quarta-feira, 14 de abril de 2010

Tempos Extraordinários requerem Convenções Extraordinárias





Há pouco tempo atrás um grupo de militantes do Bloco de Esquerda lançou uma petição para convocar uma Convenção Extraordinária do movimento, sob o pretexto de reabrir a discussão acerca da escolha do candidato presidencial que o Bloco deve apoiar. 
Quando vieram falar comigo senti um profundo alívio... ainda há um mínimo de esperança... Assinei a petição e mesmo que a dita convenção não se realize espero que isto agite as águas.

Quem segue este blog não há de se surpreender. Logo após as autárquicas escrevi sobre a necessidade de uma profunda discussão. Recentemente referi-me àquilo que considero a desorientação estratégica em que vive o bloco. Entretanto a Direcção foge de qualquer discussão mais profunda como Maomé do toucinho, isto com o receio que a coesão do Bloco se estilhá-se assim que se discutam as grandes opções a tomar pelo Bloco de uma forma consequente (ou seja, que das discussões de facto se retirem decisões práticas a implementar no terreno) ou assuntos que vão para lá da banalidade. O problema é que a realidade é impiedosa e adiar as discussões significa apenas que serão tidas sob muito maior pressão e num ambiente bem mais agreste no futuro...

Mas abaixo seguem uma explicação mais explícita do porquê acho tão importante a realização desta Convenção Extraordinária e porque apelo a tod@s @s militantes do BE a assinarem a petição.

Mas antes, um pequeno interlúdio músical, estes SSSC são muita bons...


«O marxismo busca o seu caminho através das brechas da crise desta sociedade, mas parte de uma posição muito minoritária. Rejeita a estratégia das alianças antifascistas para defender uma democracia novembrista, síndroma da Bela Adormecida que continua a imperar em alguma esquerda portuguesa e que paralisa o seu pensamento estratégico»
Herança Tricolor, Francisco Louça

É exactamente porque o Bloco começa a demonstrar fortes sintomas do “síndroma da Bela Adormecida” que uma convenção neste momento faz todo o sentido.
Quando o Bloco surgiu, à mais de dez anos, tinha um grande objectivo a atingir, refazer o mapa da esquerda portuguesa. 
Assumia-se como um misto de movimento/partido que se batia por várias causas, por mais e melhores direitos, contra as mais variadas injustiças. Seria como uma espécie de ponto de encontro para tod@s que se quisessem juntar por esses combates. Mas aqui o plural é importante, é que são combates, não é um combate, ou seja, nunca o Bloco quis apresentar uma espécie de esboço do que seria um regime alternativo à dita “Democracia Novembrista” que cada vez mais se afunda no pântano… A sua escolha foi ir coleccionando propostas e combates singulares.
O tipo de organização e de militância que o Bloco tem (ou não) hoje em dia também foi fruto das escolhas que foram sendo feitas. Dizem que o Bloco tem cerca de 8000 militantes, mas em alguma iniciativa, mesmo comícios, conseguiu o Bloco alguma vez ultrapassar as 3000 pessoas?

O objectivo de refazer o mapa da Esquerda Portuguesa já foi em grande medida atingido, a progredir e não definhar o Bloco precisa de definir novos horizontes. 
Ter apenas uma colecção de causas, algumas propostas e uns quantos discursos irados "do contra" é pouco para apresentar ao Povo, é insuficiente e, de facto, não responde aos problemas do país. É preciso mais. É necessária uma nova República, este regime e a classe dirigente que nos governa e se governa (sobretudo) têm de ser removidos. Isso implica ter uma proposta alternativa, qual é a que temos?
A crise veio para ficar e com ela as tensões sociais não podem se não aumentar, os tempos que se avizinham serão duros. Sem uma organização com o mínimo de enraizamento popular e estrutura o Bloco será facilmente cooptado ou aniquilado.

