sexta-feira, 30 de novembro de 2007

História de uma Associação


Em 2000 um colectivo de estudantes do técnico considerou importante para melhor trilhar o futuro dar a conhecer um pouco do passado, daí nasceu o documento abaixo publicado.
A memória é das mais importantes ferramentas que os povos têm à sua disposição para impedir que a exploração e opressão progridam, é e sempre foi objectivo das classes dirigentes defensoras do status quo limpar da história tudo o que possa dar lições ou servir de inspiração aos combates que o presente exige.

O que é e o que foi a Associação...

Esta brochura é uma breve síntese da história da nossa Associação e do Movimento Estudantil no Técnico, estamos conscientes das muitas lacunas existentes neste trabalho e da controvérsia que certos factos possam gerar. Esperamos, no entanto, que possa despoletar uma discussão não tanto sobre o passado, mas mais sobre o que é, o que deveria ser e ao serviço de quem é que está a AEIST.

Já agora deixo aqui os Links para as páginas de duas das listas em que estive envolvido enquanto tive no IST.


sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Política e Partidos nas Faculdades e Quotidiano

Há um dia ou dois decidi juntar a este blog uma série de links para grupos de activistas de várias Escolas do Ensino Superior.... Lembrei-me dos tempos em que me envolvi no movimento estudantil, abaixo deixo dois legados dessa altura(talvez venha a publicar mais coisas...).

Um texto escrito por um camarada (não é meu) para o "17-68-74", jornal do núcleo de estudantes do bloco do técnico, que lançámos ao mesmo tempo em que estávamos na Direcção da Associação, olhando para trás tenho sérias dúvidas que tenha sido a mais sábia estratégia a seguir... Mas o texto vale por si, aborda um problema que sentíamos muito na pele e que hoje em dia tende a estar cada vez mais presente, a tentativa de excluir da escola tudo o que cheire a actividade partidária assumida. Mais, às vezes até a discussão política promovida por grupos de estudantes não necessariamente ligados a partidos, mas preocupados com o muito mundo que há à sua volta para além das sebentas das cadeiras que frequentam...
Publico também algumas fotos da que foi a das maiores mobilizações estudantis no Técnico, em Abril de 2000 quando paralisámos a escola e fizemos um plenário com mil pessoas seguido de manifestação.


Os Partidos e a Política na Faculdade

Nos últimos tempos assiste-se a uma crescente pressão a qualquer forma de organização partidária que actue numa faculdade, o trazer a política para a escola é cada vez visto com mais desconfiança, como uma intromissão num espaço que nada tem a ver com ela. A política dos “partidos tudo bem mas desde que seja fora da faculdade” ganha cada vez mais força. Este facto sugere uma reflexão aprofundada. Não são poucas as vezes que responsáveis políticos apelam a uma participação cívica na sociedade, o fomento a formas de organizações desportivas, culturais, associativas em geral, e no entanto, o que se passa é que todos os dias encontramos barreiras quando nos organizamos, quando queremos transmitir ideias, realizar debates, etc.

Queixam-se que a política está a afastar-se progressivamente dos cidadãos, mas o que vemos são políticas que efectivamente tendem a afastá-la dos cidadãos, o trabalho de base, no local de trabalho, na faculdade, tem sido cada vez mais dificultado. Mas será que queremos continuar a caminhar para um mundo onde a política tome progressivamente a forma de conteúdos de telejornal, de um conjunto de frases soltas na televisão e nos jornais? Uma questão de ligar ou desligar a televisão?


O que se passa realmente é que, tal como tudo o resto na sociedade, a política está a ser transformada em algo que se consome, mais um produto com o seu público alvo, no qual nós somos isso mesmo, o público, os espectadores e nunca os actores. Formam-se opiniões, criam-se consensos ou controvérsias nos media, e a nossa função está sempre em saber se concordamos mais com A ou com B ou nenhum dos 2. E isto não se passa apenas na política, no desporto e em muitas outras áreas é a mesma coisa.

É mais importante uma aposta num Euro2004 no qual não vamos ser mais que espectadores de uns jogos durante um curto espaço de tempo mas onde entram milhões de contos em publicidade, que apostar o mesmo dinheiro numa política de desporto escolar no qual fomentamos a participação de milhares de jovens nas escolas para a prática do desporto. É a diferença entre políticas que promovem o consumo duma actividade e políticas que promovem a participação na mesma.
Mas afinal o que é fazer política? A política não pode nem deve cair no erro de ser o palco apenas de algumas pessoas nas quais delegamos a responsabilidade de resolver os nosso problemas. A resolução dos mesmos passa por muito mais que uma participação nas urnas, passa pela nossa participação contínua nos locais onde trabalhamos, estudamos, vivemos. E é por isso que encaramos com estranheza o repúdio de algumas pessoas em relação ao facto da política estar presente na faculdade. Algo vai mal quando o pretender transmitir ideias que afectam a globalidade dos cidadãos é mal encarado por ser supostamente no espaço impróprio, fora do calendário eleitoral, fora do espaço-tempo correcto.

Trazer os partidos para a faculdade é descentralizar o monopólio de uma política que cada vez vive mais de uma imagem criada nos media, a qual é o paraíso perfeito para directores de marketing e de imagem, afinal o que interessa é vender um produto, arranjar a melhor embalagem.

