quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Mensagem à Direcção do BE

Carta aberta aos aderentes, à Comissão Política e à Mesa Nacional


Lisboa, 5 de Setembro de 2007

Camaradas,

O Bloco de Esquerda afirmou-se nos últimos oito anos como a alternativa de esquerda quer ao social-liberalismo do PS quer ao derrotismo sectário do PCP. Tem sido uma força combativa e independente que congregou milhares de pessoas provenientes de tradições políticas muito distintas na construção de uma nova força de esquerda socialista e popular. O Bloco, em consonância com a sua escolha estratégica, escolheu a via de construção dos movimentos sociais, da mobilização e da representação independente de todos os que se defrontam com a ofensiva neoliberal.

A aplicação do neoliberalismo é hoje o grande combate da burguesia a nível global e a nível local. É a grande linha divisória que marca a fronteira entre uma nova esquerda combativa e popular e a esquerda que se entrega ao possibilitismo. Hoje nenhuma força política que pretenda representar os interesses da burguesia, e esse é comprovadamente o caso do PS, pode escolher outra via que não a do neoliberalismo.

É neste contexto que o acordo celebrado entre o BE e o PS para governar a Câmara Municipal de Lisboa se insere. Não podemos de forma alguma aplaudir as virtudes das seis propostas do Bloco esquecendo este contexto. Nem esquecendo que subjacente à implementação das seis medidas está a elaboração do plano e orçamento em conjunto com António Costa, o responsável pela Lei das Finanças Locais. O Bloco encontra-se agora numa aliança para governar a capital do país com o número dois do partido que tem sido o mais feroz promotor da doutrina neoliberal.

Por estas razões este acordo será uma fonte permanente de dificuldades para a afirmação do movimento. Achamos que o seu impacto, pela dimensão e importância política da CML, dificilmente ficará restrito ao nível local. Os nomes do Bloco e de José Sá Fernandes ficarão sempre associados ao conjunto das decisões deste executivo, incluindo as que sejam lesivas dos interesses da cidade ou dos trabalhadores da CML. Uma associação que para mais é facilitada pelo facto de o Bloco participar num executivo minoritário. É esse o preço a pagar por um acordo de governo. O risco de perda de independência do Bloco é sério e deve ser levado a sério.

O acordo entre o BE e o PS na CML confere um novo rosto à política nacional do BE. Daqui por diante o Bloco corre o risco de ser visto como um aliado do PS, e por conseguinte do Governo. Resta saber se esta visão é a pretendida pelos eleitores e militantes do BE. Resta saber se este acordo, ao deixar de fora putativos aliados do Bloco, e incluindo aquele que incorpora a visão politica que o Bloco pretende combater, não será desperdiçar uma oportunidade de agarrar o “eleitorado insatisfeito do PS”, tirando partido das, ainda que pouco consistentes, rupturas no seu seio.

Exposto o nosso ponto de vista sobre o acordo relembramos que a Mesa Nacional vai ser agora chamada a pronunciar-se sobre um facto consumado. Na prática o acordo entrou em vigor com a tomada de posse do eleito pelas listas do Bloco. Este é um procedimento que não pode ser repetido no futuro.

A procura de soluções para a cidade podia ser alcançada em articulação com a restante oposição de esquerda e com o próprio PS mas sem ter que sujeitar o movimento a um compromisso de longo prazo com o social-liberalismo. Com todos os problemas impostos por este compromisso, é fundamental salvaguardar a independência política do Bloco face ao PS. É determinante que a Mesa Nacional e a Comissão Política saibam manter a todos os momentos a coerência entre as políticas de Lisboa e nacional, sem sacrificar a política nacional, para que o Bloco possa continuar a crescer e a afirmar-se como a alternativa combativa ao neoliberalismo.

Saudações bloquistas

Rui Borges
Hugo Evangelista
Francisco Furtado
Lucas Manarte
Margarida Santos