Governo Barroso para a reforma do código laboral, o aumento de propinas ou os cortes à lá Ferreira Leite… A resposta popular foi dada (entre outras manifestações) numa greve geral e na contestação estudantil que deu origem à maior manifestação de estudantes de sempre. Nas eleições Europeias de 2004 a direita clássica, no governo, obtém o pior resultado de sempre (PSD e PP coligados não passam os 30%), pouco depois Barroso foge para Bruxelas e segue-se um interlúdio burlesco com o governo Santana Lopes… Eleito com base em promessas de 150 000 novos empregos e afirmando-se contra a “obsessão do déficite” o PS chega ao poder pela primeira vez em maioria… A máscara cai rapidamente, a nova direita, tal como o anterior governo, aproveita a crise para desmantelar o nosso incipiente estado social e remover obstáculos no caminho do lucro fácil das empresas… Cortes no investimento público, encerramento de unidades hospitalares e escolas, avanço das privatizações, etc… A contestação a este governo atinge níveis hà muito tempo não vistos, como o demonstra a recente manifestação da CGTP com cerca de duzentas mil pessoas, também a nível eleitoral os resultados são reveladores. Desde que chegou ao Poder o PS obteve um péssimo resultado nas eleições autárquicas de 2005 e nas presidenciais foi humilhado. Este é um governo apupado… Mas vai levando o seu projecto “contra-reformista” avante, como já referi a crise é uma grande oportunidade. Num recente número da revista “Economist” dizia-se que a Europa precisava de uma crise ainda mais forte do que a actual, para servir de pretexto para acabar de vez com o Estado Social. Cá em Portugal os “Jovens Turcos” do mundo empresarial aproveitam o clima e formam o “Compromisso Portugal”, querem mudar o país, na boca de um dos seus dirigentes, querem que no futuro deixe de haver trabalhadores para todos sermos “empresas individuais”… A concretizar-se, isso seria a subjugação total do trabalho face ao capital, uma empresa não tem férias, não tem subsídio de desemprego, não tem horário… Vale a pena referir o título do último livro lançado por este grupo, chama-se “Revolucionários”.
E nós?
Não basta o descontentamento popular generalizado com estas políticas para mudar de rumo… É preciso antes saber que rumo outro é esse e aqui é que está o problema. A política do Bloco tem de ser estruturada em volta da construção de uma resposta Socialista e progressista à crise. O Bloco tem de ser parte da construção de uma alternativa económico-político-social que salve as conquistas populares conquistadas nos últimos duzentos anos (da revolução francesa, à revolução de Abril…) e que por isso mesmo tem de ousar ir mais além… Não podemos de deixar de ser radicais, os desafios que enfrentamos exigem ir até à raiz dos problemas, não podemos ser meia-dúzia, temos de ser muitos e diferentes a pensar, a agir para transformar o mundo.
Para sermos parte de uma alternativa mobilizadora não podemos cair em sectarismos e preconceitos estéreis, nem nos acomodar à política do possível.
Se tudo isto é verdade para o Bloco no geral, ainda o é mais para o sector da juventude… Em boa altura realizamos a nossa IV conferência, é tempo de tomar decisões e aproveitar as vantagens que um momento de crise propicia.
O socialismo não é uma utopia inalcançável. Só é preciso organizar milhões de pessoas para uma nova política. Já não temos toda a vida para o fazer.
Francisco Louçã
Vivemos tempos conturbados… Guerra, catástrofes ambientais e alterações climáticas, retrocesso civilizacional em algumas partes do Globo, privatização de bens públicos como a Saúde, Educação, Água, Energia, Vias de Comunicação (estradas, caminhos de ferro, telefones…), destruição do Estado enquanto garante de um mínimo de equidade social com os cortes nos subsídios de Desemprego e Pensões, com o fim do crédito bonificado à habitação. As relações de trabalho são cada vez mais desequilibradas, cada vez mais, o Capital, o Patrão, pode mais frente ao trabalhador, por isso existe a precariedade, para isso são “modernizados” os códigos laborais.
Mas estes são também tempos de esperança e resistências, de construção de novas respostas a todos estes desafios, com toda a inteligência, criatividade, coragem e memória que só os movimentos populares organizados de massas podem ter.
Se olharmos em volta vemos alguns sinais… Em França, no coração da Europa, a população infligiu dois reveses ao Neo-liberalismo galopante. Primeiro com o Não ao tratado constitucional europeu e depois com a revogação do CPE (que pretendia liberalizar os despedimentos entre os trabalhadores mais jovens) conseguida através de manifestações gigantescas, ocupação de faculdades, greves e cortes de estradas.
Na América Latina surgem cada vez mais vozes a criticar os dictats do Império com sede em Washington, e mais do que isso, tendo como ponta-de-lança o processo revolucionário bolivariano na Venezuela. Ao nível do “poder de estado” muitas das receitas neoliberais aplicadas nos anos 90 e 80 estão a ser abandonadas. Estão em curso renacionalizações de vários sectores económicos, são adoptadas novas políticas de redistribuição da riqueza e o acesso à educação e saúde é universalizado. Criam-se novas Constituições, para romper com as instituições fantoche das oligarquias e promover formas de democracia directa.