Trazer os partidos para as faculdades por intermédio de pessoas que estudam lá é dar a conhecer à pessoas as ideias que as diferentes correntes partidárias têm, é esclarecer aquilo que não se consegue fazer em 5 minutos na televisão, que muitas vezes não é mais que um espaço de tempo, que por ser curto, serve apenas para usar frases feitas e que caiam bem na opinião pública.

No fundo, a presença dos partidos nas faculdades, nos locais de trabalho, nos bairros, a presença de militantes em todos esses locais e o seu pronunciamento sobre as questões locais é a forma mais próxima de fazer política, a forma que estabelece o contacto mais directo com as pessoas. Esta forma de fazer política tem de ser muito mais que uma correia transmissora da política dos partidos. Deve ser, acima de tudo, parte da base da construção do programa de qualquer partido, indo contra a lógica da militância do agitar bandeiras e colar cartazes e passando à militância baseada na participação no espaço onde cada um de nós passa o seu tempo.

O programa de qualquer partido deve acima de tudo ter como base a sensibilidade de todas a pessoas que participam no mesmo e isso implica recolher as sensibilidades dos vários locais onde existam militantes, da aprendizagem do contacto dos mesmos com a sociedade, de um diálogo que se deve estabelecer continuamente entre as organizações partidárias e o seu objecto de acção, isto é, o mundo que pretendem transformar (infelizmente nem todos os partidos o praticam, muitos não fazem mais do que recrutar tecnocratas e boys na altura das eleições).

Arrumar a Casa

Quem costuma frequentar este blog à de ter reparado que fiz algumas mudanças, se o conteudo é o fundamental a forma interessa na medida em que possibilita a difusão do dito conteúdo...

Para além de um design mais "personalizado" tenho andado a por mais Links, se souberem de sites e blogs com interesse escrevam que eu muito agradeço!

Technorati Profile

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

França em Turbilhão...

Em França têm surgido, nos últimos anos, as lutas populares que na Europa mais têem contribuido para abrandar a maré neo-liberal. Foi o Não à "Constituição" da UE, foi a luta anti CPE e agora as primeiras contestações de massas do reinado Sarkozy com Estudantes e Trabalhadores dos transportes na vanguarda do combate.

Abaixo publico o relato apressado de um estudante português que tem vivido esta recente onda de contestação...(peço desculpa pelos possíveis erros ortográficos mas escrevo rápido de um PC estrangeiro sem correcção automática)

Estas rápidas informações que se seguem são apenas um resumo dos últimos movimentos estudantis em França. Não têm valor nem base documentais, pois são apenas o retrato rápido (que o tempo não deu para mais) de um estudante do movimento contra as políticas de Sarkozy. Devido à força do média (televisões, rádios, jornais e revistas) franceses estarem na quase totalidade em colaboração com o governo de Sarkozy e tentarem dividir as opiniões públicas distorcendo o contexto da luta dos estudantes, sinto-me, como estudante, no dever de fazer chegar aos estudantes e jornalistas portugueses algumas informações mais específicas dos acontecimentos.

- Desde há duas semanas para cá que os estudantes franceses combatem a lei de autonomia das universidades, a chamada lei Pécresse. Este combate mais difícil que o esperado começou a ser impedido pelas forças da ordem nas quais se incluem a grande arma do governo de Sarkozy, os média. Com o bloqueamento da entrada de algumas universidade e ocupação de outras, os média tomaram mais uma vez uma posição de sensacionalismo e espectáculo, forçando a divisão dos estudantes entre 'bloqueurs' e 'anti-bloqueurs', que guerreiam agora entre si pelo bloqueamento ou não das universidades em vez de debaterem e reflectirem sobre o sentido da lei Pécresse. Ainda como reforço ao impedimento das ocupações e manifestaçoes dos estudantes, a televisão tanto pública como privada, entrevista e focaliza aspectos mediocremente interessantes sobre a lei Pécresse, como o caso do presidente da Universidade de Nanterre que chamou a polícia a vir desimpedir o bloco da entrada da universidade acusando os alunos de "minoria" que comete actos de 'terroristas' e 'khmers rouges'. A polícia veio para desimpedir o local onde estavam alguns dos ditos 'anti-bloqueurs' cantando o hino nacional de braço erguido e aplaudindo à pancadaria entre CRS e estudantes.

http://www.rue89.com/2007/11/13/nanterre-coups-de-matraque-sous-les-applaudissementshttp://es.youtube.com/watch?v=pSfzdW_9h2o

- Uma outra manifestaçao estava organizada para Sexta-feira dia 16 às 14:00 frente à Assembleia Nacional, mas devido à greve dos transportes públicos, a manisfestaçao ficou pelas 200 pessoas. Depois de impedido o acesso a várias ruas do Quartier Latin os manifestantes deslocaram-se para a Gare d'Austerlirz onde se encontrariam com os funcionários dos caminhos de ferro também estes em greve. A entrada da gare foi bloqueada pela polícia que rapidamente não permitiu a continuaçao da manifestação, decidindo os manifestantes por abandonar a possível deslocação até Bastille, isto porque a polícia era tanto ou mais numerosa que os manifestantes.

