quinta-feira, 11 de março de 2010

Grécia e Europa - ecos do passado, tempestades futuras!

Há cerca de um ano a juventude Grega ergueu-se em revolta, contra tudo? contra nada? contra o estado a que isto chegou... passado um ano não há dúvidas que, TINHAM TODA A RAZÃO! Podem não se ter sabido exprimir da melhor maneira, mas estavam cobertos de razão ao expressarem a sua revolta pelas ruas de Atenas e por toda a Grécia, basicamente opondo-se a um sistema que não lhes dá perspectivas de um futuro minimamente digno.
Houve quem lhes chama-se Vândalos, se o são, o que chamar aos governantes que enganaram o mundo e o seu povo mascarando as contas públicas? Se o são, que chamar às elites dirigentes Gregas corruptas e em favor do qual se governou nestes últimos anos? Se o são, que chamar aos restantes governos da União Europeia a começar pelos descendentes dos verdadeiros Vândalos, que aplaudem um plano que implica o empobrecimento geral da população Grega, um plano que (tal como aqui!) irá resultar na:
- Diminuição brutal dos recursos disponíveis para o grosso da população, redução drástica do poder de compra e qualidade de vida da generalidade das pessoas;
- Estratificação ainda mais acentuada das nossas sociedades, com uma elite rica e com acesso a bens e serviços de primeira e a restante populaça atirada para uma insegurança e precaridade, não só laboral, mas total (habitação, saúde, alimentação decente, cultura, etc...)!
- Espiral recessiva e de downsizing a vários níveis, mesmo do output industrial... ou seja, pura e simplesmente a procura de vários bens vai se contrair, logo várias indústrias e empresas prestadoras de serviços irão à vida... Dá me ideia que a indústria de massas (fora alguns produtos mais essenciais) vai sofrer um grande recuo, apostando-se cada vez mais em nichos de mercado e produtos especializados para a élite.

Estas últimas conclusões dizem respeito não apenas à Grécia, mas a toda a Europa, porque na própria Germânia existem planos nesse sentido.



O homem que está a levar com gás pimenta nesta manifestação na  Grécia (foi a 5 de Março) tem 88 anos, chama-se  Manolis Glezos, com 19 anos, em 1941, subiu à Acrópole e derrubou a Bandeira Nazi que lá estava... E este homem que foi torturado e preso por ter desafiado a ocupação Alemã, é agora gazeado por combater o "Programa de Estabilidade" apoiado pela Chancelaria Teutónica, passados 60 anos a história não se repete, mas Evoca-se!

Sim porque a Grécia foi invadida e ocupada pelos Nazis de 1941 a 1944...



E não foi uma ocupação qualquer, simplesmente a ocupação Nazi provocou a última grande fome de que há registo no continente Europeu!!!!!!!!!!!!!!!!
Bem, tendo isto em conta ver deputados e membros do governo Alemão sugerirem à Grécia que venda umas ilhas ou a Acrópole para pagar o Déficit é INACREDITÁVEL... e perigoso, com grande potencial para explodir na cara dos arrogantes que proferiram essas palavras... Não será amanhã, mas estas coisas são de tal formas graves e profundas que não se apagam facilmente, sobretudo quando as coisas daqui para diante vão apenas ficar mais complicadas e difíceis... É que lá está, a malta pode não ter consciência completa e ter uma visão bem articulada do que se está a passar, mas afirmações dessas são grãos de tempestade que se vão semeando (pelo menos se houver uma réstia de dignidade no povo Grego... e tenho ideia que sim).

A Europa está, toda ela, numa encruzilhada, o caminho que as classes dominantes querem trilhar (e foi o que sempre fizeram quando tiveram rédea livre para isso) é o do retrocesso civilizacional, sintetizando, pretendem retirar poder económico, político e social:
- às classes intermédias, reduzindo drasticamente o seu contingente e subjugando as classes profissionais com alguma independência, os sectores da Saúde e Justiça são bons exemplos. A Ideia é que se tornem, ainda mais do que hoje, uma espécie de servos de luxo e capatazes da elite, claro que terão direitos especiais e ficarão acima da populaça, mas o objectivo estratégico é através da sua redução e subjugação torná-la numa espécie de força mercenária ao serviço da reacção;
- o empobrecimento, não só financeiro, mas mesmo cultural em sentido lato, das massas populares (por exemplo quais os resultados que terão o desmantelamento da escola pública e do serviço nacional de saúde?), a destruição das suas organizações (a começar pelos sindicatos, que embora não defendam o conjunto total das massas ainda são um bastião directo para importantes sectores e indirecto para o restante) e basicamente o retorno à condição completamente precária prevalecente no início da Revolução Industrial.

