sexta-feira, 8 de junho de 2007

Violência


Já há algum tempo tinha referido que iria aqui publicar um texto de Eric Hobsbawm intitulado “The Rules of Violence”. Bem aqui está ele não o encontrei na net por isso scanei do livro…

Num debate em que participei há uns meses, sobre as FARC, discutiu-se a questão da violência e da legitimidade de a ela se recorrer para alcançar objectivos políticos. Às páginas tantas um dos oradores principais disse qq coisa no género “Não podemos cair nos delírios românticos da juventude de esquerda dos anos 60 que se empolgava e venerava a luta política através da violência, nomeadamente as guerrilhas sul-americanas”… Sem dúvida que o recurso à violência não pode, de forma alguma, ser encarado de ânimo leve, as consequências de uma decisão desse género, e sobretudo, os vícios e hábitos que decorrem de um uso continuado da violência são muito pesados e marcantes. No entanto, do que vejo e oiço à minha volta creio que hoje em dia se corre o risco contrário àquele que, José Pureza, referia na sua intervenção. Aquilo que noto é uma rejeição total, independentemente do contexto, a qualquer utilização da violência e um endeusamento, ou melhor, a assunção de que só por meios estritamente pacíficos se podem alcançar resultados políticos satisfatórios.

Esta visão, percepção, muito generalizada e promovida é, no meu entender, ingénua, simplista e perigosa. Antes de mais o recurso à violência a maior parte das vezes mais do que uma opção é uma imposição, veja-se o caso do Iraque e mesmo da Colômbia, ou do Vietnam… Quando confrontados com forças que não admitem o pensamento e acção críticas, quando pela força bruta impõe as suas políticas, sem deixar o mínimo de margem de manobra para uma oposição que se expresse por via pacífica: manifestações”ordeiras”, emissão de panfletos, etc… Nessas situações que outra resposta é possível?

Claro que cada caso é um caso, há situações de violência e imposição pela força por parte da classe dominante que não devem ser respondidas na mesma moeda, ou porque apesar disso ainda à margem de manobra para uma resposta que não passe pela violência mais dura, pode até ser mais mobilizador e eficaz (e geralmente quando existe a tal margem de manobra acaba por ser) continuar a responder por meios pacíficos. Noutros casos a desproporção de forças é de tal ordem que uma resposta violenta às agressões acaba por ser inconsequente… Mas em muitos outros casos o recurso à violência, às armas, é condição necessária para que seja possível continuar aquilo que é o fundamental, a luta política.

Deixem-me, ainda, dizer ainda que a distinção entre luta pacífica e violenta não é assim tão clara, aliás muitíssimas são os casos em que lutas pacíficas descambam em massacres (lembremo-nos do Domingo sangrento na Irlanda) ou batalhas campais… Mais uma vez creio que em cada caso se deve analisar se face a uma resposta violenta por parte das forças da ordem a melhor resposta è o martírio ou o contra-ataque. Em qualquer dos casos o movimento popular deve estar consciente, tanto quanto possível, de qual a conduta a seguir e preparar-se o melhor possível para as consequências que irão ter os seus actos. Basicamente a malta deve ter consciência que à momentos em que muito provavelmente vai levar uma tareia, ponto final e noutros que vamos andar à pancada! Mas se for para andar à pancada, atenção!!! Só vale a pena se as coisas forem muito bem pensadas antes, as forças dominantes em termos de meios e instrumentos estão a muitas milhas de avanço, qualquer hipótese de sucesso da nossa parte só será concretizada se prepararmos muito bem a nossa táctica e estratégia.

Quanto à desobediência civil, seja ela cortes de estrada, ocupação de edifícios, etc… Creio q quanto a isso nem há muitas dúvidas… Só que lá está, é preciso estar consciente da resposta que esses actos trarão… E nem sempre calar e comer é a melhor resposta, assim de resto o provou a História…

Finalmente, não só é perigosa esta elevação do pacifismo a bezerro sagrado pois, deixa a esquerda ideologicamente desamparada perante ofensivas da reacção que para serem derrotadas implicam uma defesa “musculada”, como também no campo do debate das ideias nos reduz a margem de manobra. Explicando melhor este último ponto, se aceitamos cegamente o pacifismo como única via admissível com que cara podemos discutir de forma séria as justas e necessárias lutas contra o império no Líbano, Iraque e Palestina??? Esta doutrina acaba por ser um maná para a luta ideológica que o Império trava para legitimar as suas acções e sobretudo deslegitimar o combate de quem, com toda a razão e sensatez, lhe resiste.







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