- Trinta e tal universidades estão bloqueadas e outras ocupadas há vários dias. No caso da Universidade Vincennes - St. Denis (Paris 8), ainda não falado por nenhuma média, a ocupação decorre pacificamente e conta já com o apoio dos trabalhadores da RATP e professores do liceu. Este triângulo solidário apareceu pela madrugada do dia 16 do mês corrente na sede da RATP onde os trabalhadores faziam greve. Mesmo com o frio da geada estudantes e professores não souberam deter-se e manisfestaram todas as energias para manter esta união entre de trabalhadores e estudantes. Os estudantes propuseram ainda comunicar aos vendedores do mercado de St. Denis a luta à qual se devem juntar e ainda se espera o apoio dos trabalhadores dos caminhos-de-ferro que parecem estar abertos a receber os estudantes nas próximas Assembleias Gerais.

- Enquanto as greves continuam e os média teimam em mostrar que o movimento popular que aparece é apenas uma greve de transportes incómoda e que pode durar como em 1995, o presidente da república Sarkozy tenta o populismo para atenuar os descontentes. É caso de uma das suas visitas aos marinheiros pescadores da Bretanha que também estavam em greve onde acaba por ameaçar um cidadão após este o ter ofendido e referido o aumento de 140% no seu salário, ou ainda a sua homenagem a Albert Camus cinquenta anos após este ter ganho o prémio Nobel da Literatura. Pelos seus passeios e visitas o presidente Sarkozy continua a dizer que vai aplicar as reformas previstas e que não tenciona ceder.

- O movimento estudantil, considerado minoritário, reage a todas estas provocações reunindo dia e noite, saindo à rua, gritando e impedindo a circulação das vias férreas. Vivendo nas universidades ocupadas alguns estudantes discutem o caminho a dar ao movimento, pois querem mandar abaixo a reforma de Valérie Pécresse e sentem-se abandonados pelo seu máximo representante sindical, UNEF, que tenta discutir com o governo as possíveis alterações da lei de autonomia das universidades. O movimento rejeita e critica na sua maioria a falta de rebeldia e monoformização dos sindicatos instituídos como ainda apresenta uma forte descrença partidária. Para alguns estudantes "a lei Pécresse é apenas um pretexto" porque o que motiva a revolta em geral é o "anti-sarkozismo" já existente mesmo antes da eleição do "presidente". Sexta-feira dia 16 várias universidades foram evacuadas pela polícia e outras encerradas por ordem da reitoria de várias universidades.

- No próximo ano contar-se-ão quarenta anos após as revoltas de 68. Para muitos estudantes militando contra a lei Pécresse essa é uma referência farta motivo pelo qual não querem incluir nas discussões surgidas em várias reuniões, contrariamente a alguns professores que evocam a revolta do Maio 68 como uma luta inacabada. Algumas das comparações com os eventos dos anos 60 surgidas em 2005 após as contínuas greves estudantis no combate ao CPE (Contracto Primeiro Emprego) estarão possivelmente a realizar-se focando assim o facto de em 1967 terem havido vários movimentos de contestação que só viriam a culminar seriamente em 68 e agora um ano e meio depois dos meses atribulados de Abril e Maio de 2005, a revolta, ainda agora começada, passa da palavra à acção e parece querer prolongar-se.

- Entre os estudantes em luta estão vários estudantes estrangeiros de outros países da União Europeia. Casos de Itália, Alemanha e Portugal. A livre circulação na UE permitiu fazer da Europa um local de debate aberto e já por algumas vezes, desde que as greves começaram, embora de forma fugaz, foram evocados e postos em causa o sistema LMD também conhecido como Processo de Bolonha, e a autonomia das universidades. Mais difícil até agora de debater é a influência do sistema néo-liberal, da comunicação social, Bruxelas e todo o rumo que a União Europeia tende a tomar. Se a luta é contra Sarkozy na generalidade dos estudantes franceses, do lado dos estudantes estrangeiros parece estar inclinada para a reformulação de uma nova Europa anti-capitalista. As alternativas e propostas parecem escassas e por enquanto mantém-se em torno da lei da ministra Pécresse.

Visto que esta luta tem uma visão ampla e não só estudantil, não só francesa, italiana, grega, portuguesa ou alemã, e as greves dos desfavorecidos começam a ser frequentes por todos os cantos da Europa, é importante uma união contra estas políticas aculturadas que vão aparecendo e metendo todos os países no mesmo saco económico, reduzindo os cidadãos a clientes. Não esquecendo ainda a visão da política externa e colaboração com o governo dos EUA, o Iraque, o Afeganistão, a sociedade espectacular dos média (já há tanto anunciada por Guy Debord), etc... Além disso note-se também, que uma grande parte do proletariado europeu constituída por imigrantes estrangeiros, não se manifesta atiçadamente gerindo-se pela lei da boca fechada. O medo incutido por um pensamento do tipo "não estás no teu país; aqui damos-te trabalho; se não gostas volta para de onde vieste" leva os emigrantes a trabalharem mesmo com dificuldades aceitando todas as condições. A isto chamo eu "colonização interna", onde para capricho do europeu, se exploram as condições precárias de outros povos pela mão-de-obra, aumentando assim na Europa, por interesse dum regime vigente, um proletariado mudo que não pode revoltar-se pelo simples facto de ser estrangeiro. É pois, esta coluna aberta, um convite e apelo aos estudantes e jornalistas portugueses, a ajudarem a divulgar o que realmente se passa em França neste preciso momento, mesmo que pareça pequeno em comparação aos combates da América do Sul ou África. Por algum ponto as coisas têm de mudar. Em Portugal temos propinas que aumentam todos os anos porque não lutámos a tempo. O salário mínimo é vergonhoso. Baixo poder de compra. Agora o espírito mole e praxista reina nas associações académicas. O ensino é pobre e em função dos interesses das empresas que os "patrocinam". Mas isso é reversível. Em França, por enquanto, os estudantes ocupam as universidades, só têm o apoio dos trabalhadores dos transportes públicos e professores, mas tudo parece poder alastrar-se aos bairros sociais, nascendo assim um verdadeiro bloco popular. Se as fronteiras estão abertas entres os países europeus não será assim tão difícil unir forças internacionais.