Mesmo que não sejam objectivos explícitos, estas serão as consequências das políticas que estão a ser tomadas. Claro, que como referi, isto não tem apenas consequências económicas, as instituições e a forma de fazer política vão se alterar drasticamente. Nestas circunstâncias as Democracias "well fare state" do pós guerra vão ser estilhaçadas...


Para concluir, deixo uma lembrança e uma conclusão acerca da Europa.
Europa é no senso comum de hoje em dia sinónimo de paz (quase pacifismo) e civilização, aliás aquando da Invasão Norte-Americana do Iraque foi um assunto que veio muito à baila face aos belicosos gringos... E ao vermos aquelas imagens familiares de massacres à catanada em África, bombistas suicidas no médio Oriente, das favelas na América Latina ou das horríveis condições de trabalho na Ásia, essa ideia de Europa como espécie de paraíso civilizacional tende a reforçar-se... Mas será mesmo assim? Bem a verdade é que na história da humanidade nenhum outro continente assistiu a tamanhas barbaridades, crimes, guerras, massacres como a Europa, é que os últimos 60 anos são ímpares na História!!! Desde o século III (fim da Pax Romana com o início das invasões bárbaras) até 1945 a Europa esteve em estado de Guerra intermitente, sendo que em todos esses séculos houve pelo menos uma Guerra de extrema ferocidade (sem contar com os outros conflitos menores, ou entre potências menos importantes), alguns, como o XX, até tiveram duas...
Apesar disso, ou também por isso (agora seria uma longa conversa), a Europa foi, de facto, o Continente onde a massa da população conquistou maior poder e retém grandes tradições de luta e auto-confiança. Por isso mesmo, creio que as próximas grandes revoluções terão como palco a Europa. É que as revoluções não acontecem, ou melhor, não são despoletadas, pelo desejo de conquistar melhorias, as revoluções têm sempre como origem a defesa de direitos que os povos tinham como garantidos... As Revoluções dão-se exactamente quando os povos se apercebem que o mínimo que julgavam que teriam garantido é posto em causa, é aí que as grandes massas se põe em movimento... Ora, é isso mesmo que se vai passar de forma cada vez mais nítida e sem grande margem de manobra na Europa. Mas claro, essa não é condição única para uma Revolução, para um motim sim, mas não para uma Revolução... Para uma Revolução, para além da perda flagrante de posições que motive as massas a lutarem pelo que é seu por direito (o que na Europa é bem mais do que em qualquer outro lado) é preciso um projecto Utópico (é mesmo essa a palavra) que sirva de inspiração para construir um mundo novo sobre as ruínas do velho que já não dá as tais mínimas garantias... Em 1789 o projecto utópico não estava já definido, mas um século de difusão dos ideias do Iluminismo havia deixado uma base sólida, em 1917 os escritos de Marx estavam frescos e existiam grandes movimentos socialistas portadores de uma enorme esperança para grandes sectores da sociedade... E agora?

A ver vamos, não nos esqueçamos que nos anos 30 o resultado da crise foi uma guinada geral para a Direita mais dura, para já direi que o referendo realizado na Islândia teve um óptimo resultado e que depois de uma greve geral muito participada no dia 5 de Março, hoje dia 11, a Grécia prepara-se para nova greve geral que também promete... Neste site há alguma informação sobre o que se passa na Grécia.

Uma coisa é certa...



Marte anuncia a Guerra (ganda som), a questão é qual? Ao menos que seja para fazer avançar o mundo e conquistar maior Liberdade, Igualdade e Fraternidade...


terça-feira, 9 de março de 2010

A Ordem 66 e o Massacre de Xangai

Uma dos episódios centrais da saga "Star Wars" é a Marcha sobre o templo Jedi e a execução da ordem 66... É o momento em que os Jedis são apanhados de surpresa por quem pensavam ser seus aliados e são praticamente exterminados, este vídeo contém uma das cenas mais impressionantes da série, o momento em que Anakin sob a escadaria do templo à frente das tropas Imperiais e dá início à matança dos jovens aprendizes de Jedis... Aqui está o clip do filme.