Também no Médio-Oriente o Império é posto em cheque. Destaco a derrota histórica que Israel e os Estados Unidos sofreram na guerra do Líbano do ano passado, se o Irão ainda não foi atacado, em grande medida o deve ao efeito dissuasor que a vitória da resistência Libanesa (em que o Hezbollah não é o único actor) teve. No Iraque a retirada Norte-Americana está no horizonte… a acontecer (dependendo também da forma como ocorrer…) será um duro golpe para as ambições de controlo total da região por parte de Washington. O falhanço da invasão é em certa medida fruto do movimento anti guerra existente a nível mundial, mas acima de tudo da resistência, inclusive armada, do povo iraquiano face ao ocupante.
Os exemplos acima mencionados não fazem parte de um esforço único, coordenado, para reverter as políticas Imperiais e Neo-liberais, nem por si só são suficientes para alcançar esse objectivo. Refira-se ainda que no Médio-Oriente uma parte substancial da resistência à agressividade Norte-Americana é composta de movimentos de carácter profundamente conservador e até reaccionário.
Estes são novos tempos, com respostas inesperadas e até contraditórias ao rolo compressor do “Mercado” e do Império, é de qualquer das formas animador verificar que existem casos concretos de como não é inevitável termos de “apertar o cinto” e abdicar de direitos sociais para cumprir um mítico “défice” ou de como os planos para um New American Century estão prestes a colapsar.
Por cá, no chamado cantinho à beira mar plantado, os tempos de vacas gordas sob Cavaco numa primeira versão hard, e sob Guterres numa onda mais soft já passaram… Vivemos agora com o espectro da crise a assombrar todas as decisões… e que jeito que ela dá… Foi pretexto no Governo Barroso para a reforma do código laboral, o aumento de propinas ou os cortes à lá Ferreira Leite… A resposta popular foi dada (entre outras manifestações) numa greve geral e na contestação estudantil que deu origem à maior manifestação de estudantes de sempre. Nas eleições Europeias de 2004 a direita clássica, no governo, obtém o pior resultado de sempre (PSD e PP coligados não passam os 30%), pouco depois Barroso foge para Bruxelas e segue-se um interlúdio burlesco com o governo Santana Lopes… Eleito com base em promessas de 150 000 novos empregos e afirmando-se contra a “obsessão do déficite” o PS chega ao poder pela primeira vez em maioria… A máscara cai rapidamente, a nova direita, tal como o anterior governo, aproveita a crise para desmantelar o nosso incipiente estado social e remover obstáculos no caminho do lucro fácil das empresas… Cortes no investimento público, encerramento de unidades hospitalares e escolas, avanço das privatizações, etc… A contestação a este governo atinge níveis hà muito tempo não vistos, como o demonstra a recente manifestação da CGTP com cerca de duzentas mil pessoas, também a nível eleitoral os resultados são reveladores. Desde que chegou ao Poder o PS obteve um péssimo resultado nas eleições autárquicas de 2005 e nas presidenciais foi humilhado. Este é um governo apupado… Mas vai levando o seu projecto “contra-reformista” avante, como já referi a crise é uma grande oportunidade. Num recente número da revista “Economist” dizia-se que a Europa precisava de uma crise ainda mais forte do que a actual, para servir de pretexto para acabar de vez com o Estado Social. Cá em Portugal os “Jovens Turcos” do mundo empresarial aproveitam o clima e formam o “Compromisso Portugal”, querem mudar o país, na boca de um dos seus dirigentes, querem que no futuro deixe de haver trabalhadores para todos sermos “empresas individuais”… A concretizar-se, isso seria a subjugação total do trabalho face ao capital, uma empresa não tem férias, não tem subsídio de desemprego, não tem horário… Vale a pena referir o título do último livro lançado por este grupo, chama-se “Revolucionários”.
E nós?
Não basta o descontentamento popular generalizado com estas políticas para mudar de rumo… É preciso antes saber que rumo outro é esse e aqui é que está o problema. A política do Bloco tem de ser estruturada em volta da construção de uma resposta Socialista e progressista à crise. O Bloco tem de ser parte da construção de uma alternativa económico-político-social que salve as conquistas populares conquistadas nos últimos duzentos anos (da revolução francesa, à revolução de Abril…) e que por isso mesmo tem de ousar ir mais além… Não podemos de deixar de ser radicais, os desafios que enfrentamos exigem ir até à raiz dos problemas, não podemos ser meia-dúzia, temos de ser muitos e diferentes a pensar, a agir para transformar o mundo.
Para sermos parte de uma alternativa mobilizadora não podemos cair em sectarismos e preconceitos estéreis, nem nos acomodar à política do possível.
Se tudo isto é verdade para o Bloco no geral, ainda o é mais para o sector da juventude… Em boa altura realizamos a nossa IV conferência, é tempo de tomar decisões e aproveitar as vantagens que um momento de crise propicia.
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