Estudante de Teatro na Univesidade de Paris 8

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Ataque à Democracia!!!


Mais um ataque violento à democracia e dignidade de quem trabalha, foi o que aconteceu com a repressão policial do piquete de greve na Valor Sul.
Vejam a notícia do Mudar de Vida e no Esquerda.
E ainda têem lata para falar da Venezuela...

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

UE, Quo Vadis?

"(…)a UE poderia ser já hoje, com reformas institucionais adequadas, o espaço privilegiado para pôr em prática políticas keynesianas coordenadas de relançamento económico e de regulação da finança, de harmonização fiscal e de convergência em termos de direitos sociais."
In Ladrões de Bicicletas

Uma coisa é certa, o espaço Europeu tem massa crítica capaz de sustentar um projecto sério de salvação do estado de bem estar social e de promoção de mais justas e solidárias relações internacionais (sejam elas, políticas, económicas ou sociais). Mais, hoje em dia ou um projecto dessa natureza é pensado à escala europeia ou é inviável à partida…

Mas a verdade é que já estive mais confiante na tese acima exposta. Porquê? Por tudo o que implica efectuar as “reformas institucionais adequadas”…
No chamado “processo de construção Europeia”, a edificação de um verdadeiro sujeito político sempre foi o acessório, a defesa de um modelo social solidário face ao ultra-liberalismo Norte-Americano não passa de retórica em flagrante contradição com as políticas adoptadas, desde o controle do défice até às novas legislações laborais. Uma suposta diferente postura no mundo, por oposição à agressividade dos EUA, é na verdade muito mais complementar ao Império sedeado em Washington do que, para dizer o mínimo exigível, alternativa.
Vivemos sob uma União Europeia, sob uma super-estrutura, que toma decisões que afectam de forma decisiva o nosso quotidiano, mas em que o cidadão não é tido nem achado. De facto, é a máquina perfeita para os governos nacionais externelizarem os custos políticos das medidas draconianas que tomam a favor do Capital. Que jeito dá um déficite de 3% para cumprir quando se quer privatizar os sectores do estado e impor cortes nos direitos sócias… É perfeito, os governos tomam as decisões no Conselho, depois vêem para os respectivos países dizer q tem de ser, são as regras da distante Europa…
Uma União Europeia que se apresente, que tenha a confiança dos cidadãos europeus, como defendido acima na citação, tem de ser democrática, com um parlamento e senado que legisle e nomeie um órgão executivo. Não esta entidade sombria intitulada Comissão, que decide e prepara a nossa vida e em nome de quem??? Mas quem é a Comissão??? Quem a nomeou para governar a nossa vida???
Uma União Europeia solidária deve estabelecer um salário mínimo europeu, direitos sociais mínimos e promover uma real mobilidade do trabalho dentro da União. Deve, no plano económico, coordenar a política de transportes e energia.
Uma União Europeia que exporte o seu modelo social só é possível se no palco internacional tiver uma voz, se não única, pelo menos coordenada e independente dos EUA…
Bem, tudo isto é o oposto do que existe actualmente, a partir daqui fazer as ditas “reformas institucionais” é uma tarefa digna de Hércules… Seguindo os actuais formalismos só com uma larga maioria de governos social-democratas honestos (e hoje em dia os exemplos que temos desse tipo de governos só existem na América-Latina) é que tal seria possível… Na verdade as “reformas institucionais adequadas” são de uma profunda radicalidade e de autêntica subversão do status quo existente. É herdar alguma da retórica do actual processo e construir algo, na sua essência, novo e oposto ao existente.
Para ser honesto, não me parece muito provável, que agora ou num futuro próximo a partir das actuais regras do jogo se consiga fazer um “upgrade” das instituições europeias e pô-las a funcionar de forma mais democrática, Keynesiana e independente… Como é que tal aconteceria? Como? Se existissem 20 Miguéis Portas à frente de 27 dos 20 países da UE actual talvez… Acham que antes disso “quem de direito” não iria bloquear este processo?
Muito mais provavelmente um governo que defendesse o tipo de União Europeia acima descrita seria expulso da União actual, pelo menos ficaria isolado, do que contagiaria os outros, mas que crise e abalo tremendo isso seria, que bela oportunidade para por o jogo às claras em cima da mesa…
Voltando ao início, independentemente da União Europeia realmente existente, que também tem aspectos muito positivos ( e basta pensar na catrefada de directivas europeias em defesa do meio ambiente que tivemos de adoptar e nunca o faríamos se não fosse a UE a impor…), qualquer projecto emancipatório viável tem de ser construído no espaço europeu e não apenas no reduto nacional, e qualquer projecto de união europeia ou será socialista e democrático, ou numa questão de tempo, será ainda mais totalitário que hoje em dia (a hipótese da implosão também não me parece do reino da ficção...).
Agora põe-se a questão de como é que se processará a implementação desse projecto emancipatório? Será possível sem uma grave crise das actuais instituições e eliminação de muitas delas? Será preciso que um ou um grupo de estados avancem sem os outros? Não é provável que no decorrer desta história alguns estados queiram, ou cheguem mesmo a romper com a União? Uma coisa é certa, vai dar muita confusão e alguns “estalos” por isso mesmo é fundamental:
- Ter um projecto simples mas com ideias chaves muito fortes, no campo da Democracia, do Económico-Social e de política internacional;
- Ter um sujeito político que dê corpo e força a esse projecto em todos os países da actual UE.