Há vários episódios na História semelhantes, o mais próximo que me lembro é o "Massacre de Xangai", que marca o início da longa guerra civil entre o Koumitang e o Partido Comunista Chinês...  A verdade é que Nacionalistas do Koumitang e Comunistas começaram por ser aliados!!!! Estavam, de início, juntos e comungavam dois objectivos centrais:
- Reestabelecer um governo central que tivesse autoridade em todo o país, à data vários "Senhores da Guerra", dominavam diferentes partes da China, uma situação quase feudal;
- Acabar com o domínio estrangeiro sobre o país, não só diferentes países europeus controlavam vários territórios na China, como tinham um peso decisivo na economia e governo dessa nação milenar...

O Koumitang era uma força Nacionalista, mas com inspiração Republicana e até  progressista, fundada por Sun Ya Tsen, recebeu apoio da Internacional Comunista e vários membros do Partido Comunista integravam a sua direcção. Na Academia Militar de Whampoa, em que muitos dos professores eram conselheiros Soviéticos, treinou-se um novo exército que haveria de regenerar a China, unificá-la e expulsar os Imperialistas estrangeiros... pelo menos era essa a ideia...
Em 1926 esse novo exército parte na "Expedição do Norte", das ideias aos actos. Esse exército é acolhido pela população como uma força de libertação do domínio feudal-mafioso dos senhores da guerra, os Comunistas são parte essencial desse esforço não só no nível militar, mas também através de agitação de massas. A apoteose seria a chegada a Xangai (na altura centro Industrial e Comercial da China). Pouco antes da chegada do exército Nacionalista os trabalhadores de Xangai fazem uma insurreição, tomam conta das ruas e aguardam a chegada da força que no seu caminho havia derrotado já 3 dos mais importantes senhores da Guerra...

É nesse momento que é lançada a "Ordem 66", Chiang Kai-sheck, líder do Koumitang (havia uns anos afastado Sun Ya Tsen) temendo a influência crescente dos Comunistas no Koumitang e em toda a China, ordena aquilo que chamou "a purga do partido"... À chegada a Xangai, longe de se unirem aos trabalhadores sublevados, o exército nacionalista começa uma brutal repressão, apoiando-se nas máfias Chinesas inclusive! Mas não é só em Xangai que se dá o massacre, por toda a China Comunistas em postos importantes são eliminados...

Mas nem todos são eliminados... algumas unidades do Exército ficam do lado do PC Chinês, ainda são tentadas várias insurreições em cidades com base nessas unidades militares fiéis aos comunistas e nos trabalhadores urbanos. Noutra zona, a estratégia seguida pelos comunistas foi da insurreição camponesa. Esses primeiros esforços são derrotados... Unidades do exército comunistas, quadros do partido, camponeses, todos convergem para uma remota zona rural... aí resistem por vários anos, até que são forçados à "Longa Marcha"... Uma marcha que só terminou verdadeiramente em 1949, quando as forças vitoriosas do Exército de Libertação Popular chegam a Pequim!!! Finalmente estava a China Unificada e o domínio Imperialista derrotado! Estava aberto o caminho que levou a China a ser o que é hoje...


O documentário que abaixo coloco está extraordinário, a China desde 1911 (queda do último Imperador) até ao início do processo de reformas dos anos 80 liderado por Deng Xiaoping...



Bem, isto nem chega a ser um resumo do que foi a Revolução Chinesa, da qual já havia falado um pouco aqui também, mas creio que dá pa dar ideia de quantas voltas dá o mundo e de como a realidade acaba por ser bem mais rica que a própria ficção.
Já agora para terminar aconselho este texto recente, com uma espécie de análise comparada, da Revolução Russa e Chinesa, assim como dos destinos dos regimes que foram fruto dessas Revoluções. Two Revolutions de Perry Anderson. (é engraçado, este é um artigo da New Left Review, mas no site da revista só pagando, no entanto, na página do PT do Brasil está disponível à pala! Fixe LOL)