quinta-feira, 26 de julho de 2007

Razões para celebrar


Têem passado muitas datas sem que eu nada diga... o 14 de julho (Tomada da Bastilha), o 4 de Julho (Revolução Norte-Americana), o 18 de Julho (Revolução Espanhola). Mereciam uma palavra e celebração, até porque julgo que uma das mais perversas formas de combate ideológico que o status quo utiliza é tentar fazer crer a quem luta por um mundo mais decente que a história é ingrata e feita de derrotas, que quem tentou mudar as coisas sempre falhou… é mentira! Celebrar estas datas é reconhecermos que houve lutas muito duras, mas se o mundo em que vivemos tem um pouco mais de justiça e qualidade de vida é exactamente porque essas lutas foram travadas e vencidas, repito, VENCIDAS! Pelas forças do progresso contra a reacção.
Hoje então é dia 26 de Julho de 2007, faz 54 anos que um grupo de jovens idealistas, num acto de valentia e romantismo tentaram, através do assalto ao quartel de Moncada, mudar o destino da sua pátria, da sua ilha para melhor…

Para mim a Revolução Cubana merece ser celebrada, não só pela frescura, inocência e vigor que trouxe a um movimento comunista que pelos anos 50 estava cada vez mais cinzento e institucionalista, não só porque foi um vento de esperança que soprou por toda a América latina… Mas também pelo que de concreto conseguiu.
Se Cuba não é um Porto-Rico um pouco mais rico é devido à Revolução. Cuba tem dos melhores serviços de saúde e educação do mundo. Cuba é o país do mundo que mais assistência internacional presta!!! Há milhares de médicos cubanos espalhados pelo planeta, sobretudo em África e na América-Latina a prestar cuidados onde mais ninguém vai. Cuba desempenhou um papel fundamental para o derrube do Apharteid, nomeadamente porque infligiu uma pesada derrota aos Mercenários e batalhões sul-africanos que tentaram conquistar Angola para a sua zona de influência. Cuba, nos dias de hoje, mais do que o tal sopro de esperança, é um estado que dá apoio concrecto e material aos povos e governos que a sul do rio grande tentam construir um caminho alternativo ao Império e ao neo-liberalismo.

Sim, já sei, a democracia e a liberdade de expressão e nhã nhã nhã… É verdade, o regime fez muitos erros, faz muitos erros, a própria revolução estaria mais vigorosa se a democracia fosse uma realidade mais presente no quotidiano do povo Cubano.
Mas também não sou cego… Para mim ser-se, como acima referi, o país que mais apoio internacional presta, é coisa que conta muito. Tal como o papel desempenhado a nível internacional por esta pequena ilha. Ainda para mais, num país que está há cinquenta anos sob cerco, que já foi alvo de incontáveis atentados terroristas na tentativa de desestabilizar a revolução em curso no país, é inevitável que se forme uma dura carapaça e se ganhem hábitos pouco recomendáveis…
Outra discussão interessante seria a de desfolhar os processos pelos quais a população Cubana tem uma palavra a dizer no dia-à-dia acerca da forma como o país e o seu quotidiano é organizado. Porque a democracia, o poder popular, vai muito para além da eleição de representantes a uma assembleia de x em x anos… Mas isto seria uma longa discussão e para a qual, confesso, estou pouco preparado…

Há ainda mais um aspecto que aflorei, mas que queria aprofundar… A Revolução cubana tem como um dos seus eventos simbólicos inicias o ataque ao quartel de moncada em 53… Passados alguns anos, em 56, outro histórico evento é o desembarque do Granma… Ambos são de uma ousadia, inocência (quase que diria ingenuidade…) e romantismo surpreendentes… Como é que 82 guerrilheiros vindos numa casca de nós poderiam ousar pensar que iriam assaltar o poder e mudar o rumo do país??? A verdade é que conseguiram… Não estavam sozinhos, a Revolução Cubana e o derrube de Batista, a expulsão da máfia parasita, foram obra de várias vontades e movimentos, mas que a guerrilha teve um papel crucial lá isso teve!

De modo algum devemos seguir o trágico erro em que muitos camaradas na sequência da revolução, sobretudo na América Latina, caíram… de pensar que para a fazer a revolução o melhor é organizar um grupo de indefectíveis ir para a serra mais próxima e montar uma guerrilha, na esperança que ela se torne um foco e factor polarizador da rebelião contra o regime existente… as aplicações mecânicas e ultra-românticas têm sempre um resultado (que pode por vezes ser belo…) desastroso!!!

Mas se à coisa que demonstraram os “Barbudos” é que para sermos bem sucedidos temos de ousar! Correr riscos! Um pouco de romantismo, assim como que uns pozinhos ao de leve para dar tempero ao movimento, é essencial (em quantidades excessivas tem efeitos terríveis…), sem isso não conseguimos alargar os limites do possível e a partir do existente construir um outro mundo. Fazer as continhas tácticas sempre na lógica de minimizar as perdas e os riscos, evitar sempre as batalhas que julgamos à partida ir perder, è a receita directa para a acomodação ao sistema, de abdicação de um projecto transformador… Se quisermos saber gerir o melhor possível as derrotas fazemos as tais continhas, se queremos vencer à que olhar, sem deslumbramentos e com rigor para o exemplo dos “Barbudos”.