Bem talvez não esteja, no final de contas, menos confiante, mas mais consciente dos desafios que construir uma outra UE acarreta…

terça-feira, 13 de novembro de 2007

A Verdade Dói

E ao rei do estado espanhol sobretudo...

"Com a Verdade, Não Ofendo, Nem Temo..."

Video com resumo da Polémica

Já muito foi dito sobre o Clash entre Chavez e Juanito o We have caos in the Garden tem um post porreiro, o Ladrões tem um muito bom e este tb tá bem apanhado. Não podía ainda deixar de citar o Tirem as Mãos da Venezuela.

Já agora sobre as recentes manifestações estudantis contra Chavez consultem os seguintes txt do VenezuelaAnalysis.


Pro-Chavez Students Blame Opposition Students for Violence at University

Venezuela Accuses U.S. of Instigating Student Violence

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

VIVA A REVOLUÇÃO

Brutalidade, Transformação e o fantasma de Estaline





Antes de escrever este post li e comentei os textos do Miguel portas e Daniel Oliveira acerca desta efeméride, não concordando com tudo gostei de ambos e desde já cito as seguintes palavras do Daniel

E é aqui que chego à segunda parte. Mesmo moralmente, mesmo politicamente (já para não dizer do ponto de vista histórico), talvez tenhamos sempre de analisar um acontecimento da magnitude da Revolução de Outubro (o mais importante acontecimento histórico do século XX, a par com as duas guerras mundiais) pelas suas consequências mais profundas e não apenas pelas mais directas. Para lá da violência e da ditadura soviética, a revolução russa teve um significado muito mais profundo. Foi, de facto, a primeira vez na história que os trabalhadores, ou, para simplificar, os mais explorados entre os mais explorados, foram os protagonistas vitoriosos. O que veio depois sabemos. Mas o que aquela revolução provocou em todo o Planeta foi qualquer coisa de absolutamente inédito na história da humanidade. A esperança e optimismo que ofereceu a milhões de trabalhadores miseráveis permitiu uma capacidade de organização e de luta completamente novas. E isso, conjugado com a mutação que o Capitalismo viria a sofrer no pós-guerra e o simultâneo aumento de influência da URSS graças à sua vitória militar, acabaria por mudar toda a relação de forças nos confrontos sociais.
Se durante tanto tempo os trabalhadores conseguiram ir conquistando direitos, isso não se deveu a qualquer súbita generosidade do capital. Claro que a abundância do pós-guerra facilitou. Mas a organização dos trabalhadores e o temor pelo comunismo (que chegou a ser em quase todo o Ocidente uma corrente política fortíssima) foram decisivos. E basta olhar para a situação actual, em que vivemos em permanente crescimento económico e em sociedades de abundância mas os trabalhadores perdem direitos todos os dias e retrocedem décadas, para perceber o que significou aquela revolução em todo o Mundo. Não há como domesticar o mercado se o poder do mercado nada tiver a temer.
O que celebro aqui hoje não é, na realidade, a chegada do comunismo a terras russas. O que se passou nos 70 anos seguintes à revolução na URSS foi suficientemente trágico para tal não merecer grandes festejos. O que celebro aqui hoje é esse momento em que tudo pareceu possível e o que essa simples esperança fez pela dignidade de milhões de homens e mulheres em todo o planeta.



Dito e muito bem isto, chateia-me confesso, as críticas que geralmente suscita a Revolução, o seu carácter brutal e a tese do mal já inscrito na sua génese.

Os processos de transformação social não são uma matiné dançante

Todos os processos radicais de transformação social, não apenas as Revoluções, são brutais. Sem teorizar muito mais dou três exemplos de processos de transformação social que não resultaram directamente de revoluções:
- Introdução do Welfare state no Reino Unido e Europa ocidental no pós-guerra;
- Abolição da Escravatura, ou melhor, subordinação da Aristocracia Escravocrata sulista e exportadora de matérias-primas, face aos Industriais do Norte interessados no fomento do mercado interno (EUA);
- Modernização da Rússia no século XVII sob Pedro, o grande.