Em 2006, o timming era ideal, a Direcção do Bloco lançou o que se pretendia ser uma discussão de fundo em que todo o movimento/partido se envolvesse. O que estava em debate era exactamente o “Rumo Estratégico” do Bloco. Era uma fase relativamente calma da vida política nacional e sem eleições à vista. Mas pouco depois do começo promissor esse processo foi rapidamente congelado… Logo após as eleições autárquicas de 2009 algumas vozes dentro do Bloco sugeriram que era tempo de se fazer um bom balanço e se discutirem algumas coisas… Os resultados obtidos nas autárquicas e o facto do CDS-PP ter ficado acima do BE nas legislativas deveriam ter sido sinais de aviso, mas pelos vistos não… 
Parece-me óbvio que quanto mais se adiar a discussão sobre os Rumos Estratégicos que deve o Bloco tomar, piores serão as consequências para o BE e para o mais vasto movimento popular. 
É que não me parece fazer sentido algum apoiar fulano ou sicrano sem antes percebermos bem o que queremos para o País. Vejo a candidatura e a eleição Presidencial como parte de um processo de luta mais vasto, é sobre esse pano de fundo que se deveria tomar a decisão de qual o candidato a apoiar. 
Tenho dúvidas que Alegre seja a melhor escolha se o que desejamos é construir um movimento e um programa (que necessariamente terão de ir para lá do Bloco) capaz de derrubar o regime e substituir a “democracia novembrista” por uma nova República que responda aos problemas da Crise de forma Democrática. A certeza que tenho é que os actuais equilíbrios sociais e políticos são cada vez mais precários e a parte de Abril que ainda há na tal “democracia novembrista” será varrida se não construirmos nós a tal nova República. 
Tenho a certeza também que, neste momento, há uma falta imensa de criatividade e imaginação para encontrar novas soluções e caminhos. É que é exactamente quando as actuais instituições de poder estão mais desacreditadas perante as massas populares, que mais o Bloco, no seu funcionamento e atitude, está mais “institucionalizado”. 
Em cerca de 4 a 5 milhões de Portugueses elegíveis só quem está muito fossilizado é que acha que o BE só tem duas escolhas a fazer...

Por tudo isto considero uma decisão acertada e corajosa lançar este pedido de uma Convenção Extraordinária, não só faz sentido, como é uma discussão adiada à muito e mais do que necessária.

Francisco Furtado, aderente nº 391

PS – Não resisto a um pequeno comentário final, algumas considerações que ouvi acerca desta petição, nomeadamente a sua proveniência, só me fazem lembrar a imagem de um indivíduo super preocupado em afastar uma mosca que zurze à sua volta e que não vê a manada de elefantes que está a vir contra si a toda a velocidade…

PS2- Por falar em "elefantes", já viram estes?


São um caso extremado de "elefantes", a Magyar Gárda, grupo muito semelhante às SA, o partido que apoiam obteve 16,71% dos votos nas eleições para o Parlamento Húngaro...

terça-feira, 6 de abril de 2010

O Rumo da Venezuela, Crew Hassan 15 de Abril às 21h



O Rumo da Venezuela - 15 de Abril 21h na Crew Hassan (Lisboa) - Documentário+Debate+Petiscos
Rua Portas de Santo Antão, 159, 1º, Lisboa

"Com os pobres da terra quero a minha sorte lançar". Disse o José Martí, pai da independência de Cuba e poderia ser dito por qualquer um dos membros do Colectivo Tirem as Mãos da Venezuela e da Cooperativa Mó de Vida que estão a organizar este evento com a preciosa e companheira ajuda da Crew Hassan.



Os pobres que se podem ver nas enormes favelas de Caracas que estão neste cartaz, e as mulheres que são as grandes obreiras da Revolução, foram os que reconstruíram casas devolutas, os que se ligaram à electricidade, os que aprenderam a ler e escrever, os que foram a primeira geração de classe baixa a ir a universidade, os que tiveram saneamento básico pela primeira vez, os que fundaram uma cooperativa, os que criaram uma rádio ou mesmo uma televisão de bairro, os que dinamizaram uma associação cultural, os que plantaram árvores e jardins, os que numa poderosa torrente derrotaram um golpe de Estado fascista em 2002, os que ergueram das cinzas a empresa Petróleos de Venezuela S.A., os que estabeleceram laços o movimento camponês em reforma agrária, os que se mantiveram firmes junto aos portões de fábricas ocupadas, e muito, muito mais... todos esses heróis anónimos da Revolução Bolivariana na Venezuela fizeram valer a pena estes anos que o Colectivo TMV tem dedicado à solidariedade com eles, com eles e para eles valeu a pena a Revolução Bolivariana! 
Valeu? E daqui para a frente?