Por tudo isto, VIVA A REVOLUÇÃO CUBANA!

PS – A propósito da questão da democracia deixem me que esclareça o seguinte: desde já assumo que qualquer regime que se intitule uma democracia tenha de ter um órgão do tipo Assembleia da República, ou seja, em que a eleição não seja corporativa, ou numa espécie de pirâmide em que os delegados do bairro elegem os delegados da cidade, que por sua vezelegem os da região, que finalmente elegem uma assembleia nacional, essa democracia filtrada é o covil da burocracia… Claro que sou a favor de órgãos locais de poder, assembleários e que essas assembleias devem tar coordenadas, agora paralelamente a isso é fundamental que exista uma assembleia nacional com representantes eleitos por voto directo e universal…

Vitórias da Resistência


Cerca de 250 presos palestinianos detidos em Israel foram libertados e recebidos em júbilo na Palestina. O governo, ilegítimo e não sufragado, da fatha na Cijordânia está à beira de receber apoios da “comunidade internacional”, como já não se via desde finais dos anos 90… até se fala na possibilidade de libertar Marwan Barghouti, o mais carismático dos líderes da Fatha…

São cedências ao campo palestiniano, por parte de Israel e dos EUA (com a UE a fazer uma triste figura seguidista), ou melhor a um dos campos, obviamente, na tentativa de encurralar os sectores mais comprometidos com a luta pela autodeterminação. No entanto, não deixa de ser uma cedência. Afim de conter o Hamas EUA&Cª são obrigados a vergar e finalmente ceder alguma coisa de concreto aos Palestinianos. Ainda é cedo para saber até onde irá este auxílio e qual a dinâmica que um proto-estado palestiniano tolerado pelo “Ocidente” irá gerar, no entanto algumas coisas são certas e este processo dá disso um exemplo paradigmático:

Ao contrário do que os Mandarins do regime proclamam, os EUA não são os únicos que podem obter cedências de Israel… bem, é um absurdo pensar que o estado que mais impulsiona a postura agressiva de Israel no médio-oriente seja aquele que num belo dia de verão decida que o melhor é agora reverter toda a sua política e force Israel a compromissos com os seus vizinhos. O que os EUA querem e largos sectores da sociedade Israelita (pois têem consciência que a sobrevivência de Israel enquanto estado confessional Judeu depende do desempenho desse papel) é que Israel seja um cão de fila do Império junto de todos os vizinhos Árabes, pronto a morder e ladrar a todos os que desafiem a ordem estabelecida imperial. Israel é um estado de colonos que vigia a região mais rica em recursos energéticos (fósseis) do planeta.
As cedências que agora vemos, a paz com os estados árabes (nomeadamente com o Egipto) no final dos anos 70, a criação da autoridade palestiniana nos 90 são tudo recuos de Israel obtidos não devido à “pressão” dos EUA mas devido às lutas travadas pelos povos da região contra o Império. As cedências actuais só acontecem porque há um ano Israel foi derrotado pela Resistência Libanesa, porque o Hamas ganhou as eleições e o boicote internacional ao governo democraticamente eleito e todas as tentativas até ao momento para remover o hamas do poder falharam! Só houve uma autoridade palestiniana porque houve a Intifada e 30 anos de luta pela libertação… O Egipto só recuperou o território perdido na guerra dos 6 dias e conseguiu obter a paz de Israel porque na guerra do Yom Kipur quase derrotou os soldados do império.

Como sempre os detentores do poder só cedem quando a isso são forçados, mesmo que quem os a isso force não seja exactamente quem recolhe os frutos da redestribuição do poder.
Quanto a Israel, a mim parece-me que, a não ser que exista uma devastadora guerra imperial que vergue completamente todo o médio-oriente (e por arrasto o mundo), a médio-longo prazo tenha de cessar de ser um estado confessional judeu, a alternativa será a sua eliminação. De qualquer das formas este é um processo que está muito longe de estar terminado… Mas, repito, a questão é quantos mais conflitos terão de existir, quanto mais tempo terá que passar para que se perceba que Israel, na sua actual configuração, é um estado-nação insustentável a não ser pela força do medo que infunde aos seus vizinhos. E como diria Napoleão, não se pode governar um país sentado na ponta de baionetas, ou um antigo ditado chinês “pode-se conquistar a China a cavalo, mas não governá-la…” Portanto, o medo e a força militar são cartas que duram um certo tempo, não eternamente. Infelizmente muita luta ainda vai ser travada até que esta verdade inexorável seja reconhecida… Ficam a perder os árabes e Palestianos que muito ainda terão de sofrer para conquistar a sua auto-determinação, ficam a perder os Judeus que a longo prazo correm o risco de ser escorraçados, mais uma vez, da terra santa… Os primeiros estados cruzados na terra santa duraram pouco mais de 100 anos, este quanto durará???