No primeiro caso foi preciso para erguer o chamado “Estado Social” um longo processo de luta das classes operárias e suas organizações no decorrer do século XIX (sobretudo segunda metade) e duas guerras mundiais, sobretudo a segunda, e a consequente eliminação do Nazi-fascismo. Isto não foi pêra doce, na II Guerra caíram 50 milhões de seres humanos e durante 5 anos nos países em guerra a vida quotidiana das populações foi subordinada ao objectivo de a vencer… Os Trabalhistas Ingleses em 45 derrotam Churchil, o herói da guerra, nas eleições exactamente porque quem a combateu, o povo Inglês, o fez na esperança que depois da guerra um novo mundo, mais justo e solidário iria ser construído. Verdade se diga que em larga medida o conseguiram… O facto de ter sido o exército vermelho a chegar a Berlim, Tito a libertar a Jugoslávia e resistência a libertar Paris, não foi indiferente para que no resto da Europa Ocidental se tenham seguido políticas semelhantes…Mas como tudo o que vale mesmo a pena o preço a pagar não foi pouco…

No segundo caso para que os EUA adoptassem, sem hesitações, uma política de fomento da sua indústria e abolissem a escravatura (uma espinha na garganta da republica desde a sua fundação), foi preciso uma brutal guerra civil, de todas as que travaram a que mais Americanos vitimou, que só foi vencida pelo norte após todo o sul ter sido posto a ferro e fogo, literalmente!!! A marcha do General Sherman de Atlanta até ao Mar, glorificada em canção, foi a de um anjo vingador que destruí tudo à sua passagem, qual Atila que por onde passa nem a relva volta a crescer.

Finalmente, na própria Rússia o processo de modernização e a inclusão sócio-politico-tecnica do Império Russo na Europa foi feito não só através de guerras com outras potências, mas com a eliminação, física, de todos os obstáculos à mudança, isto já para não falar no que custou ao povo Russo construir uma nova capital gloriosa nas margens do Báltico (ainda por cima aquilo era um pântano, eu imagino quantos é que lá ficaram…)

Os custos que se pagaram valeram a pena?



Se ao menos tivesse sido na Alemanha…

Por ter sido na Rússia, país pobre e atrasado, a Revolução ganhou um carácter despótico a que poderia ter escapado se tivesse ocorrido na Alemanha… É uma tese corrente, tenho sérias dúvidas… Se porventura a revolução tivesse eclodido na Alemanha o mais provável não teria sido um socialismo mais puro e imaculado, mas antes uma carnificina brutal que deixaria os combatentes da guerra dos trinta anos a corar…
Em certo sentido até eclodiu e o resultado do seu sufocamento foi o Nazismo, imaginem agora o que teria sido necessário para ela triunfar, que meios seria necessário ter empregue para derrotar a Social-Democracia aliada à aristocracia prussiana? O que teria sido preciso fazer para eliminar a oposição das multidões de combatentes ressabiados com a derrota Alemã… E está-se mesmo a ver a Burguesia Inglesa, Francesa, Norte-Americana, sobretudo a Norte-Americana, a assistir de balcão à Revolução Alemã Triunfante, estou mesmo a ver os EUA que entraram na guerra (e pouco sofreram, ponto importante pois estavam frescos para mais acção) para garantir que as dívidas dos Franceses e Ingleses tinham seriam pagas a estender o tapete vermelho a uma Europa Bolshevique…
A Rússia foi invadida por exércitos de 16 diferentes nações e os Brancos foram apoiados vigorosamente depois de muito sangue a escorrer pela valeta, prevaleceu a teoria do cordão sanitário, só rompido após a segunda guerra.
Face a uma revolução triunfante de Moscovo a Berlim não haveria cordão sanitário que aguentasse, como diria o outro, seria o “mata, mata”. Os horizontes do possível seriam muito mais largos, a força emancipadora muito mais irresistível, mas não se pense que iríamos escapar à Brutalidade, ela seria muito maior, como maior seria o desafio à ordem estabelecida. As amolgadelas que um combate ainda mais duro que o que, de facto, se seguiu a Outubro iriam provocar num projecto emancipatório desta envergadura são desconhecidas, mas que seriam muitas e bem profundas não tenho dúvidas…

Meios e Fins

Há alturas de ruptura dos velhos equilíbrios em que um novo reajuste das relações socias não é possível sem um grande grau de violência, nessas alturas já que de uma forma ou outra o preço a pagar será elevado porque não lutar por um mundo novo??? Mal comparado, foram mortos nos anos 50 mais de 500 mil Indonésios pela ditadura de Suharto e para quê??? O que é que o mundo daí recebeu se não miséria e opressão (que o digam os timorenses entre outros…)… Durante o “Terror” foram mortas em França (incluindo as vítimas da guerra civil e não apenas da guilhotina) cerca de 500 mil pessoas e uns anos antes nos EUA cerca de 10% da população (leais à coroa Britânica) saiu do país devido à vitória dos Patriotas… Não direi que foi justo os exércitos Republicanos do ano II (esse farol que para sempre iluminará a humanidade, desculpem mas não resisti…) terem dizimado a Vendeia a fim de eliminarem a oposição do exército Real e Católico ao novo regime, mas pergunto: A eliminação do feudalismo, a noção que no povo reside a soberania, a democracia, a liberdade enquanto valor fundamental, a igualdade de todos os cidadãos perante a lei, aliás, o próprio conceito de cidadania, a modernidade e tudo o que isso acarreta, foram conquistas desse ANO II e da Revolução Americana, que não foi pouco sangrenta. Será isto tudo comparável com o que as chacinas que Franco ou Suharto produziram?
Pois é, os fins justificam os meios? Os fins serão todos iguais? Quem pode dizer que não há fins pelos quais vale bem mais a pena lutar e morrer do que outros? Sobretudo quando já sabemos que de uma forma ou outra iremos lutar e morrer…

