terça-feira, 15 de abril de 2008

Refundação ao fundo

Os resultados das eleições italianas são uma das maiores catástrofes da história recente da esquerda. Não só Berlusconi voltou ao poder com maioria absoluta mas o Partido da Refundação Comunista foi totalmente varrido do parlamento e do senado italianos.

Na forma da nova coligação Arco-Íris a Refundação surgiu em conjunto com os Comunistas Italianos e os Verdes. Em 2006 o conjunto destes três partidos teve quase quatro milhões de votos e elegeu um total de 72 deputados para o parlamento. Com menos de um terço dos votos de 2006 a coligação não elegeu um único deputado. Para o Senado a história repete-se.
O resultado no entanto não é de estranhar. Bertinotti juntou-se ao governo Prodi com o argumento de que era necessário deter Berlusconi e evitar que a direita se apoderasse do governo do país. O resultado foi a Refundação a aplicar a política neoliberal. Ataques aos direitos dos trabalhadores e o envio de tropas para o Afeganistão e o Líbano (uma nova forma de pacifismo, dizia Bertinotti) foram apenas a face mais visível da decadência da Refundação.
Os eleitores da esquerda simplesmente abandonaram Bertinoti. Muitos certamente abstiveram-se, outros terão votado em Veltroni numa perspectiva de mal menor. Mas em sectores mais amplos do centro-esquerda muitos terão votado em Berlusconi. É que à falta de alternativa a maior parte das pessoas prefere o original à fotocópia. O ilustre camarada parece não ter percebido que o papel da esquerda alternativa é precisamente esse, o de ser a alternativa social à selvajaria neoliberal. Se a esquerda alternativa começa a ver-se como muleta do social-liberalismo o resultado é a catástrofe. Bertinoti já tinha debandado o movimento anti-guerra italiano com a sua entrada no governo. Agora acabou por tirar todas as vozes dissidentes do parlamento italiano. O poderoso movimento social italiano não tem hoje qualquer representação política ao nível institucional.
A história infelizmente não é nova. O Partido Comunista Francês entrou também num governo de "esquerda plural" com o PS de Jospin. O resultado é que hoje o PCF é uma sombra do que era há uns anos atrás.
Por infeliz que seja, o exemplo italiano deve ser uma lição a estudar por todos os que estão empenhados na constução de uma esquerda combativa e alternativa.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Novas fronteiras

O capitalismo tem o condão de conseguir transformar qualquer desgraça numa oportunidade de negócio. Uma dessas oportunidades que se começa a desenhar tem a ver com o aquecimento global que está a levar a uma acelerada diminuição das calotes polares, um processo mais rápido no Ártico. A questão é analisada num interessante artigo de Scott Borgerson no último número da Foreign Affairs.

Só no último quarto de século a região perdeu 40% da sua camada de gelo permanente. E porque é que isto é uma oportunidade de negócio? É que o Artico é riquíssimo em recursos naturais e geológicos, desde a pesca ao petróleo e ao gás natural. Mas todas estas riquezas estavam escondidas sob centenas de metros de gelo impenetrável.

Para além disso o recuo do gelo vai permitir a abertura da mítica passagem do Noroeste,permitindo a navegação entre o Atlântico e o Pacífico pelo norte do Canadá. Uma viagem entre Seattle e Roterdão seria encurtada em 25% (menos 2000 milhas) em comparação com a passagem pelo canal do Panamá. Outra possibilidade é a abertura da Rota Marítima do Norte que corresponde à navegação ao longo da costa norte da Rússia. Uma viagem entre Yokoama e Roterdão seria encurtada em mais de 40% (menos 4700 milhas) em relação ao percurso pelo canal do Suez.

Com a indefinição fronteiriça que existe na reunião, a corrida à riquezas da região pode transformar o Ártico numa das zonas mais quentes do planeta.