Talvez desistir… Ou entre a realidade e as boas intenções

Ou talvez face aos desafios em vez de responder o melhor seria desistir à partida? Talvez em vez de tomar a Bastilha à procura de armas para se defenderem do exército real que se aproximava, os cidadãos de Paris deveriam ter deixado o Rei dissolver a Assembleia Nacional e deixar o projecto de uma constituição ir pelo cano… Ou talvez aquando da divulgação do manifesto do duque de Brunswick (que prometia arrasar Paris e os seus habitantes se não se curvassem perante o Rei e a Nobreza que havia emigrado) em vez de seguir Danton "Para vencer os inimigos, necessitamos de audácia, cada vez mais audácia, e então a França estará salva". deveria o povo Francêse os seus líderes terem cedido e pedido desculpas… Em 1918 acossada por inimigos internos e externos que respostas poderiam ter dado os Soviets e os Bolsheviques, a magnanimidade da Comuna? A descentralização anarquizante dos revolucionários espanhóis em 36? Ou pura e simplesmente desistir de transformar o mundo e entregar a Russia a um qualquer Kornilov?

Se eu vi mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes.

E é neste ponto que vou buscar a frase final do post do Miguel Portas, "Tenho os meus demónios, como a Igreja tem a sua Inquisição. Preciso deles e dos seus pesadelos, para nunca esquecer. Que ao menos nos sirvam depois de mortos…", como é óbvio Estaline não foi um pára-quedista que surgiu do nada e roubou a brilhante revolução a São Trotsky e São Lenine, é inquestionável que as chacinas dos Jacobinos não foram actos de justiça, nem a guilhotina atingiu apenas tiranos e reaccionários, então como saímos do dilema… Estará para sempre a humanidade condenada a cometer actos hediondos para alcançar um pouco mais de justiça e liberdade, as revoluções forjadas a ferro e a sangue irão sair sempre deformadas devido ao seu duro parto??? Em certa medida isso é inevitável, mas há a frase do Miguel e esta de Isaac Newton “Se eu vi mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes.” E aqui está o busílis da questão. Temos grandes gigantes que nos carregam, o ponto de que partimos hoje em direcção a uma vida mais decente é incomparavelmente superior ao ponto de que Jacobinos e Bolsheviques partiram e a eles devemos isso. E podemos ver mais longe, que tiremos das suas gestas heróicas as devidas lições, para saber os riscos que enfrentamos, para evitar os erros já cometidos, para perceber que o que hoje nos parece o mais certo, até inevitável, amanhã poderá ter custos incalculáveis… Não estamos condenados a percorrer o mesmo caminho, precisamos de inteligência, criatividade, muita coragem e confiança no poder e generosidade inigualável de um povo organizado e em luta, contudo, também não tenhamos ilusões… Podemos gerir a Brutalidade e Violência de forma melhor, mas dela não poderemos fugir até porque não a provocando ela não deixará de vir ter connosco…

Qu'un sang impur
Abreuve nos sillons !
Marselhesa

sábado, 3 de novembro de 2007

Muito Bom!


A não perder "We Have Kaos in the Garden"


MUDAR O MUNDO

Abaixo está o texto que escrevi para a IV Conferência de Jovens do Bloco, ia fazer uma coisa com dicas para a malta que está agora a pegar na coisa, com alguns alertas à navegação e críticas qb... Mas comecei a escrever a introdução e em pouco tempo até tinha ultrapassado os 5 000 caracteres regulamentares... Bom também é preciso saber pq andamos a fazer o que fazemos... As críticas e alertas mais explicitos ficam para a Conferência...

Mudar o Mundo

O socialismo não é uma utopia inalcançável. Só é preciso or­ganizar milhões de pessoas para uma nova política. Já não temos toda a vida para o fazer.
Francisco Louçã


Vivemos tempos conturbados… Guerra, catástrofes ambientais e alterações climáticas, retrocesso civilizacional em algumas partes do Globo, privatização de bens públicos como a Saúde, Educação, Água, Energia, Vias de Comunicação (estradas, caminhos de ferro, telefones…), destruição do Estado enquanto garante de um mínimo de equidade social com os cortes nos subsídios de Desemprego e Pensões, com o fim do crédito bonificado à habitação. As relações de trabalho são cada vez mais desequilibradas, cada vez mais, o Capital, o Patrão, pode mais frente ao trabalhador, por isso existe a precariedade, para isso são “modernizados” os códigos laborais.
Mas estes são também tempos de esperança e resistências, de construção de novas respostas a todos estes desafios, com toda a inteligência, criatividade, coragem e memória que só os movimentos populares organizados de massas podem ter.
Se olharmos em volta vemos alguns sinais… Em França, no coração da Europa, a população infligiu dois reveses ao Neo-liberalismo galopante. Primeiro com o Não ao tratado constitucional europeu e depois com a revogação do CPE (que pretendia liberalizar os despedimentos entre os trabalhadores mais jovens) conseguida através de manifestações gigantescas, ocupação de faculdades, greves e cortes de estradas.
Na América Latina surgem cada vez mais vozes a criticar os dictats do Império com sede em Washington, e mais do que isso, tendo como ponta-de-lança o processo revolucionário bolivariano na Venezuela. Ao nível do “poder de estado” muitas das receitas neoliberais aplicadas nos anos 90 e 80 estão a ser abandonadas. Estão em curso renacionalizações de vários sectores económicos, são adoptadas novas políticas de redistribuição da riqueza e o acesso à educação e saúde é universalizado. Criam-se novas Constituições, para romper com as instituições fantoche das oligarquias e promover formas de democracia directa.
Também no Médio-Oriente o Império é posto em cheque. Destaco a derrota histórica que Israel e os Estados Unidos sofreram na guerra do Líbano do ano passado, se o Irão ainda não foi atacado, em grande medida o deve ao efeito dissuasor que a vitória da resistência Libanesa (em que o Hezbollah não é o único actor) teve. No Iraque a retirada Norte-Americana está no horizonte… a acontecer (dependendo também da forma como ocorrer…) será um duro golpe para as ambições de controlo total da região por parte de Washington. O falhanço da invasão é em certa medida fruto do movimento anti guerra existente a nível mundial, mas acima de tudo da resistência, inclusive armada, do povo iraquiano face ao ocupante.
Os exemplos acima mencionados não fazem parte de um esforço único, coordenado, para reverter as políticas Imperiais e Neo-liberais, nem por si só são suficientes para alcançar esse objectivo. Refira-se ainda que no Médio-Oriente uma parte substancial da resistência à agressividade Norte-Americana é composta de movimentos de carácter profundamente conservador e até reaccionário.
Estes são novos tempos, com respostas inesperadas e até contraditórias ao rolo compressor do “Mercado” e do Império, é de qualquer das formas animador verificar que existem casos concretos de como não é inevitável termos de “apertar o cinto” e abdicar de direitos sociais para cumprir um mítico “défice” ou de como os planos para um New American Century estão prestes a colapsar.
Por cá, no chamado cantinho à beira mar plantado, os tempos de vacas gordas sob Cavaco numa primeira versão hard, e sob Guterres numa onda mais soft já passaram… Vivemos agora com o espectro da crise a assombrar todas as decisões… e que jeito que ela dá… Foi pretexto no Governo Barroso para a reforma do código laboral, o aumento de propinas ou os cortes à lá Ferreira Leite… A resposta popular foi dada (entre outras manifestações) numa greve geral e na contestação estudantil que deu origem à maior manifestação de estudantes de sempre. Nas eleições Europeias de 2004 a direita clássica, no governo, obtém o pior resultado de sempre (PSD e PP coligados não passam os 30%), pouco depois Barroso foge para Bruxelas e segue-se um interlúdio burlesco com o governo Santana Lopes… Eleito com base em promessas de 150 000 novos empregos e afirmando-se contra a “obsessão do déficite” o PS chega ao poder pela primeira vez em maioria… A máscara cai rapidamente, a nova direita, tal como o anterior governo, aproveita a crise para desmantelar o nosso incipiente estado social e remover obstáculos no caminho do lucro fácil das empresas… Cortes no investimento público, encerramento de unidades hospitalares e escolas, avanço das privatizações, etc… A contestação a este governo atinge níveis hà muito tempo não vistos, como o demonstra a recente manifestação da CGTP com cerca de duzentas mil pessoas, também a nível eleitoral os resultados são reveladores. Desde que chegou ao Poder o PS obteve um péssimo resultado nas eleições autárquicas de 2005 e nas presidenciais foi humilhado. Este é um governo apupado… Mas vai levando o seu projecto “contra-reformista” avante, como já referi a crise é uma grande oportunidade. Num recente número da revista “Economist” dizia-se que a Europa precisava de uma crise ainda mais forte do que a actual, para servir de pretexto para acabar de vez com o Estado Social. Cá em Portugal os “Jovens Turcos” do mundo empresarial aproveitam o clima e formam o “Compromisso Portugal”, querem mudar o país, na boca de um dos seus dirigentes, querem que no futuro deixe de haver trabalhadores para todos sermos “empresas individuais”… A concretizar-se, isso seria a subjugação total do trabalho face ao capital, uma empresa não tem férias, não tem subsídio de desemprego, não tem horário… Vale a pena referir o título do último livro lançado por este grupo, chama-se “Revolucionários”.

E nós?

Não basta o descontentamento popular generalizado com estas políticas para mudar de rumo… É preciso antes saber que rumo outro é esse e aqui é que está o problema. A política do Bloco tem de ser estruturada em volta da construção de uma resposta Socialista e progressista à crise. O Bloco tem de ser parte da construção de uma alternativa económico-político-social que salve as conquistas populares conquistadas nos últimos duzentos anos (da revolução francesa, à revolução de Abril…) e que por isso mesmo tem de ousar ir mais além… Não podemos de deixar de ser radicais, os desafios que enfrentamos exigem ir até à raiz dos problemas, não podemos ser meia-dúzia, temos de ser muitos e diferentes a pensar, a agir para transformar o mundo.
Para sermos parte de uma alternativa mobilizadora não podemos cair em sectarismos e preconceitos estéreis, nem nos acomodar à política do possível.
Se tudo isto é verdade para o Bloco no geral, ainda o é mais para o sector da juventude… Em boa altura realizamos a nossa IV conferência, é tempo de tomar decisões e aproveitar as vantagens que um momento de crise propicia.